Reflexão Histórica

Como era a sociedade no tempo de Jesus?

Jesus de Nazaré, ao assumir a natureza humana, compartilhou com o gênero humano de sua história. Essa foi marcada por aspectos religiosos, políticos e culturais. Assim, o Eterno entra no tempo em um lugar marcado por conflitos e turbulências em níveis religiosos e políticos.

O ambiente escolhido foi a antiga Canaã ou Palestina Romana que, na época, vivia sob a ditadura do Império Romano desde o século I A.C., quando foi invadida pelo general Pompeu. Esse império oprimia a população por meio de inúmeras imposições oriundas de diversos impostos, bem como pela cultura da violência, tornando muitos judeus como escravos e cúmplices de sua corrupção. O império era auxiliado por um exército bem formado, o que aterrorizava ainda mais a população. A sua pior ferramenta não era a espada, e sim a crucifixão.

Assim, no tempo de Jesus, a brutalidade fazia parte da vida cotidiana. Esse foi o lugar geográfico em que nasceu, viveu e morreu Jesus de Nazaré, fazendo-se participante das esperanças e dos sofrimentos do Seu povo.

Durante a maior parte de Sua vida terrena, Jesus viveu sob o domínio do imperador Tibério César (14-37 d.C.). As funções das autoridades locais da Palestina Romana eram distribuídas da seguinte forma: Pôncio Pilatos governava a Judeia; Herodes Antipas era o tetrarca da Galileia; e seu irmão, Filipe, tetrarca da Itureia. Os sumos sacerdotes eram Anás e Caifás.

Como era a sociedade no tempo de Jesus

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

A existência judaica se caracterizava principalmente pela religião. A presença dos grupos político-religiosos divergentes entre si era uma realidade proveniente de conflitos perduráveis entre as autoridades religiosas que compunham a história de Israel.

Quais foram as correntes religiosas?

No tempo dos Macabeus, por volta do ano 152 A.C., surgiram as correntes religiosas que perduraram no tempo de Jesus, inclusive, foi neste contexto em que Ele nasceu.

O que é claro ao nível dos princípios para aqueles que, com Matatias, ‘têm o zelo pela Lei e sustentam a Aliança’ (1Mc 2,27), é menos claro na prática: a fidelidade à Lei exige o fixismo absoluto? E se se admite uma evolução possível, até onde se pode chegar? Aí é que os grupos vão divergir” (c.f. SAULNIER; ROLLAND, 1983, p. 53).

Tais correntes religiosas atuantes no tempo de Jesus são conhecidas como: Saduceus, Zelotas, Fariseus, Essênios, Herodianos e Movimentos Batistas. Em síntese, caracterizam-se da seguinte forma:

Saduceus – Centrados no Pentateuco, desprezavam os escritos dos profetas. Negavam a ressurreição e apoiavam-se numa retribuição imediata e material. Atuavam também na política;

Zelotas – Conhecidos pela ortodoxia e pelo conservadorismo. Apoiavam-se na Lei e consideravam o Templo como instituição divina. Acreditavam que o extermínio dos ímpios tornava iminente a vinda do Messias;

Fariseus – Julgavam alcançar a salvação do povo judeu por meio da vivência da lei escrita e oral, lei essa que deveria ser aprofundada para lhes proporcionar maior piedade. Foram os piores adversários de Jesus no campo da doutrina;

Essênios – Caracterizavam-se como um grupo que buscava dedicar-se inteiramente a Deus e eram rigorosos às regras de pureza. Para eles a santidade de vida era mais importante dos que os holocaustos. Há indícios de que boa parte vivia em Qumrã;

Herodianos – Eram os partidários da dinastia de Herodes o magno. Estavam atentos a qualquer grupo messiânico que se opusesse ao poder Herodiano;

Movimentos Batistas – Conhecidos como seguidores de João Batista e, também, de Jesus, visto que seus discípulos também batizavam. Compreendiam que a salvação era para todos.

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Os Samaritanos não pertenciam ao judaísmo e não constituam uma corrente religiosa, porém, faziam parte da Palestina Romana. Além de observadores da Lei de Moisés representada no Pentateuco, mas não aceitam os demais livros do Antigo Testamento. Não reconhecem Jerusalém como capital religiosa e nem o Templo como o lugar central da religião. Para eles o Messias esperado não é descendente de Davi, o que contribuiu para aumentar ainda mais a tensão entre os judeus.

Neste âmbito político-religioso destaca-se principalmente a corte suprema religiosa de Israel conhecida como Sinédrio, composto pelo sumo sacerdote como presidente e por seus assistentes: os anciãos, os sumo sacerdotes destituídos, os sacerdotes saduceus, os escribas e os fariseus. Tinha como finalidade julgar as transgressões contra a lei, estabelecer a doutrina e controlar a vida religiosa. Esse Sinédrio, com um maior números de participantes, vivia em Jerusalém. Porém, constata-se que nas demais localidades da Palestina existiam pequenos Sinédrios e, entre os seus membros, um juiz.

O Templo de Jerusalém destacava-se como o centro religioso de Israel, reconstruído por Herodes, o magno, inaugurado em 515 A.C., após a volta do exílio dos Israelitas. A sua arquitetura mais sóbria que a de Salomão, estava dividida em compartimentos destinado às funções sagradas e de forma hierárquica.

