Sociopolítico

Ano eleitoral desafia a sociedade à reflexão

Dom Walmor traz uma reflexão sobre os desafios do ano eleitoral

Situações muito complexas no ambiente sociopolítico emolduram este ano de eleições, com riscos de fracassos que poderão afetar ainda mais seriamente as dinâmicas da sociedade. O quadro de candidaturas não é promissor quando se toma conhecimento dos cenários que estão se configurando nos municípios todos, dos maiores aos menores.

Quando não se investe em líderes lúcidos, capazes de priorizar o bem comum e agir com a velocidade indispensável para solucionar graves problemas, paga-se alto preço. Por isso, é fundamental que todos os cidadãos se comprometam com o processo eleitoral, interessando-se pelo assunto, superando o consequente desânimo que se abate sobre o conjunto da sociedade, em razão das derrocadas e desarticulações ocorridas, especialmente nesses últimos anos. “Virar as costas” para o processo eleitoral é um risco, pois favorece os “aventureiros”, as escolhas inadequadas. Desconsiderar a importância das eleições significa menosprezar a força que só o povo tem, de exigir dos políticos novas posturas.

Ano eleitoral desafia a sociedade a reflexãoFoto: Arquivo/cancaonova.com

A direção correta é a participação clarividente em discussões e reflexões sobre política. A dedicação a esse tema pode promover uma participação popular mais adequada, com a adoção de critérios que favoreçam as eleições destituídas de emocionalismos e, sobretudo, dos interesses partidários e cartoriais que têm marcado o modo de fazer política no Brasil.

O papel do cidadão na política

Nesse sentido, corrigir as dinâmicas que definem o universo da política é um modo eficaz de debelar a corrupção, freando interesses pequenos e grupais que prejudicam o bem comum, o equilíbrio social e econômico. Por isso mesmo, as igrejas, as escolas, a mídia, os segmentos culturais e artísticos, associações e grupos organizados da sociedade civil, de todo tipo, têm o dever de se mobilizar para que o ano eleitoral não seja marcado pela apatia dos cidadãos.

Vale lembrar o que ensina o Papa Francisco: para o cristão é uma obrigação envolver-se na política, não se pode lavar as mãos como Pilatos. O Santo Padre afirma que “devemos nos envolver na política, pois a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum. E os leigos cristãos devem trabalhar na política”. Francisco ainda apresenta a seguinte argumentação: “Você, então, me dirá: ‘mas não é fácil, porque a política está suja’.

Então, eu pergunto: a política está suja por quê? Não será porque os cristãos se envolveram na política sem o espírito do Evangelho? Faço-lhe outra pergunta: é fácil dizer que a culpa é de outro, mas o que eu estou fazendo? Trabalhar para o bem comum é um dever do cristão”.

Sem o envolvimento cidadão de todos não será possível alcançar as metas de um país democrático, economicamente justo, socialmente igualitário, sem corrupção, sem violências, discriminação e com oportunidades iguais para todos. Por isso, não se pode abdicar da participação na política.

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É preciso ir aonde está sujo para limpar. E a etapa que precede as eleições, as campanhas eleitorais, é de grande importância para que o voto seja escolha adequada. Para votar bem, é imprescindível conhecer os programas dos partidos, os candidatos e suas propostas de trabalho. Oportuno lembrar também que o dever cidadão não se esgota nas eleições, mas abrange outra fundamental fase: o acompanhamento dos mandatos, tecendo culturas e práticas que possam comprometer os governantes a estarem sempre a serviço do povo, do bem comum.

Muitas são as iniciativas que agora precisam entrar em cena para a mobilização participativa de toda a sociedade, com a promoção de debates, sabatinas, apresentação e assinatura de cartas-compromisso, relacionadas a causas relevantes para a comunidade. Ações que abrangem, até mesmo, a elaboração de projetos de lei fundamentados no bem comum, solicitando o comprometimento de candidatos, para que, de fato, essas iniciativas sejam incorporadas ao sistema legal. A democracia precisa ser fortalecida e as eleições municipais são uma “oportunidade de ouro”. Para aproveitá-la, é preciso sair da apatia, promover a participação, conhecer a vida dos candidatos, avaliar se “dão conta do recado”, se têm competência humanística. Trata-se de um desafio, mas, ao mesmo tempo, de grande chance para reverter o quadro calamitoso da política brasileira, investindo em mudanças que já são tardias.


Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br