Jesus nos contou de forma maravilhosa que Deus é Pai
A paternidade e a maternidade estão presentes em nossa natureza humana, e toda pessoa recebe esta missão, ainda que de formas diferentes. Ninguém nasceu para a esterilidade, pois todos nascemos para gerar, e não poderia ser de outro modo, pois somos imagens e semelhança de Deus, que é Pai e Mãe, ao mesmo tempo. Deus nos pede respeitosamente nossas entranhas paternas e maternas, como pediu à Virgem Maria, para continuar a gerar a vida. E é necessário que os homens assumam de forma madura sua forma de amar, para ser pais.
Foto: Daniel Mafra/cancaonova.com
No entanto a paternidade está em crise, o que leva à crise de lideranças maduras e corajosas no mundo. E quando faltam pais, idolatra-se a imagem de uma eterna juventude. Não basta ao homem gerar filhos, sem ser realmente pai. A ausência dos pais se expressa na ausência física, na ausência afetiva, com medo de expressar carinho e afeto e na ausência normativa, já que os pais devem claros em seus critérios sem receio de estabelecer limites.
Sejam homens capazes de amar com vigor e ternura, para que se estabeleça o adequado equilíbrio de relações entre as pessoas, a partir da magnífica polaridade entre homem e mulher, criada pelo próprio Deus.
Nas pessoas consagradas, o caminho é peculiar. No início, encanta-os ser irmãos. Depois, alguém os vê com traços de pai, e estes entendem ter recebido também a vocação paterna.
E isto dá um sentido bonito ao celibato. Para os padres, cujo dia foi celebrado há pouco, ser pai pastor é a oportunidade maravilhosa que Deus lhes presenteia para amar muitos filhos e filhas. Encanta pôr à disposição de Deus a sensibilidade, os afetos, a imaginação, a inteligência, a poesia, a beleza, a serviço do Espírito que gera vida em cada Batismo, Absolvição, Eucaristia, Confirmação, Unção, Matrimônio. Mas também para eles é longo o caminho para chegar a amar com gratuidade, pureza de mente e coração, sem pretender tomar posse e sem a rigidez que provém do medo de amar e ser amados.
No dia dos pais, com o qual se abre a Semana Nacional da Família, realizada em todo o Brasil, desejamos valorizar a vocação paterna e os muitos testemunhos encontrados em nossas Paróquias e Comunidades. Neste ano, o tema da Semana da Família é “O amor é a nossa missão. A família plenamente viva”. E a vitalidade da família quer ser por nós reconhecida a partir do exercício da paternidade, na vocação masculina de gerar vida, fundamental em nosso mundo e na Igreja.
Fomos todos chamados a amar. E este amor começa em Deus, que é sua fonte, sem o qual todo amor humano desfalece. Queremos convidar todos os homens a acolherem com coração aberto o fato de serem amados por Deus e por ele chamados a amar. Amar é dar a vida pelos outros, com clareza e firmeza. Não há maior manifestação possível de virilidade do que sair de si mesmos para fazer o bem, buscando corajosamente o bem dos outros, começando pela prole que os homens têm a graça de gerar, participando da obra criadora de Deus. Sua missão é feita de um olhar acolhedor para a paternidade do próprio Deus, e lhes cabe enfrentar as múltiplas dificuldades da vida com ousadia e firmeza.
O amor há de ser vivido na família, e nos voltamos hoje de modo especial para os homens que receberam a vocação da paternidade. Cabe-lhes, por fidelidade à vocação recebida, a iniciativa do amor. Dar o primeiro passo para edificar a família e buscar o trabalho que lhes possibilite prover às necessidades do lar. Para tanto, devem descobrir cada dia mais o sentido da gratuidade. Está na natureza humana a superação das relações de troca com preço. É magnífico saber que pais de verdade não cobram pagamento dos que lhes são confiados. Isso faz com que, por mais simples que sejam suas vidas, sejam pessoas totalmente entregues à missão recebida. Vivem um ofício de amor, com o qual acolhem a todos e preferem cada pessoa, conhecendo a esposa e cada um dos filhos. Permanecem no amor (Cf. Jo 15, 9-11), acompanhando cada um dos membros da família, fiéis e perseverantes. Acompanhar é permanecer no amor, prolongar no tempo e no espaço a acolhida e a animação. É a atitude de quem assume a posição de pai, com atenção e serviço.
Em Deus Pai, a acolhida é atitude permanente. Ele não só acolhe como é acolhedor. E isto aprendemos com o ensinamento e a vida de Jesus, que faz conhecer o Pai, começando dos noivos de Caná, até chegar ao bom ladrão do Calvário. Ele nos ensina a ser filhos do Pai celeste. “Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos? Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 43-48). A Família, Igreja Doméstica, tem como vocação ser o rosto de Jesus, de braços abertos e coração palpitante, com boas vindas escrita nos umbrais da casa.
E o “dono da casa” é chamado a ser sinal do Pai e do Filho, conduzido pela força do Espírito Santo. A Igreja Doméstica será de verdade uma casa de acolhimento na medida em que seus moradores acreditarem na força do Espírito que a ninguém nega sua presença e que a cada um acolhe no mais íntimo do coração, como “doce hóspede da alma”.
Justamente porque o mundo em que vivemos é frio e calculista e são muitíssimos os que se sentem sem apoio, queremos voltar “para casa”, reencontrando no lar, fundado no Sacramento do Matrimônio, a fonte de realização sonhada por todos. Neste dia dos pais, olhamos com gratidão para aqueles que já vivem com intensidade sua magnífica vocação e rezamos pelos que, tendo-a recebido de graça, ainda não descobriram toda a sua grandeza.
Nosso presente é dizer que são presente de Deus para nossas famílias!