Embora o propósito deste artigo não seja tratar exaustivamente do tema “consciência crítica” sob a ótica da neurociência, da filosofia da mente e, nem mesmo, da psicologia, é preciso reconhecer que uma breve e informal pesquisa nos manuais de psicologia pode nos oferecer subsídios relevantes para compreendermos o tema com um pouco mais de profundidade.
Assim, considera-se a consciência como um produto das relações sociais que os seres humanos vão estabelecendo ao longo do seu desenvolvimento. Em outras palavras, é a apropriação, pelo homem, do mundo objetivo que o cerca. Nesse sentido, pode-se afirmar que é por meio das relações sociais que cada ser humano se apropria desse mundo cultural com suas diversificadas informações, objetos e significados já construídos ou trabalhados por outros seres humanos. A partir daí, cada ser humano atribui a estas bases de informações já introjetadas, o seu “sentido pessoal”.
A consciência crítica
Com relação ao pensamento crítico, este está mais ligado ao que seremos capazes de fazer com aquilo que fomos nos apropriando no decorrer da nossa existência, ou seja, ele se desenvolve à medida que vamos aplicando em nossa vida todas informações, dados, experiências que fomos tendo durante o nosso desenvolvimento.
Suponhamos que as relações que fomos desenvolvendo com os nossos pais desde a primeira infância foram nos conduzindo a pensar que eles eram as pessoas mais valorosas, íntegras e fortes que poderiam existir. Contudo, à medida que fomos crescendo, emergiu a consciência de que eles possuíam certas fragilidades, desconstruindo aquela primeira visão e, por conseguinte, construindo outra. Neste ponto, entra a consciência crítica que se pergunta: “O que farei com todas essas apropriações, velhas e novas, que experimentei ao longo da vida?”.
Diante desse quadro geral acima apresentado, é possível trilharmos algumas linhas de reflexão importantes. A primeira delas é que a nossa consciência crítica é passível de formação e mudança. Assim, ela pode ser bem formada ou deformada. O Papa São João Paulo II já havia nos exortado que “é preciso que se intensifique a ação direta na formação de uma consciência ‘crítica’”. Aqui, cabe da parte de cada um de nós um verdadeiro e cristalino exame de consciência!
O que estou fazendo para bem formar a minha consciência crítica?
O próprio Papa São João Paulo II nos apresenta um ponto de atenção. Já no ano de 1985, ele nos alertava, por exemplo, sobre os perigos que a “videodependência” poderia causar nas pessoas, especialmente nos mais jovens. Hoje, poderíamos ajustar o termo “videodependência” para “teladependência” ou, quem sabe, “touchdependência”. São João Paulo II já se preocupava com a grande influência que a carga desmedida de informação e de sugestões temerárias que os meios de comunicação social (atualmente, as redes sociais) poderiam exercer sobre as pessoas.
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Quem pode dizer, hoje em dia, que ele não estava certo? Quantos adultos, por exemplo, acabaram perdendo o bonde do amadurecimento humano e, por conseguinte, passaram pelo processo de deformação da consciência crítica. Esta deformação, a propósito, acabou por se tornar motivo de aplausos calorosos (ou de likes múltiplos) nas redes sociais. Exemplos é o que não falta, desde adultos frágeis e infantilizados até distintos senhores se propondo a pastelões estranhíssimos pelas redes.
Por falta de uma consciência crítica, tem-se exigido das crianças respostas e comportamentos adultos e, dos adultos, respostas e comportamentos infantis. O “bom” e “bonito”, hoje em dia, é o fato de as crianças terem que decidir, por conta própria, se nasceram menino ou menina. O fascinante, atualmente, é o adulto imitar animal numa banheira de chocolate. Eis os pontos de referências e os formadores de consciência que temos hoje. Que falta faz uma consciência crítica bem formada!
Diálogo consigo mesmo
O filósofo católico Louis Lavelle, em sua obra “O Erro de Narciso”, afirma que “a consciência, que é um diálogo com os outros seres e com o mundo, começa, portanto, por ser um diálogo consigo [mesmo]”. Em outras palavras, o próprio da consciência é fazer com que o homem tome posse dele mesmo e não se torne um joguete nas mãos de “players” globais ou sob a influência de qualquer maré.
Para finalizar, não poderia deixar de apontar para outros pontos de referência que podem ser seguidos e imitados com segurança por cada um de nós: os santos. Deles podemos esperar exemplos de comportamentos humanos elevados. Honestamente, não me parece razoável imaginar um São Padre Pio de Pietrelcina ou uma Santa Madre Tereza de Calcutá fazendo qualquer tipo de marmota para serem aplaudidos. Eles são, sem dúvida, os maiores formadores da nossa consciência crítica.