Quando colocamos “camuflagens” sobre nossos erros, na verdade, desenvolvemos a capacidade de culpar os outros
Reconhecer que erramos é um ato digno de condecoração, pois, embora seja um gesto simples, mexe com o nosso brio.
A atitude de nos isentarmos daquilo que fizemos de errado é quase instintiva e, poderíamos dizer, surge num ato de autodefesa. Entretanto, ao contrário daquilo que poderia ser uma característica da perspicácia de alguém, traduz-se num ato nada honroso.
Percebemos ainda que tal procedimento tem feito parte da vida de muitas pessoas, e se não estivermos atentos a essa necessidade de mudança, facilmente poderemos, também, nos acostumar com o artifício da dissimulação.
Admitir o nosso “passo em falso” é expor aos outros a nossa fraqueza e limitação, as quais podem ser, muitas vezes, constrangedoras, especialmente pelo fato de termos tido o conhecimento das consequências e riscos de determinado gesto.
Lembramo-nos das nossas peraltices de criança, do medo da punição, imaginando a falta de compreensão da parte de nossos pais. Tentávamos nos esquivar das suspeitas ou, simplesmente, desviar a culpa para alguém inocente; nesse caso, o irmão mais novo ou um amiguinho.
No ato de alertarmos uma criança, por exemplo, do perigo de colocar o dedo na tomada, estamos tentando preveni-la sobre a possibilidade de receber um choque elétrico, mas isso não vai evitar que, na sua curiosidade, ela venha a fazê-lo. Contudo, na possibilidade de ela experimentar as consequências dos seus erros, o adulto a sentencia, culpando-a pelo ato, uma vez que já teria sido alertada.
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Como pessoas adultas, talvez o medo de uma punição para aquilo que seria o nosso erro, seja o fator menos importante que teríamos de digerir.
Certamente, de alguma maneira, articularíamos uma desculpa para justificar o “ato falho”, eximindo-nos de qualquer culpa. Ao contrário dos tempos de crianças, desta vez, nossos argumentos seriam muito mais elaborados.
Aprendemos com as nossas falhas?
Percebemos essas artimanhas quando acontece uma discussão de trânsito, seja por uma colisão ou manobra arriscada. Quase sempre, o motorista sai do carro justificando-se, acusando o outro como imprudente, mesmo que ele próprio tenha sido o causador do acidente. Pode parecer que tal atitude tenha como tentativa ocultar a vergonha de quem se julgava um exímio motorista ou acima da lei, ou seja, com “autoridade” para errar. Não obstante, mesmo dentro de nossas convivências, vez ou outra, podemos tentar inverter um fato para justificar aquilo que não pode ser justificável.
Costumamos dizer que aprendemos com as nossas falhas. Mas para que esses descuidos se tornem, verdadeiramente, um material de aprendizado, o primeiro passo para tal formação seria admitirmos nossa culpa ou erro, assumindo os fatos.
Quando colocamos “camuflagens” sobre as nossas falhas, na verdade desenvolvemos a capacidade de culpar a outros. Com isso, infelizmente, não nos preocupamos em evitar a reincidência do ato, mas em melhorar as táticas de defesas, ainda que essas venham a tornar-se cada vez mais sórdidas, sem medir as consequências sobre quem podemos estar prejudicando.
Um abraço!