O tema de abuso sexual é delicado por diversas razões. Uma delas é a dificuldade que, a pessoa abusada, sente em procurar ajuda, mesmo que o(s) episódio(s) de abuso tenham sido há muito tempo.
A triste realidade mostra que, a maioria dos abusos sexuais acontecem dentro da própria família, gerando ainda mais desconforto e constrangimento para tratar sobre o assunto. Pode ser que, o abusador seja uma pessoa carismática, agradável e, aparentemente, acima de qualquer suspeita; ou alguém que visite frequentemente a família e seja muito querido quando está por perto; por último, acontece muito de, o abusador, ser um dos principais cuidadores da criança ou adolescente, incluindo os próprios pais.
Em caso de abuso sexual, a pessoa abusada, precisa buscar ajudar em alguém que ela confie
Todos esses cenários apresentam grandes desafios para o abusado, principalmente, porque alguns pensamentos acabam deixando-o paralisado para falar sobre o assunto e, efetivamente, buscar algum tipo de ajuda. Na fantasia da criança, por exemplo, existe a crença de que ela é a culpada pelo episódio abusivo, recaindo sobre a vítima, o peso de uma responsabilidade que não é dela. Essa crença faz com que, o silêncio prevaleça diante da violência que é física, psíquica e emocional.
Há, também, a questão do prazer e medo que, em muitos casos, pode ser experimentado em algumas dimensões. A pessoa abusada pode sentir que recebe do abusador a atenção e o afeto que lhe faltam no ambiente familiar; também existe a postura do abusador que ameaça expor ou tomar atitudes que apavoram o abusado, deixando a vítima, refém dessa situação por muito tempo. Finalmente, há a questão do prazer sentido pela estimulação sexual, fato que acarreta, ainda mais, a culpa para o abusado.
Se você se identifica com alguma dessas situações, você precisa saber, antes de mais nada, que a culpa não é sua! Esse sentimento de culpa costuma oprimir por muito tempo as pessoas que sofrem abuso sexual, sendo um peso terrível e carregado solitariamente, por meses ou até anos em silêncio. Tal atitude acaba sendo uma escolha de autoproteção, uma possibilidade da vítima lidar com o seu segredo e tentar seguir adiante.
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Importância de falar sobre o assunto
Entretanto, deixar esses eventos traumáticos guardados “a sete chaves” só fará com que a dor cresça e se apodere das escolhas e comportamentos de quem sofreu esse tipo de abuso. Muitas pessoas criam verdadeiras barreiras diante de relacionamentos diversos, tentando utilizar a via de isolamento como uma forma de proteção. Outras, podem enveredar pelo caminho da promiscuidade e, inclusive, tornar-se um abusador no futuro.
Os profissionais da saúde costumam saber lidar com situações desse tipo, e podem ajudar a vítima de abuso, a enfrentar esse tipo trauma, para que as posturas de quem sofreu abusos sejam livres, autênticas, e não apenas reflexos das dores não curadas.
Buscar ajuda
O ideal seria que, logo após algum evento de abuso sexual, a vítima busque ajuda com alguém em quem confie e que não irá negligenciar seu pedido de socorro. Caso os pais não sejam emocionalmente acessíveis, talvez seja possível falar com algum professor ou médico que conheça, para contar o ocorrido. Quem recebe algum relato desse tipo, deve acolher a vítima com responsabilidade e envolvê-la num ambiente de acolhimento e segurança, sem diminuir sua dor ou negligenciar algo tão sério.
No caso de o abuso ter sido há muito tempo, o acompanhamento psicológico pode ajudar a vítima a compreender as limitações que haviam na época do abuso, entender que sofreu violências que foram além das suas capacidades de escolha e, finalmente, assumir que não foi culpada por nenhum episódio de abuso.
Visitar esses episódios pode ser desafiador, mas irá gerar movimentos na direção de um novo significado para os acontecimentos do passado e a possibilidade de seguir caminhando com os passos mais suaves. Pode ser que esse processo leve algum tempo, mas desvencilhar-se das cargas que a culpa impõe é extremamente gratificante e libertador, sendo possível reaver o brilho nos olhos e aquele sorriso de quem se vê em paz com a sua história.