atenção!

Nossa língua não foi feita para falar qualquer coisa

“Ele deixou de novo as fronteiras de Tiro e foi por Sidônia ao mar da Galileia, no meio do território da Decápole. Ora, apresentaram-lhe um surdo-mudo, rogando-lhe que lhe impusesse a mão. Jesus tomou-o à parte dentre o povo, pôs-lhe os dedos nos ouvidos e tocou-lhe a língua com saliva. E levantou os olhos ao céu, deu um suspiro e disse-lhe: “Éfeta!”, que quer dizer “abre-te!” No mesmo instante, os ouvidos se lhe abriram, a prisão da língua se lhe desfez e ele falava perfeitamente. Proibiu-lhes que o dissessem a alguém. Mas quanto mais lhes proibia, tanto mais o publicavam” (Mc. 7, 31-37).

Abre-te! Foi a ordem que Jesus deu ao surdo-mudo! E, de fato, os ouvidos e a língua desse homem se abriram para ele falar o que ouviu de Deus. Ao mesmo tempo em que Jesus abriu a boca e os ouvidos daquele homem, ele lhe proibiu de falar algo, para mostrar que o dom de falar requer sabedoria de uso. Requer ponderação de oportunidade.

Nossa língua não foi feita para falar qualquer coisa. Fomos feitos para falar o que Deus nos fala ao coração. Do contrário, nossas palavras serão vazias ou cheias de nada, e elas mais cansam do que preenchem os outros. Aprendemos coisas e elaboramos boas ideias quando ouvimos bem.

Nossa língua não foi feita para falar qualquer coisa

Foto ilustrativa: lolostock by Getty Images

Falar o verdadeiro, o bom e o necessário

Na Filosofia, existe uma história que trata justamente sobre o saber falar: “As três peneiras de Sócrates”. Elas são o crivo para entendermos o que falar e quando falar: Um homem foi ao encontro de Sócrates, levando ao filósofo uma informação que julgava de seu interesse:

”- Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu!
– Espera um momento – disse Sócrates – Antes de contar-me, quero saber se fizeste passar essa informação pelas três peneiras.
– Três peneiras? Que queres dizer?
– Vamos peneirar aquilo que quer me dizer. Devemos sempre usar as três peneiras. Se não as conheces, presta bem atenção. A primeira é a peneira da VERDADE. Tens certeza de que isso que queres dizer-me é verdade?
– Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exatamente se é verdade.
– A segunda peneira é a da BONDADE. Com certeza, deves ter passado a informação pela peneira da bondade. Ou não?
Envergonhado, o homem respondeu:
– Devo confessar que não.
– A terceira peneira é a da UTILIDADE. Pensaste bem se é útil o que vieste falar a respeito do meu amigo?
– Útil? Na verdade, não.

Leia mais:
::Faça da sua casa uma casa de oração
::Testemunho: a vida vence a morte
::O exercício das “pequenas coisas” durante a quarentena
::Uma rede de intercessão vinte e quatro horas

Então, disse-lhe o sábio, se o que queres contar-me não é verdadeiro nem bom nem útil, então, é melhor que o guardes apenas para ti.”

Passando pelo discernimento do Espírito Santo e considerando esses três critérios, usaremos mais – e melhor – o dom da palavra. Entenderemos que o silêncio é eloquente e, fala melhor, quem fala algo bom, verdadeiro e necessário.

Quantos impulsos e tentações procuram conduzir nossa língua? Às vezes, travamos um verdadeiro combate espiritual na tentativa de falar o que é oportuno. É algo que exige treino e graça de Deus. É um hábito que vamos construindo aos poucos.

A escuta também é um dom

Para chegar à sabedoria do falar, é preciso o dom da escuta. Se, em diversas passagens bíblicas, Jesus repreendia aqueles que tinham ouvidos e não ouviam, é justamente porque a audição é um dom e, como tal, pede uma tarefa. Pede um esvaziamento de si, para se entender o que se ouve e a quem se ouve; pede uma presença para não se esvair de quem está falando; pede empatia para se colocar no lugar do outro, compreendendo o que ele diz e pede ainda o exercício de não se precipitar na fala, interrompendo o discurso de alguém.

É cada vez mais urgente escutar o que o Espírito Santo nos diz à consciência. Ela é o lugar onde Deus nos fala. E o Espírito, nosso Conselheiro, saberá nos dizer o que devemos falar, quando e de que maneira. Essa escuta anterior à fala é o caminho para romper com a precipitação, os desentendimentos e as confusões.

Sabemos que não é fácil escutar porque não basta calar a voz, precisamos silenciar o interior. É necessário nos esvaziarmos de nós mesmos para deixar a sabedoria entrar. O Senhor terá espaço para falar num coração vazio de si e de tantas vozes que insistem em gritar dentro de nós.

Agora, fica a pergunta: “Quem é mais feliz? Quem sabe falar ou quem sabe ouvir?”.

banner the church


Elane Gomes

Missionária da Comunidade Canção Nova desde o ano 2000. Professora de Língua Portuguesa, radialista e especialista em Comunicação e Cultura. Mestra em Comunicação e Cultura. Atualmente trabalha no Jornalismo da TV Canção Nova de São Paulo. Prega em encontros pelo Brasil e atua como formadora de membros da Comunidade. É esposa, mãe e trabalha também com aconselhamento de casais.