Virtude

Temperança: uma arma contra nossos impulsos

Para controlar os impulsos, é necessário somente esforço humano?

Ter domínio sobre os impulsos não é nada fácil. Inúmeras vezes, fazemos afirmações que nem sempre somos capazes de cumprir. É um doce que comemos quando estamos fazendo dieta, é um palavrão que falamos, é um julgamento errado que fazemos, enfim, são inúmeros os desvios de conduta que, infelizmente, todos os dias cometemos. Quando menos esperamos, estamos desacreditados de nós mesmos, de nossos bons propósitos.

Como é decepcionante cairmos nos mesmos erros, confessarmos quase sempre os mesmos pecados, vivermos como se estivéssemos em uma montanha-russa, ora em cima na busca pela santidade, ora embaixo, humilhados pelos pecados!

Créditos: demaerre by Getty Images

Porém, para vencer esses maus hábitos, é necessário uma virtude chamada “temperança”, em outras palavras, também conhecida como “sobriedade” ou “austeridade”, que é a virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados. Ela assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos limites da honestidade, ou seja, é o controle sobre nossos impulsos, apetites e desejos, conforme nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, número 1809.

A temperança nos conduz a santidade

Para se ter uma ideia da importância da temperança no caminho de santidade, Papa João Paulo II, em uma de suas catequeses sobre as virtudes, nos ensinou: “O homem temperante é aquele que é senhor de si mesmo, aquele em que as paixões não tomam a supremacia sobre a razão, sobre a vontade e também sobre o coração. Assim, a virtude da temperança é indispensável para que o homem seja plenamente homem, ou seja, o homem temperante, antes de qualquer outra coisa, respeita a própria dignidade”.

A temperança é, portanto, uma virtude indispensável para a maturidade do homem, pois é por intermédio dela que nos tornamos pessoas inteiras, capazes de retamente buscarmos a santidade.

Leia mais:
::Reciprocidade: vamos falar sobre troca de sentimentos?
::Deus nos criou para sermos felizes
::Existe uma saída para a obsessão?
::As sete táticas de ouro para uma boa conversa

Por meio da graça que venceremos os impulsos

Nesse processo, é importante reconhecermos a nossa condição humana, sobretudo, ter a sensibilidade de identificar nossas fraquezas, investigar as causas de nossas quedas, e não as temer, pois, na maioria das vezes, elas são mascaradas por prazeres. Por isso, muitos se tornam escravos dos desejos e não vencem o desafio da sobriedade.

Ainda nos ensina o Catecismo da Igreja Católica que, para chegarmos à plenitude das virtudes, sobretudo à sobriedade e temperança, é necessário assumirmos o dom da salvação trazida por Cristo, suplicando a graça necessária para perseverarmos na conquista das virtudes e sempre recorrendo aos sacramentos. Dessa forma, cooperaremos com o Espírito Santo no intuito de fazer o bem e evitar o mal.

Para vencer nossos impulsos, apetites e desejos, é necessário o esforço humano amparado pela graça de Deus. Com maturidade, reconhecer nossa condição humana e, a partir daí, darmos passos rumo a uma decisão sincera a favor da sobriedade, evitando todos os excessos. Assim, não seremos mais escravos, mas sim homens livres e inteiros, capazes de viver plenamente nossa condição de filhos amados de Deus, criados à imagem e semelhança d’Ele.

Ricardo Gaiotti
Advogado, Mestre em Direito Canônico pela Universidade de Salamanca (Espanha) e Mestre em Direito Civil pela PUC-SP