Alegria

Santo triste é um triste santo

Santidade não significa andar encurvado, sisudo, demonstrando melancolia ou desânimo. A verdadeira santidade é a alegria, porque “um santo triste é um triste santo”, recorda o Papa Francisco em uma mensagem enviada por ocasião do quinto centenário do nascimento de Santa Teresa d’Ávila, celebrado em 2014. O tema da santidade foi reforçado recentemente com a publicação da Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate. O documento direcionado aos católicos tem algumas peculiaridades e foi escrito na segunda pessoa do singular, portanto, diretamente a cada leitor: mães e avós, donas de casa, trabalhadores liberais, trabalhadores manuais, estudantes, cientistas, agricultores, esportistas, professores.

O documento busca provocar nas pessoas o chamado à santidade, tocando em temas concretos e destacando que essa vivência não é exclusiva para padres e religiosos, mas a todos. O Papa Francisco aponta diferentes virtudes humanas, como a paciência, a mansidão, a alegria, a luta interior e o sentido de humor e, sobre esse último, decidi pontuar neste texto. Espero que você se interesse, caso contrário, ficarei mal-humorado!

Foto ilustrativa: Wesley Almeida / cancaonova.com

O santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor

Ser santo “não implica um espírito retraído, tristonho, amargo, melancólico ou um perfil sumido, sem energia. O santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor. Sem perder o realismo, ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança”, afirma o Papa.

Mas de onde vem a alegria? O segredo para acessar essa fonte está no Espírito Santo (Rm14, 17), porque “quem ama sempre se alegra na união com o amado”. Papa Francisco explica que é possível deixar “que o Senhor nos arranque da nossa concha e mude a nossa vida, então, poderemos realizar o que pedia São Paulo: “Alegrai-vos sempre no Senhor! De novo o digo: alegrai-vos!” (Fl 4, 4)”.

O documento recorda diversos trechos bíblicos que falam da alegria: “Exultai de alegria” (Is12, 6); “Sobe a um alto monte, arauto de Sião. Grita com voz forte, arauto de Jerusalém” (Is 40, 9); “Exulta de alegria, ó terra! Rompei em exclamações, ó montes! Na verdade, o Senhor consola o seu povo e Se compadece dos desamparados” (Is49, 13); “Exulta de alegria, filha de Sião! Solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém! Eis que o teu Rei vem a ti; Ele é justo e vitorioso” (Zc 9, 9); “Não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força” (Ne 8, 10).

A alegria é ensinada por Maria

A devoção a Maria ajuda na descoberta dessa espiritualidade alegre. “Maria, que soube descobrir a novidade trazida por Jesus, cantava: ‘o meu espírito se alegra’ (Lc 1, 47) e o próprio Jesus ‘estremeceu de alegria sob a ação do Espírito Santo’ (Lc10, 21)”. Os Evangelhos narram que quando Jesus passava, a multidão ficava alegre (Lc 13, 17). Após a Ressurreição de Cristo, a alegria era garantida por onde os apóstolos passavam (cf. At 8, 8).

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Tristeza pode se tornar alegria

Jesus advertiu que teríamos muitas tribulações, mas garantiu que nossa tristeza se converteria em alegria e que ninguém conseguiria tirar nossa alegria. “Existem momentos difíceis, tempos de cruz, mas nada pode destruir a alegria sobrenatural, que ‘se adapta e transforma, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados’. É uma segurança interior, uma serenidade cheia de esperança que proporciona uma satisfação espiritual incompreensível à luz dos critérios mundanos”, recorda o documento.

Francisco esclarece que alegria não tem nada a ver como consumismo ou individualismo. É que, segundo o Papa, “o consumismo só atravanca o coração; pode proporcionar prazeres ocasionais e passageiros, mas não alegria”. Em relação ao individualismo, o texto orienta que “o amor fraterno multiplica a nossa capacidade de alegria, porque nos torna capazes de rejubilar com o bem dos outros: ‘alegrai-vos com os que se alegram’ (Rm 12, 15). ‘Alegramo-nos quando somos fracos e vós sois fortes’ (2 Cor 13, 9)”

Santos bem humorados

O sentido do humor é bem visível na vida de alguns santos, como São Tomás Moro; São Vicente de Paulo; São Filipe Néri. “O mau humor não é um sinal de santidade: ‘lança fora do teu coração a tristeza’ (Ecle 11, 10). É tanto o que recebemos do Senhor ‘para nosso usufruto’ (1 Tm 6, 17) que, às vezes, a tristeza tem a ver com a ingratidão, com estar tão fechados em nós mesmos que nos tornamos incapazes de reconhecer os dons de Deus (…). Em cada situação, devemos manter um espírito flexível, fazendo como São Paulo: aprendi a adaptar-me ‘às situações em que me encontre’ (Fl 4, 11). Assim vivia São Francisco de Assis, capaz de se comover de gratidão perante um pedaço de pão duro ou de louvar, feliz, a Deus só pela brisa que acariciava o seu rosto”, afirma o Papa.

Oração do bom humor do Papa Francisco

“Como bom inglês, o mártir Tomás More valorizava o senso de humor. Acho que, se o temos para valorizar esta oração, é porque Deus também o tem como fonte de bom ânimo. Eu aprecio muito esta oração!”, disse o Papa Francisco a membros da Cúria Romana. Abaixo, a oração do bom humor:

Oração do bom humor

Senhor, dai-me uma boa digestão,
mas também algo para digerir.
Dai-me a saúde do corpo, mas também
o bom humor, necessário para mantê-la.
Dai-me, Senhor, uma alma simples,
que saiba aproveitar tudo o que é bom
e que não se assuste quando o mal chegar,
e sim, encontre a maneira de colocar as coisas no lugar.
Dai-me uma alma que não conheça o tédio,
nem os resmungos, suspiros e lamentos,
e não permitais que eu me atormente demais
com essa coisa incômoda demais chamada “eu”.
Dai-me, Senhor, senso de humor!
Amém.


Rodrigo Luiz dos Santos

Missionário na Canção Nova, Rodrigo Luiz formou-se em Jornalismo pela Faculdade Canção Nova. É casado com Adelita Stoebel, também missionária na mesma comunidade. Autor de livros publicados pela Editora Canção Nova.