Não comemos nada de que gostamos, o ano inteiro, para não engordar; também não fizemos tudo que gostaríamos, porque precisamos passar um longo tempo malhando, e economizamos para fazer a massagem modeladora para conquistar aquela tão sonhada barriga negativa. Então, junte-se a nós, afinal, sem definir bem o seu abdômen, qual a probabilidade de viver o verão plenamente?
O enunciado acima não está explicito assim em nenhum lugar, mas o seu sentido é difundido pela nossa sociedade a todo tempo. Onde está, no entanto, o aspecto saudável da malhação? Isso é o de menos! Afinal, o importante é manter as curvas, a qualquer custo, nem que seja à base de laxante, antes daquela festa, para caber no vestido longo poderoso e cheio de fendas.
Eu me assusto com esse discurso, com a quantidade de gente recomendando, nas redes sociais, dietas e exercícios físicos para queimar o nosso “catupiry” (essa gordurinha abdominal que faz dobrinhas da barriga, sabe?) a qualquer custo. Assusto-me com a quantidade de #projetos a que as pessoas se submetem para ficar com um corpo “de praia”, e a profusão de dicas para manter as medidas em dia, muitas vezes, sem considerar a saúde.
Os que já são magros passam longe da atividade física?
Como a maior parte das mensagens fala sobre ficar magro, os que já são magros, muitas vezes, passam longe da atividade física. Boa parte vive de maneira sedentária, ignorando que o sedentarismo mata duas vezes mais que a obesidade, segundo estudo publicado, no fim de 2015, na “American Journal of Clinical Nutrition”, com acompanhamento de 334 mil indivíduos ao longo de 12 anos.
Corpo magro nem sempre é sinônimo de saúde
Você está cuidando do seu corpo ou negligenciando esse templo de Deus?
Um corpo magro nem sempre é sinônimo de saúde. Vejam o meu caso: sempre fui magricela, mas uma criança muito ativa, tendo no balé minha primeira atividade física. Passei muitos verões na natação, tentando aprender a soltar a pranchinha de isopor – que dificuldade foi desapegar daquele trem seguro e me jogar na água! Na adolescência, fazia aeróbica, ginástica localizada e fui jogadora de basquete do time da cidade (vai Formiga Tênis Clube!). Do alto do meu 1,67 m de altura e 40 e poucos quilos, eu era ala (sim, o basquete não pertence só às grandonas).
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Falso magro, como assim?
Quando entrei na faculdade, tentei nadar, jogar capoeira, mas, aos poucos, fui desaprendendo a encaixar a atividade física na agenda. Como continuava bem magrela, com IMC abaixo do considerado normal, entendia que, se não estava acima do peso, estava tudo certo. De lá pra cá, foram quase de 15 anos de sedentarismo, com algumas tentativas frustradas de recobrar o gosto pela atividade física e participar da semana de inauguração da academia do prédio, por exemplo. Esse ano, aliada às mudanças na minha vida profissional e pensando que depois dos 30 o corpo já começa a dar umas balançadas onde antes era durinho, procurei uma atividade que fosse em grupo, alguma coisa que eu pudesse fazer conversando; na verdade, algo que parecesse mais diversão e menos obrigação.
Achei uma academia perto, com horários flexíveis, e fiz a matrícula. Qual não foi minha surpresa ao fazer o exame médico e descobrir que, apesar desse aspecto de Olívia Palito, estava com quase o dobro do percentual de gordura considerado saudável para minha idade e peso. O profissional de saúde me explicou que eu era uma falsa magra, possivelmente por ingerir muitas gorduras e doces (como boa mineira, amo bacon, torresmo e uma goiabada com queijinho). Com a inatividade, meu organismo transformava tudo muito mais em gordura do que em músculo.
Movimentar-se para ficar com “tudo em cima”
Podemos pensar que só obesidade apresenta risco, mas um corpo magro pode também esconder problemas de saúde. Então, decidi fazer esportes aquáticos – hidroboxe e hidropower –, uma espécie de circuito com jump, bicicleta, step e outros aparelhos, mas tudo na água.
Na primeira semana, não consegui acompanhar o grupo de senhoras que praticavam as atividades no mesmo horário que eu, tamanho era meu sedentarismo! Bebia tanta água da piscina!, sufocava-me e quase nem conseguia boiar. Um vexame total! Não desisti, pois mesmo sendo a retardatária da turma, notei como meu sono estava melhor e como estava mais disposta para enfrentar a maratona cotidiana. Hoje, se falto um dia ao treino, já sinto uma falta enorme!
Aprendi que, independente do corpo parecer em dia por fora, é preciso movimentar-se para ficar com tudo “em cima” por dentro. Então, antes de pensar numa atividade física para ficar com um “corpão”, pense na sua saúde. O “corpão”, se você quiser, pode ser uma consequência.