Li esses dias a notícia de que profissionais de saúde que andavam de transporte público, em São Paulo, foram hostilizados a caminho do trabalho. Pessoas com medo da contaminação os ofenderam e, até mesmo, chegaram a arremessarem uma marmita na direção de uma técnica de enfermagem que, na ocasião, estava vestida de branco. Possivelmente, trata-se de um caso isolado. A maioria das pessoas reconhece que são justamente os profissionais de saúde que mais se expõem aos riscos pelo bem de toda a população.
Ocorre que, episódios como esses revelam o nível de tensão a que muitas pessoas têm chegado, a ponto de ver alguém que, claramente trabalha em seu favor, como inimigo, como ameaça.
No clássico da literatura “O Senhor das Moscas”, o escritor inglês, William Golding, conta uma grande metáfora que mostra como as pessoas reagem coletivamente ao pânico. O livro narra a história de alguns garotos que sobreviveram a um acidente de avião e foram parar numa ilha desabitada. De início, eles conseguiram estabelecer um nível mínimo de organização com três garotos assumindo a liderança do grupo. A tensão, contudo, foi crescendo, sob o medo de uma determinada ameaça externa e, então, eles esqueceram de que eram apenas crianças e passaram a viver sob crescente paranoia, desconfiando uns dos outros. O desfecho da história é brutal e trágico.
Jesus nos convida a viver a empatia
O Senhor das Moscas é um livro que permite muitas leituras e interpretações. Uma delas é o risco de nos fecharmos em nós mesmos, de cultivarmos o egoísmo. Quando fazemos isso, por qualquer motivo que seja, o caminho inevitável é o de deixar de ver o outro como pessoa, como nosso próximo, como um ser humano que merece nosso cuidado, respeito e amor, como Jesus tão bem nos ensinou na parábola do bom samaritano.
Possivelmente, o mundo nunca passou por uma experiência nessa escala, de tantas pessoas se verem isoladas, com medo de uma ameaça invisível que pode chegar até nós pelo toque de uma maçaneta, por um espirro da pessoa de trás da fila ou pelo recebimento de um troco no caixa de um supermercado. Sim, é, de fato, assustador.
Mas isso não pode nos desumanizar, fazer com que enxerguemos um inimigo em cada esquina. É tempo de empatia, de lembrarmos que Jesus nos convida sempre a olhar para o outro com amor. Foi assim com todos com quem Ele se encontrou: com o cego Bartimeu, a hemorroíssa, a samaritana, os dez leprosos, Zaqueu e tantos outros. Jesus não os enxergou como ameaças ou como meros obstáculos ao seu caminho, mas viu além, alcançou o coração de cada um, pois Ele sabia como ninguém que também por essas pessoas Ele iria morrer na cruz.
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É tempo também de obediência
Hoje, vivemos um tempo de poucos encontros. Por caridade, devemos ficar em casa o máximo possível, em obediência às orientações das autoridades para diminuir o risco de contágio. Isso não nos impede, contudo, de fazermos atos concretos de amor pelo próximo. Podemos começar rezando por eles. E são muitas as pessoas por quem podemos rezar, como os que estão na linha de frente: os profissionais de saúde, os policiais, bombeiros e demais trabalhadores da segurança pública, os motoristas de ônibus, caminhoneiros. Podemos rezar pelos infectados pelo coronavírus, pelos grupos mais vulneráveis, como os idosos, hipertensos, asmáticos. Podemos rezar também pelas autoridades para que sejam iluminadas pelo Espírito Santo e tomem as decisões mais acertadas. A lista não acaba.
Outra atitude é ir virtualmente ao encontro de alguém que sabemos que é mais solitário. Podemos ligar para aquele tio idoso, para o avô, ou mesmo para aquele amigo que mora sozinho e tem passado os dias sem ninguém com quem conversar. Pode ser que eles estejam precisando ouvir uma palavra de consolo, uma oração, um encorajamento.
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Pensamento coletivo
Por fim, uma atitude de amor bastante concreta é a de não comprar mais do que você necessita. Se você chegou a uma farmácia e encontrou oito unidades restantes de álcool em gel, é falta de caridade comprar tudo. Pense que outra pessoa também vai precisar, não só você. Isso vale para comida, para papel higiênico, para tudo.
Aquela pequena comunidade de garotos de O Senhor das Moscas sucumbiu porque eles não conseguiram parar de pensar somente em si mesmos. É uma história que nos ensina que sem a experiência transformadora com Jesus Cristo morto e ressuscitado, nós também sucumbiremos ao egoísmo que mata e destrói.
Invoquemos, portanto, o Poderoso Nome de Jesus, para que, em meio à pandemia, não nos esqueçamos de amar o próximo como ele nos ensinou.