Nos últimos anos, temos discutido sobre a atual crise da masculinidade e o perfil do homem do século XXI. Nos últimos tempos, o debate em torno da identidade masculina tem apontado para uma verdadeira crise da masculinidade do homem contemporâneo. Qual o perfil do homem do século XXI? O masculino estaria sendo colocado em xeque, pois estaria perdendo o sentido de sua própria identidade; passando a buscar um melhor autoconhecimento ou descrição de si?
O “novo homem” estaria em crise, uma vez que, não encontraria novos modelos para descrever sua nova condição masculina. Os reflexos dessa crise se devem a uma maior participação das mulheres no campo do trabalho, do avanço da tecnologia, no campo da sexualidade, na pluralidade de papéis e identidades sexuais, na redefinição do papel de pai, na maior preocupação com o corpo e com a estética , além da tentativa de manter e sustentar um modelo hegemônico único no papel masculino.
Reflexos do feminismo
Conforme Sergio Gomes da Silva, psicólogo clínico e especialista em sexualidade humana pelo Centro de Educação da UFPB, “a crise da masculinidade contemporânea se configura a partir de um conflito identitário vivido pelo homem. No nosso entender, esse conflito se constitui a partir de dois momentos distintos: primeiro, a partir da tentativa de se manter um modelo de identidade de gênero hegemônico e, ao mesmo tempo, pluralista, ora baseado em modelos tradicionais ora em modelos modernos de masculinidade; e segundo, a partir da impossibilidade de sustentar essa hegemonia no que se refere às subjetividades da maioria dos homens”. 1
Existe um modelo de masculinidade hegemônico? Uma masculinidade hegemônica? Para alguns autores, a crise da masculinidade contemporânea foi um reflexo do movimento feminista ocorrido no fim da década de 60, e levou alguns homens a buscarem um modelo que melhor conseguisse descrever suas subjetividades. 2
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Gênero
Podemos dizer que, outro sinal da chamada crise da masculinidade, estaria na compreensão de uma “feminilização do masculino”, ou seja, a compreensão de identidade sexual como sendo hetero, homo ou bissexual, nos dias atuais, já vem sendo questionada, entende-se por muitos que também há uma certa pluralidade de “tipos” sexuais, tais como o transexual, o travesti, o drag queen e a drag king etc., figurariam como identidades sexuais possíveis. Trazendo para o debate a concepção de gênero.
Nas causas da chamada crise da masculinidade também estão os grandes movimentos de desconstrução dos sexos, como o feminismo radical e a ideologia de gênero. A ideologia de gênero e a multiplicação dos sexos cria uma confusão sobre os papéis do homem e da mulher na sociedade, ou seja, que vai além da dicotomia homem/mulher.
Quando a criança, nasce não deve ser considerada do sexo masculino ou feminino; depois ela fará essa escolha. Essa é a chamada identidade de gênero ou ideologia de gênero. A identidade sexual resulta do modo que a criança foi educada, por isso, às vezes, é diferente da sexualidade biológica. Um dos objetivos dessa ideologia é eliminar as diferenças sexuais entre o masculino e feminino, que são determinadas por diferenças biológicas entre homem e mulher. A criança e o adolescente precisam fazer um caminho árduo de identificação com a figura masculina para se tornarem homens. O que acontece é que a ideologia de gênero vem e diz para esse adolescente e essa criança que eles podem ser o que quiserem, e isso confunde muito a cabeça dos meninos.
Qual a proposta?
No livro do Gênesis (1,26), lemos que Deus criou o ser humano à sua imagem e semelhança; o versículo 27 ressalta que “homem e mulher Deus os criou” (Gn 1,27). “Deus viu que tudo o que havia feito era muito bom” (Gn 1,31). Masculinidade e feminilidade são duas formas do ser e do ofício humanos. São duas formas de existência humana. Portanto, nascer homem ou mulher é um fato biológico.
No relato da criação do homem e da mulher, no Gênesis, vemos como Deus quis cada uma deles “por si mesmos” (cf. Gaudium et Spes, 24), o que constitui ambos imagem de Deus: ele na sua masculinidade; ela na sua feminilidade. Em Gn 2,25, “O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam”. Vemos que ambos têm a consciência do significado do próprio corpo, da sua masculinidade e feminilidade. Se é certo que há uma diferenciação sexual entre homem e mulher, salta logo aos nossos olhos a questão de como eles podem interagir, já que se subentende haver uma identidade própria que remete para a diferença. Na verdade, na relação interagem diferenças e semelhanças. Essas aparecem nos planos biológico, psicológico e sociocultural. O certo é que, na relação entre os dois sexos, concretiza-se o homem e a mulher, modalidades diferentes do mesmo ser humano.
Na troca complementar homem e mulher, ocorre uma interação na qual um complementa, supre o outro. Por exemplo, um trabalha, ganha o salário; o outro administra. Enquanto a mãe dá o seio para a criança, o pai prepara um lanche para o casal, e por aí afora (…). As duas formas de trocas são necessárias e mantenedoras do relacionamento, e o predomínio exagerado de um só tipo é perigoso e desagregador.
Três teorias
Tenta-se explicar a identidade e a diferença por meio das teorias da polaridade, complementaridade e reciprocidade. Pela polaridade, acentua-se as diferenças; por vezes até uma necessidade numa sociedade “unissex”. Pela complementaridade, acena-se para as deficiências ou incompletudes de cada lado; ninguém se basta a si mesmo, sendo constitutiva a relação. Pela reciprocidade, ressalta-se o caráter dialético dos sexos, havendo uma interação contínua entre o homem e a mulher, num processo de contínuo crescimento, já que nenhum dos dois pode se achar pronto ou acabado.
As três teorias parecem apontar para momentos reais de nossa vida, não esgotando nenhuma delas o rico dinamismo da identidade e diferença entre o homem e a mulher. A solução acertada é que, num primeiro momento (não temporal, mas dialético), cada sexo realize seus valores específicos, sem se deixar alienar pela consideração do sexo contrário. Num segundo momento, é necessário relacioná-los. E o modo de relação não pode ser senão o da complementaridade com vistas a uma unidade mais plena de valores.
1 “A crise da masculinidade: uma crítica à identidade de gênero e à literatura masculinista”. Psicologia: Ciência e profissão. v.26 n.1 Brasília mar. 2006.
2 Cf. Psicologia: Ciência e profissão. v.26 n.1 Brasília mar. 2006.