sociedade corrupta

Corrupção: o Brasil que temos é o que queremos?

Sociedade brasileira e a corrupção

Os episódios da recente história de nosso país têm nos colocado diante de uma dura e cruenta realidade quanto ao aparato institucional do Estado Brasileiro: a corrupção está presente de forma sistêmica e histórica. Isso quer dizer que, independentemente das cores partidárias ou da inclinação ideológica de quem governa ou governou o país, para além de seus feitos e realizações, se olharmos bem, ela estará lá – a corrupção.

A palavra corrupção vem do latim corrumpere, que significa “destruir, estragar”. Portanto, onde a corrupção se instala, há a desfiguração do que foi originalmente pensado, idealizado e proposto. Tal como o pecado original desfigurou o homem, afastando-o do que Deus originalmente sonhou para ele, assim também a corrupção desvirtua os organismos, instituições e instâncias que deveriam se voltar ao bem comum da sociedade, e passa a favorecer, beneficiar e enriquecer alguns poucos à custa do sofrimento e exploração de muitos.

-Corrupção-o-Brasil-que-temos-é-o-que-queremosFoto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Como surge a corrupção?

A corrupção, como hoje ocorre na política brasileira, está em metástase. Mas como ela surge? Será que essa sombra recai sobre os homens bons e íntegros que se apresentam nos horários de propaganda política, no instante que são diplomados? Será que a política tem o “poder” de levar para o “lado negro da força” aqueles que até então eram puros de coração? Seria mais fácil se assim o fosse, mas não o é.

Os políticos corruptos são filhos ilustres de uma sociedade corrupta. E quando digo sociedade, quero dizer isso mesmo, sociedade. Todos nós fomos expostos a essa “radiação”. De forma silenciosa e homeopática, vamos sendo formados na aparentemente natural arte da corrupção, pois “quem quer rir, tem que fazer rir”. Os pais ensinam os filhos a mentir e a ter de levar vantagem em tudo. Na escola, aprendemos a furar filas e a fraudar as provas para termos melhores notas com menor esforço. As ações corruptoras e corruptíveis vão ganhando tons de naturalidade nas nossas relações. Corrompemos o agente de trânsito, para não levarmos a multa pela infração realizada; o atendente do posto de saúde, para ser passado na fila de atendimento; o professor da Universidade, para ser aceito no programa de pós-graduação… A lista, infelizmente, ainda seria muito, muito, muito longa.

Onde nasce a corrupção?

Voltamos à pergunta inicial de nossa reflexão: onde nasce a corrupção? Já vimos que não é em Brasília (DF) – muito embora lá seja seu templo por excelência, com a maior concentração de corruptos por metro quadrado em solo tupiniquim. Não é no ofício da política, pois esta, por definição, tem natureza nobre e necessária. A corrupção nasce, portanto, na desilusão e descrença de cada um de nós em fazer o que é certo, a partir das pequenas e mais simples coisas.

Há algum tempo, trabalhava em uma escola pública de Fortaleza (CE). Lá, fui surpreendido por uma frase pintada no pátio da escola a mando do então diretor, que dizia assim: “Seja revolucionário! Cumpra as suas obrigações”. É exatamente esse o antídoto para esse veneno, que é a corrupção: fazermos o certo pelo simples e necessário fato de que é o certo. Ações de honestidade, ética e moral farão com que, tijolo a tijolo, desconstruamos essa pirâmide nociva erigida em nossas instituições.

Exemplos internacionais nos indicam o caminho. O combate à corrupção em uma sociedade é uma iniciativa primeiramente dos indivíduos, depois abraçada pelo Estado como uma política de longo prazo, com ações de combate e prevenção, que levam em média três gerações, como foi o caso da Tailândia.

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Qual legado queremos deixar?

Cabe-nos, então, a pergunta ontológica sobre a nossa brasilidade: o Brasil que temos é o que queremos? Que nação queremos deixar para nossos filhos? Qual o nosso legado como povo para a humanidade? Não deixe para amanhã a mudança que você pode começar agora.

Objetivamente, em sua família, condomínio, trabalho, igreja, combata suas pequenas corrupções. Independentemente dos rótulos que os outros possam lhe atribuir, por você ser diferente, seja-o. Concluo recordando uma antiga história:

“Uma vez por ano, um homem chegava em uma cidade, subia no coreto da praça principal e discursava para as pessoas que por ali passavam, sem que ninguém lhe desse atenção. Fazia isso ano após ano. Um jovem que trabalhava em frente à praça, observando aquele ato, um ano foi até aquele homem e lhe perguntou: ‘Por que você insiste em vir aqui, ano após ano?’ Ele respondeu: ‘Venho falar às pessoas, para que elas mudem’. O jovem, então, retrucou: ‘Mas ninguém te escuta, ninguém liga para o que você diz ou faz’. Disse então o homem: ‘Eu sei, mas se eu me calar, foram elas que me mudaram’.”

Aguente firme, meu irmão. Você não está só. “O certo é certo, mesmo que ninguém o esteja fazendo. O errado é errado ainda que todos o façam.”