Em todo caso, é importante considerar que nem toda solidão é má, que deve ser curada ou reprimida, pois existem diversos tipos de solidão; alguns são benéficos e até mesmo necessários em nossa vida.
Para discernir isso, você deve se questionar a respeito da raiz da sua solidão, a fonte de onde ela emerge. Por exemplo, será que, mesmo sem perceber, você não está afastando as pessoas da sua vida por existir algo em seu comportamento que precisa ser trabalhado e curado? Às vezes, a solidão é consequência das nossas escolhas desordenadas justamente porque estamos sendo conduzidas por feridas e não por nossas livres escolhas.
Por outro lado, se mesmo em meio a muitas pessoas você continua se sentindo como “um peixe fora d’água”, não será porque está inserida em ambientes que não condizem com seus princípios de vida? Pode ser que você esteja forçando um estilo de vida que não tem nada a ver com o projeto de felicidade que Deus sonhou para você, com seus princípios familiares e até mesmo com seus sonhos, por isso você não consegue se “encaixar” nessa realidade. Ou, ainda, você pode observar se à sua volta existem pessoas solitárias que você pode acolher sendo presença e apoio, e, no entanto, está olhando só para si mesma.
Aqui vale lembrar que o amor que nos cura e nos realiza como pessoa é o amor que doamos, e não o amor que recebemos. Por último, mas não menos importante, você deve analisar se sua luta contra a solidão não é uma fuga da sua verdade.
Enfrente o desconhecido
A nossa verdade está no centro do nosso ser, e precisamos desbravar várias barreiras até chegarmos a ela. Ou seja, ela é o nosso “desconhecido”, e isso em muitos casos nos assusta, da mesma maneira que o medo de ficarmos sozinhas no escuro e o medo de monstros nos assustavam quando éramos crianças, por exemplo. No fundo, era o medo do desconhecido que nos assustava, e, em muitos casos, é o que continua nos assustando como adultas, pois temos medo, ainda que de maneira inconsciente, do nosso “desconhecido” interior. Assim sendo, como a solidão é a porta para adentrar nesse território inexplorado, acabamos criando mecanismos de defesa para fugir dela, como mergulhar no trabalho frenético sem pausas para viver de verdade ou curtir “baladas” sem fim. Lançamo-nos na busca desenfreada por dinheiro, diversão e sucesso, tudo isso tendo como raiz o medo de enfrentar a si mesma.
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O autoconhecimento da solidão
Como eu já disse, existe a solidão que faz parte do plano espiritual, e nós podemos superá-la nos relacionando com Deus de maneira mais profunda, mas também existe a solidão que faz parte de nossa essência, como explica Santo Agostinho: “Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em ti”.7 Podemos encará-la como oportunidade de crescimento espiritual, pois nos proporciona um “mergulho na alma”, onde nos deparamos com características talvez indesejáveis (é verdade), mas também encontramos dons e tesouros escondidos que só Deus, no silêncio da nossa quietude, poderia nos revelar.
“Deus encontra Seu povo no deserto, nas solidões repletas de urros selvagens. Ele o envolve, o instrui, vela sobre ele como a pupila de Seus olhos.” (Dt 32,10).
Não tema mergulhar no seu interior! É nele que Deus revela quem você é com amor, e isso faz toda a diferença, pois justamente esse amor incondicional de Deus nos cura da falta de aceitação de nossos limites e nos dá forças para seguir em frente com a certeza de que temos com quem contar. Aquele que é Perfeito nos ama com nossas imperfeições e não nos abandona quando vacilamos! Reconciliados com nossa verdade, ganhamos a paz, e assim Deus preenche o vazio de nosso interior e nos ajuda vencer a solidão ao lembrar que não estamos sozinhas.
Trecho extraído do livro “Você não está sozinha”, de Dijanira Silva