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Episódio 1: A pobreza e a cultura do descarte

Caridade e indiferença: a inseparabilidade da fé

A fé cristã afirma, com firmeza, que não é possível amar a Deus e ignorar o próximo. Somos convidados a olhar de frente para a nossa indiferença. A caridade não é opcional, e Deus não se deixa vencer em generosidade por aqueles que Lhe servem nos mais necessitados, conforme recorda a exortação apostólica Dilexity, atribuída ao Papa Leão X.

Ignorar o clamor dos que sofrem não é apenas uma falha moral, mas sim um pecado de omissão contra o próprio amor de Deus. Um princípio fundamental estabelece que, se alguém possuir recursos deste mundo e vir seu irmão padecer necessidade, e ainda assim fechar-lhe o seu coração, o amor de Deus não pode permanecer nele.

Os múltiplos rostos da pobreza

Afinal, o que é a pobreza? A fonte afirma que os pobres não existem por acaso ou por um cego e amargo destino, muito menos a pobreza é uma escolha para a maioria deles. Contudo, ainda há quem ouse afirmar o contrário, demonstrando cegueira e crueldade.

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A primeira forma de pobreza que geralmente se menciona é a material. Essa envolve a luta pela sobrevivência, como a falta de comida e água. É considerada uma emergência à qual é preciso responder prontamente.

Pobreza cultural, moral e a falta de liberdade

A pobreza é, de fato, muito mais ampla do que se imagina. Além da carência material, o Papa Leão ensinou que a pobreza possui outros rostos, incluindo a pobreza cultural, a moral e espiritual, bem como a exclusão e a falta de liberdade. Com o avanço da sociedade, surgem também outras pobrezas. Ao tentar ajudar alguém a sair da pobreza, não se pode olhar apenas para a pobreza material, mas é necessário olhar para ela em todos esses aspectos.

A Doutrina Social e a luta por justiça

A desigualdade atingiu níveis alarmantes no século XX. Segundo o Banco Mundial, aproximadamente 69 milhões de pessoas ainda vivem em extrema pobreza, sobrevivendo com menos de 2,15 dólares por dia. A desigualdade é descrita como uma ferida aberta na humanidade que clama por justiça.

O legado da Rerum Novarum e o salário justo

A Doutrina Social da Igreja, iniciada com a encíclica Rerum Novarum (das coisas novas) do Papa Leão X no século XIX (durante a Revolução Industrial), buscou responder à situação terrível em que o povo vivia, sem direitos trabalhistas e trabalhando 13 horas por dia. A Rerum Novarum estabeleceu que é responsabilidade do empregador dar condições dignas de vida para o seu empregado.

Essa doutrina estimulou o diálogo entre empregados e trabalhadores, em vez da luta de classes. O Papa Leão X pediu que todos fossem justos e pagassem o salário justo que a empresa pode e deve pagar ao empregado. Desse movimento nasceram os direitos trabalhistas, a instituição de sindicatos, e benefícios como cestas básicas e planos de saúde.

O critério meramente econômico de utilidade

Nessa cultura, se uma pessoa produz economicamente, ela é útil; se não produz, é inútil e, portanto, é descartada. A cultura do descarte tenta dispensar pessoas consideradas inúteis, como idosos, crianças, pessoas adoentadas, os pobres e os desempregados.

A riqueza que vai além do material

O contrário da cultura do descarte é a cultura da inclusão, defendida pelo Papa Francisco. É crucial entender que a riqueza é mais ampla e maior do que a questão material. Por exemplo, um idoso, além de merecer descanso por ter produzido economicamente durante a vida, possui muita experiência e sabedoria para oferecer à comunidade.

A riqueza não pode ser classificada somente como material, mas sim por tudo que cada um pode oferecer dentro da sua condição. Por isso não pode existir a cultura do descarte, mas sim a cultura da inclusão.

Transcrito e adaptado por Rophiman Willian de Souza