Na participação das celebrações a divisão das pessoas era conforme as classes: sumo-sacerdote, sacerdotes, levitas, homens, mulheres e pagãos. Em certas ocasiões, especialmente nas festas da Páscoa, de Pentecostes e das Tendas, os judeus de todas as regiões costumavam fazer peregrinações ao Templo, para comemorar os grandes feitos de Deus, libertador do seu povo.

Os evangelhos nos mostram algumas visitas de Jesus ao Templo. Vejamos: Maria e José levam-no ao Templo para apresentá-lo ao Senhor (cf. Lc 2,22); por ocasião da Páscoa, quando Jesus tem doze anos, é reencontrado por seus pais instruindo os doutores da lei (cf. Lc 2,46); Jesus expulsa os vendilhões do Templo, também, por ocasião da Páscoa (cf. Jo 2,13-15); por ocasião da festa das Tendas, pelo meio da Festa, Jesus vai ao Templo e se põe a ensinar (cf. Jo 7,1-14).

Economia

Em nível econômico o Templo era fonte de comércio, visto que vendiam animais para os sacrifícios, objetos de grande valor, além de ser o lugar de cambistas. O sumo sacerdote ficava com a maior parte do lucro. Essa realidade comercial tornou-se um meio de corrupção principalmente para as autoridades máximas de Israel.

Como esses meios nem sempre satisfaziam os apetites do sumo sacerdote e os de sua família, às vezes, ele se servia de outros: apropriava-se pela força das peles dos animais degolados que deveriam pertencer aos outros sacerdotes; ia aos sítios roubar o dízimo que lhes é igualmente destinado. Ou usava a intriga, a chantagem e até o assassinato. (c.f. SAULNIER; ROLLAND 1983, p. 39).

As Sinagogas se destacavam nas cidades da Palestina Romana. Elas foram construídas pelos judeus depois da volta do exílio babilônico, e também tinham a sua importância por se tratar do lugar onde era formada a consciência e a piedade do Israelita.

Em termos da agricultura, o trigo; as figueiras; as oliveiras e as vinhas constituíam a base da alimentação. No que diz respeito ao âmbito industrial, destacavam-se as construções; a fiação e a tecelagem; a indústria do couro; a cerâmica; o betume e o artesanato de luxo.

Jesus traz uma nova proposta para o povo

Foi neste contexto que viveu Jesus de Nazaré, além de iniciar o Seu ministério, apresentando-lhes uma nova proposta de vida fundada no amor pela Verdade. Ao Seu encontro, o Nazareno atraía pessoas de todas as classes sociais e hierárquicas, pois trazia na Sua doutrina o selo da Verdade. Enfrentou constantemente adversidades por parte do judeus, principalmente por meio dos fariseus, e os vencia sempre pela força da Verdade, cunhando assim a separação doutrinal com os seus concidadãos.

De acordo com o filme “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, para as autoridades judaicas daquela época, o novo modo de vida apresentado por Jesus de Nazaré, significava uma grande ameaça. A veracidade desse filme mostra que essa nova forma de aprimorar as leis judaicas (cf. Mt 5,17-18), inflamou os “tidos” como “Doutores da Lei” que, tomados pela inveja, tudo fizeram para lhe oferecer o grau máximo da humilhação oferecido pelos Romanos por meio dos seus algozes: a crucifixão.

Verifica-se, portanto, que Mel Gibson demonstrou a Paixão e Morte de Jesus, também, do ponto de vista histórico. Pois retratou fielmente por meio da violência dos algozes, a cultura do Império Romano que se caracterizava por sua dureza, crueldade, violência e pela instabilidade política e religiosa.

Ainda no citado filme, pode-se constatar que as autoridades judaicas tiraram proveito dessa cultura violenta para causar a morte de Jesus, visto que não conseguiam com as suas maquinações calar a Sua voz e nem destruir Sua doutrina.

Assim, sob a autoridade de Pôncio Pilatos, o pragmático que lavou as mãos diante desse crime por medo de perder o seu alto posto, por meio dos algozes do seu império, depois de dura flagelação e outros tormentos, crucificaram a Jesus de Nazaré.

Portanto, conclui-se que esse foi o julgamento mais infundado e injusto da história humana, visto que Jesus foi o Homem mais inocente que passou pela face da terra. A história nos mostra que a Sua voz ressoa até hoje, e que nem os “gritos” da modernidade conseguem silenciá-la. Assim sendo, Jesus de Nazaré sai do tempo histórico e entra o Cristo.

REFERÊNCIAS

A PAIXÃO de Cristo. Direção: Mel Gibson, Produção: Mel Gibson, Stephen McEveety, Bruce Davey, Enzo Sisti. Roteiro: Mel Gibson, Benedict Fitzgerald,William Fulco. Roma: Cinecittá Studios, 2004. 1 DVD.
SAULNIER, Christiane; ROLLAND, Bernard. A Palestina no tempo de Jesus. Tradução de Pe. José Raimundo Vidigal. 5. ed. São Paulo: Paulus,1983.

Áurea Maria,
Missionária da Comunidade Canção Nova

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