A alegria é algo essencial na vida humana. Conscientes ou não, o que mais buscamos em nossos dias, desde o nascer ao por do sol, é a alegria de viver. De maneira especial, na vida cristã, a alegria é fundamental, pois, seja o que for que dissermos sobre Deus, se não estivermos alegres, os nossos pensamentos e palavras não poderão produzir os frutos que desejamos. Daí, nasce a pergunta: como encontrar a alegria em meio a tantos desencontros neste mundo? Jesus veio nos revelar o amor de Deus, para que a nossa alegria seja a d’Ele, e assim seja completa. E a maior alegria consiste em saber que somos amados incondicionalmente e que nada neste mundo, nem mesmo a doença, o fracasso, o término de um relacionamento ou até mesmo a morte, pode nos privar desse amor, portanto, dessa alegria.
Naturalmente, somos levados a julgar que, quando estamos abatidos, não podemos viver a alegria; mas numa pessoa que tem a vida centrada em Deus, a tristeza e a alegria podem conviver. No nascimento de uma criança, por exemplo, a tristeza, a dor e a alegria parecem fazer parte do mesmo acontecimento. O desafio é identificar a alegria e saber optar por ela em meio, muitas vezes, às lágrimas.
Alegria e contentamento
O escritor Henri J. M. Nouwen, no seu livro “Mosaicos do presente”, faz uma definição interessante entre a alegria e o contentamento. Segundo ele, podemos nos sentir pouco contentes em relação a muitas coisas, mas, mesmo assim, a alegria lá está, porque provém da certeza do amor de Deus por nós. Para o autor, acolher essa verdade e dar-lhe espaço em nossos dias é uma escolha diária e é baseada na experiência do amor apaixonado de Deus por nós, no qual encontramos refúgio e segurança, do qual nada nos pode separar.
Já está mais do que provado que dinheiro e sucesso não fazem as pessoas alegres. Certamente, conhecemos muitas pessoas ricas, com sucesso em seus negócios, mas vivem também com ansiedade, medo e bastante melancolia. Em contraste, conhecemos muitos outros que são bem pobres materialmente, mas riem com muita facilidade e, com frequência, transmitem alegria onde quer que estejam. Recordo-me agora de uma casal de parentes meus que é assim.
A alegria em coisas simples
Materialmente falando, são bem pobres, mas todos nós da família fazemos questão de ir, muitas vezes, à casa deles, mesmo enfrentando todos os obstáculos da estrada e dos transportes que nos levam até lá. Moram em uma casinha modesta, num pé de serra bem distante da cidade. Eles têm três filhos, alguns animais e um pedaço de terra de onde provém, pela força do trabalho e das bênçãos de Deus, o sustento da família. Quando chegamos à casa, quase sempre passamos direto para a cozinha e é lá que começam a nossas festas mais animadas.
Em uma mesa larga, rodeada de bancos pesados de madeira crua, oferecem-nos o que têm de melhor em casa. O sabor genuíno dos produtos da terra se mistura aos sinais de delicadeza e acolhimento daquela gente simples, que parece não ter conhecimento da maldade. Enquanto nos alimentamos em família, entre uma prosa e outra, surgem rapidamente os primeiros risos, que são sempre seguidos de outros; em pouco tempo, mesmo ao longe, pode-se ouvir grandes gargalhadas.
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Esses meus parentes têm o dom da alegria e nos contagiam. Com suas simples histórias e interpretações dos fatos, arrancam até dos rostos mais sisudos o sorriso que estava escondido pelas preocupações da cidade grande. Sem perceber, o tempo passa e o dia termina. Voltamos para casa mais leves, mais felizes, sem nem nos perguntarmos o porquê, porém, já com a promessa de voltarmos à visita assim que possível. Isso acontece já há mais de trinta anos.
Não tenho dúvidas de que Deus está ali, naquela casa, em meio àqueles risos e gargalhadas. A alegria e o riso são dons que brotam do fato de confiar em Deus; assim sendo, saber que não vale a pena preocupar-se tanto com o amanhã, já que ele pertence ao Criador. Não há razão para romantizar a pobreza, e essa não é minha intensão, aliás, conheço-a de perto e sei bem o quanto ela é penosa. Mas quando vejo os receios e ansiedades dos que têm muitos bens, consigo compreender ainda mais as palavras de Jesus quando diz: “Felizes os pobres de espírito, pois deles é o Reino de Deus”. É certo, no entanto, que o problema maior não é ter sucesso e dinheiro, mas sim não ter tempo disponível para o encontro com Deus no presente e perceber Seu amor que se manifesta na simplicidade dos fatos, no aqui e agora.
Quando acreditarmos, verdadeiramente, que hoje é o dia do Senhor e que o amanhã está cuidadosamente guardado no seu coração, descobriremos o segredo da alegria, de reencontrar a calma e sorrir de novo para aquele que sorri também para nós. Podemos estender nossa mão e ajudar muitos a reencontrarem o verdadeiro sentido da vida. Podemos, mesmo em meio às lutas diárias, exclamar com voz forte e convicta: “Senhor, Tu és a minha esperança, Tu és a fonte da minha alegria!”.