Depressão e fé

A fé deve ser uma aliada no tratamento da depressão

Uma das doenças mais comuns, nos nossos dias, é a depressão, que é o tema deste artigo. Vamos tentar desmistificar alguns tabus até hoje presentes na mente e no coração de muitas pessoas. São eles:

1. Um homem de verdade ou uma mulher forte não ficam deprimidos, pelo menos, não por muito tempo.

A verdade: depressão não é a manifestação de uma imperfeição de caráter ou de uma fraqueza humana. Aquele que está em luta contra esse distúrbio não é um indivíduo fraco ou emocionalmente frágil.

2. Uma fé sólida afasta a depressão.

A verdade: a crença de que religiosos não são “atacados” pela depressão e de que devem desconfiar de sua fé caso o sejam, é tão cruel quanto o primeiro mito relatado acima. Admite-se que padres, religiosos e pessoas altamente crentes e religiosas possam sofrer de pressão alta, diabetes, esclerose, entre outras enfermidades, e não se percebe que a depressão é uma perturbação grave da saúde tanto quanto os outros males citados. E o é até mais, tendo em vista que ela não afeta só o físico, mas toda a fisiologia do paciente, ou seja, todo o funcionamento do corpo, tanto na parte biológica como na mental. Percebendo esse aspecto da doença, podemos entender por que as pessoas depressivas sentem seu relacionamento com Deus se enfraquecer.

A fé deve ser uma aliada no tratamento da depressão

Foto Ilustrativa: KristinaJovanovic by Getty Images

 

Depressão é uma doença e precisa ser tratada com atenção

Tenhamos em mente que:

1. A depressão não é simplesmente um “mau dia”, mas sim uma grave doença mental;
2. A depressão não está associada à intensidade da fé. Qualquer pessoa pode se tornar vítima de suas garras hostis.

Sintomas

Três fatores se entrelaçam e podem determinar o surgimento da depressão. São eles:

1. Genética: a história familiar de pacientes depressivos revela que seus parentes biológicos sofrem ou sofreram de depressão, havendo, portanto, uma predisposição ao desenvolvimento da doença.

2. Estresse: tão comum em nossos dias, é uma força propulsora que, agrupada a outros fatores, pode desencadear a depressão. O estresse é potencializado por fatores tais como: baixa autoestima, preocupações financeiras ou profissionais, problemas de relacionamento, conflitos psicológicos e mudanças de vida significativas.

3. Tristeza: quando sentimentos como tristeza, solidão, rancor, pesar por perdas são guardados, estes vão se avolumando de forma a se tornarem tóxicos à nossa alma e ao nosso corpo. É como um vulcão que guarda dentro de si, até mesmo por séculos, substâncias destrutivas; e quando menos se espera, ocorre a erupção. No caso do ser humano, essas “substâncias” são as mágoas não resolvidas, as perdas não choradas e não reclamadas, que se avolumam e, de repente (às vezes, não tão de repente assim), transformam-se em doenças, como a depressão, por exemplo.

Não se isole diante da depressão

A depressão faz com que muitos desejos cessem, inclusive o de orar.

Os sentimentos de separação, isolamento e abandono, comuns na depressão, intensificam-se quando a pessoa sente que Deus está ausente. A alma sente tanto quanto a mente e o espírito. Embora a pessoa sinta um completo abandono, uma ausência de Deus, este se apresenta naquelas situações em que a pessoa se sente mais fraca, como canal de graça para o outro.

Como a depressão é uma doença, e grave, é necessário que seja tratada. O paciente precisa da ajuda de profissionais. Os médicos psiquiatras e os psicólogos são os mais indicados para tratá-la por serem especialistas no tratamento do aspecto fisiológico e psicológico das perturbações mentais. Justamente porque é preciso haver uma mudança de atitude.

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Encarar a vida assim pode ajudar os deprimidos a saírem dessa condição:

– A prioridade número um de minha vida tem que ser minha recuperação;
– Neste momento, estou necessitado de ajuda;
– É necessário que eu me permita lamentar, de maneira plena e desinibida, as perdas que sofri durante a vida;
– É necessário que eu me permita ficar irado;
– É hora de parar de me castigar por falhas reais ou imaginárias;
– Sou mais do que aquilo que realizo, tenho meu próprio valor;
– Devo evitar que meu trabalho venha a se transformar em meu senhor;
– Reconheço minhas limitações. Posso ser instrumento e canal da graça e da cura de Deus, mas salvar pessoas é algo que pertence ao domínio exclusivo de Deus;
– Possuo controle sobre algumas áreas, não é possível controlar tudo e todos;
– Preciso de mais companhia e menos isolamento;
– Preciso parar de ser tão inflexível comigo mesmo.

Deixemos os paradigmas

Deixemos de lado os paradigmas de que depressão só ataca pessoas fracas e sem fé. É obrigação nossa, como seres humanos e cristãos, estar sempre atentos em relação às nossas reações físicas, pois o corpo fala, dá-nos sinais de como está a nossa saúde mental e espiritual. Por essa razão, fiquemos também atentos às pessoas que estão ao nosso redor e nos procuram, pois podem estar sofrendo caladas, esperando uma abertura de nossa parte, nem que seja uma pequena “fresta”, para falarem de seus sentimentos e suas dores.

Mara Lourenço
Missionária da Comunidade Canção Nova