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Reconhecer o elogio não é uma questão de presunção

O olhar do outro pode ser complemento do nosso olhar

Nós não temos a capacidade de nos “perceber” como somos. Somos “tridimensionais” e não conseguimos nos ver nas três dimensões. Para tal é necessário óculos 3D.

Temos dois olhos, mas precisamos dos olhos do irmão, amigo, parente, mãe, pai, chefe, professor (…), eles são nossos formadores.

Nós não temos como nos perceber e analisar em um todo. Já nos acostumamos com nossas qualidades, limitações e até mesmo como nossos defeitos. O que temos de melhor já o achamos natural e o que temos de pior também. Quando somos vistos pelo outro e esse conversa conosco sobre o que fazemos, ou o que deveríamos fazer, podemos nos perceber de forma mais límpida. O amigo elogia, corrige, incentiva

Reconhecer os elogios não é uma questão de presunção-artigo

Foto ilustrativa: Paula Dizaró/cancaonova.com

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Fomos ensinados a não aceitarmos elogios

A cultura, em geral, nos ensina a não nos elogiarmos e fomos ensinados a ocultar a expressão das nossas qualidades. Podemos dizer como estamos feios, como somos burros e, assim por diante, mas não devemos falar como somos bonitos ou inteligentes. Se nos arriscarmos a fazer isso, seremos, no mínimo, tachados de convencidos.

E, também, quando somos elogiados pelos demais, muitas vezes, nos sentimos expostos e envergonhados. Ficamos ruborizados. O rubor é a demonstração real de que nos sentimos expostos. Eu poderia dizer que o elogio direto nos constrange, quando, por exemplo, alguém nos diz: “você é bonito” ou “você é o melhor no seu trabalho!”.

Ouvir isso é bom, embora as pessoas tenham várias reações diferentes, tais como:

“Eu sei que sou bonito, aliás, sou lindo, maravilhoso!”
“Minha mãe também acha”.
“São seus olhos”.
“Hoje, eu caprichei”.

Outras não falam nada, mas ficam tensas. Algumas ficam mais descontraídas, pois se percebem aceitas e amadas, criando fantasias afetivas com a pessoa que as elogiou.

Com relação ao elogio quanto à produção intelectual, como por exemplo: “Você é inteligente, capaz!”, também acontecem reações semelhantes:

“Bondade sua”.
“Sou apenas esforçado!”.
“Preciso de uma promoção!”.
“Posso ser melhor”.
“Olhe que não estou na minha melhor forma!”.

Quando os elogios são respondidos com desconfianças

Existem outros pensamentos associados aos elogios que chegam a ser inacreditáveis. Por exemplo, quando uma pessoa é elogiada pela sua competência ou é “paquerada”, “assediada”, “desejada” por uma de outro sexo. Dependendo da situação, ela deveria sentir-se reconhecida, valorizada, mas quando a sua autopercepção é negativa, ela acaba avaliando o outro de acordo com sua própria percepção, de modo que pode desvalorizar aqueles que a elogiaram: “Eu que julgava o ‘fulano’ inteligente, perspicaz. Ele não é tão bom assim. Nem percebe que eu engano bem. Ele não consegue ver o que realmente sou”.

É muito comum essa forma de pensar. Tanto que chega a ser “ilógico”, para alguns, pensar que seus familiares, que conhecem suas maiores falhas, os amem. E, realmente quem mais nos conhece, os quais também na convivência percebem as nossas dificuldades, limitações e fraquezas são os que mais nos amam. São capazes de elogiar a nossa transparência, e nossas quedas são vistas como algo natural de quem caminha, pois percebem o nosso desejo de recomeçar após cada obstáculo. Os amigos sabem que os erros fazem parte da caminhada. E quando necessário, também nos corrigem.

Autoafirmação como mecanismo de camuflagem

Quantas pessoas não têm amizades duradouras e íntimas, porque lutam para conquistar alguém, elogiam apenas como estratégia de conquista, e convivem tentando esconder seus defeitos e fazendo um marketing em cima das suas qualidades. Assim, não se tornam amigos na essência, é uma amizade na superficialidade. Uma amizade com mentiras e medos, de modo que, no dia a dia não se expõem, mas colocam sua atenção na descoberta dos “defeitos”, das “falhas”, das “fraquezas” do outro. E repetem para si mesmos: “Eu que achava que ele(a) era bom (boa), capaz, bonito (a), nem é tanto assim. Imagina o que vão dizer de mim andando com essa pessoa. Vou queimar meu filme”. Como fazem um marketing pessoal, não são capazes de ver e elogiar o outro. E sentem ciúme quando os outros recebem elogios.

A pessoa com dificuldade de autoaceitação não busca no amigo a convivência, o crescimento, busca no “amigo” uma condecoração de merecimento, uma referência do seu valor. Ela começa a se avaliar pelas pessoas que conquista, pelos elogios que recebe, pela sensação de ser insubstituível.

Faça uma autoavaliação sua. Você aceita correções? Você faz correções? Você elogia seu amigo com sinceridade? Você se elogia? Você aceita-se, hoje, no ponto em que está? Você aceita seu amigo, hoje?

Cláudia May Philippi
Membro da Comunidade Canção Nova – Segundo Elo