Por tantas vezes, o trabalho parece-nos uma verdadeira punição, um julgo interminável e torturante. Certas pessoas até pensam o trabalho humano como o mito de Sísifo, no qual o homem carrega uma imensa pedra até o topo de uma montanha, mas, no fim do dia, quando está prestes a terminar a atividade, essa pedra cai rolando para o início. E assim dá-se em todos os dias de nossa vida. Entretanto, será que Deus pensou essa tortura para os homens? Para que serve o trabalho?
Este artigo pretende demonstrar o sentido do trabalho na vida humana e, principalmente, cristã. Para tal significado, nada melhor que verificar o livro de Gênesis, a fim de buscar as raízes de como as coisas foram criadas e pensadas por Deus. Ao comentar a Sagrada Escritura, o Catecismo da Igreja Católica (CIC), nº 378, diz o seguinte: “Sinal da familiaridade com Deus é o fato de Deus o colocar no jardim (252). Ali vive «a fim de o cultivar e guardar» (Gn 2, 15): o trabalho não é um castigo (253), mas a colaboração do homem e mulher com Deus no aperfeiçoamento da criação visível”.
O sentido do trabalho na vida humana
Deus acredita nas capacidades humanas e, por isso, confia a nós o aperfeiçoamento da criação. Concede a nós os dons de tamanha grandeza, para que a sua obra criada seja desenvolvida como se Ele mesmo a fizesse. Assim, põe cada um em seu “jardim”, um local segundo os nossos próprios dons recebidos, para que, ali, possamos desenvolver a nossa própria natureza e essência. Devemos recordar que essa natureza é a de filho de Deus, criados à imagem e semelhança d’Ele. Portanto, o trabalho honra os dons do criador e seus talentos recebidos. Não se pode viver como o servo da parábola que, ao receber seu talento, o enterrou (cf. Mt 25, 14-30).
Só você pode fazer a tua tarefa do teu modo e ninguém mais
Veja o que diz o CIC 2427: “O trabalho humano procede imediatamente das pessoas criadas à imagem de Deus e chamadas a prolongar, umas com as outras, a obra da criação, dominando a terra (170)”. Esse comentário refere-se ao livro de Gênesis 1,28: “Deus os abençoou: “Frutificai – disse Ele – e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra”. É possível notar a clareza da ordem dada, submetei a terra! Sem medo, sem receio e sem preguiça… Submeter, nesse caso, não é usurpar, mas é liderar a criação para levá-la à obra da perfeição. Estar acima da criatura pela dignidade dada por Deus, a fim de governar com Ele. Isso também não significa depredar, explorar ou qualquer ação negativa sobre a matéria.
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Elementos curativos do trabalho
O trabalho tem dois elementos curativos relacionados à nossa purificação, são eles: a união com Jesus e a penitência dos próprios pecados. Pode ser redentor pois suportando o que o trabalho tem de penoso, em união com Jesus, o homem colabora, de certo modo, com o Filho de Deus na sua obra redentora. Mostra-se um fiel discípulo e imitador, levando a cruz de cada dia na atividade a qual foi chamado a exercer (CIC 2427). O sofrimento tem esse poder expiatório para nós e para aqueles aos quais podemos oferecê-lo, por isso, o trabalho se revela como local da providência para tal atitude. Acima de tudo, bem vivido, é um grande caminho para a purificação de nossos tantos pecados.
O trabalho pode ser um grande meio de santificação e uma animação das realidades terrenas no Espírito de Cristo. Depende do modo com que queremos vivê-lo e nos esforçamos. É um ambiente propício para viver as virtudes que combatem os nossos vícios, assim como elevar as características mais naturais que temos, os nossos talentos únicos e irrepetíveis, pois só você pode fazer a tua tarefa do teu modo e ninguém mais.