Por uma sexualidade integrada

A comunicação humana se faz pelo corpo. Nosso corpo fala, é “sacramento” do que nos vai por dentro. Sentimo-nos felizes quando temos de nós mesmos uma experiência positiva de unidade interior que inclui necessariamente uma relação harmoniosa com o outro – mundo e pessoas. Sentir-se profundamente ligado ao outro é, no ser humano, uma experiência espiritual, que se exprime na palavra e nos gestos. Os sinais corporais de comunhão – o olhar, o aperto de mão, o abraço – são importantes: exprimem e alimentam o amor. O adulto sabe receber amor, mas não depende do outro para experimentar amor. É assim que Jesus se tornou para nós modelo supremo de humanidade.

Como dizíamos no artigo anterior: “A impossibilidade de experimentar-se positivamente em comunhão com os outros – experimentar amor – é a morte. Como se trata de um processo, nenhum de nós chegou à plenitude dessa experiência. Vivemo-la como caminho. Isto é suficiente para sermos felizes no tempo da história. Os vazios dessa experiência são assumidos como apelos a nela crescer. Donde a importância da esperança como certeza do acerto do caminho”.

No ser humano sexo, enquanto relação, exprime e comunica o que a pessoa vive. Deveria ser expressão de amor, manifestação da riqueza interior que se comunica ao parceiro e que tem a força de gerar outra vida. O que foge disso é perda de dignidade…”


Leia na íntegra em: – O sexo não resolve as insatisfações –


A relação sexual perde sua dimensão de grandeza quando se torna gesto de dominação: o macho subjuga a fêmea. A mulher se torna simples objeto de prazer, a serviço do homem no conjunto da vida. “Se é essa a condição do homem em relação à mulher, não vale a pena se casar” (Mt 19,10), exclamaram os discípulos diante da palavra de Jesus sobre a dignidade do matrimônio.

O sexo, quando é simples busca de prazer, ainda que acordada entre as partes, sem nenhum projeto de vida a dois, não gera verdadeira comunhão, antes se torna expressão de um vazio interior jamais resolvido. Em nossa cultura, fortemente marcada pelo hedonismo, o sexo é proposto como resposta ao desejo de vida que pulsa forte no coração humano. Mas a verdade é que nos momentos em que a boa experiência de ser alguém – pessoa – entra em crise, emerge forte o apelo ao sexo como resposta ao desconforto do momento. Crises prolongadas de identidade, ausência da satisfação no trabalho e na missão levam inevitavelmente a buscar no sexo a compensação. Donde a importância de educar para a castidade desde a infância, oferecendo, sobretudo aos adolescentes, uma reta compreensão do sentido da sexualidade e proporcionando-lhes um ambiente sadio, feito de compreensão e de sincera amizade.

Se a família e a escola não oferecerem uma sólida formação para a virtude, não teremos cidadãos capazes de sacrifício pelo bem comum. Mas, será possível apresentar aos jovens a castidade como parte integrante de um projeto de vida? É claro que é possível, desde que os educadores, eles mesmos, estejam convencidos da beleza da virtude. A castidade é parte da virtude cardeal da temperança “que tem em vista impregnar de razão as paixões e os apetites da sensibilidade humana”, conforme nos ensina o Catecismo da Igreja Católica (n.2341). Nenhum educador, em sã consciência, julga que se deixar levar pelos impulsos instintivos ou se dominar por paixões desordenadas possa ser fonte de felicidade para a pessoa.

Entretanto, há, em nosso país, uma campanha sistemática, com o intuito de prevenir AIDS e gravidez precoce, que passa a seguinte mensagem: “Pratique sexo à vontade, mas se cuide, use camisinha”. Aristóteles propôs, já antes de Cristo, a virtude como o caminho necessário para a construção da felicidade. E como a felicidade é aspiração de todos, o filósofo considerava ser tarefa da política procurá-la. Por isso atribuía ao Estado a missão de promover a educação para a virtude das crianças e dos jovens.

A sexualidade só é verdadeiramente humana quando inserida no horizonte da razão, da liberdade e do amor. Ela “comporta uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o ser humano comanda suas paixões e obtém a paz, ou se deixa subjugar por elas e se torna infeliz” (CIC 2339). A castidade é virtude necessária para casados e para celibatários. Ela dá grandeza à intimidade própria dos casais fazendo de suas relações íntimas verdadeira doação de amor e dá dignidade à continência sexual, tantas vezes exigida na vida do casal. É ainda o empenho por uma vida casta que prepara os jovens para o matrimônio, garantindo-lhes que a força que os une é maior do que a mera paixão que os atrai. Conter-se no tempo de namoro é abrir espaço para a emergência de um amor maior capaz de sustentar a futura união “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença” até o fim. Quando é a mera paixão o motivo do casamento, este tem duração fugaz: morre quando morre o “amor-paixão”.