Chegada na Terra Santa
Em fevereiro de 2024, vim remanejada para a missão de Jerusalém na Terra Santa. Por providência Divina, cheguei na terça-feira que precedia a Quarta de Cinzas. Sendo assim, eu viveria a minha primeira Quaresma na Terra Santa.
Claro que meu coração estava cheio de expectativa por tudo o que eu iria experimentar. Eu já imaginava que seria muito diferente, mas confesso que fui muito surpreendida – em alguns aspectos, positivamente; em outros, nem tanto, mas o saldo geral foi positivo sem dúvidas!
Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial / CHAT GPT
Remanejamento durante a guerra
Bem, começo partilhando que meu remanejamento para a Terra Santa aconteceu durante a guerra, que ainda está em curso. Por tanto, os sentimentos se misturavam por querer viver todas as experiências nos lugares santos, além a tensão, pois, a qualquer hora, as sirenes que comunicam os bombardeios podiam tocar. Posso dizer que eu não senti medo em nenhum momento. Mas essa tensão está sempre rondando, e isso, às vezes, é muito desconfortável.
De modo geral, na Canção Nova, os nossos remanejamentos são por causa da missão. Estamos aqui para realizar o nosso apostolado, e eu não estou peregrinando a passeio. Portanto, logo depois de chegar e ajustar o fuso horário, já começamos a realizar o nosso trabalho no Christian Media Center, responsável pela maioria das transmissões oficiais de muitos Santuários da Terra Santa, o que me garantiria a participação em todas as celebrações. Importante ressaltar que é justamente nesse período da Quaresma que temos mais trabalho, levando ao mundo, por meio da Internet, as principais celebrações. Isso me exigiu grande esforço para poder realizar a missão e conseguir vivenciar as celebrações.
As meditações
Durante toda a Quaresma, são realizadas meditações nos diversos santuários, geralmente às quartas-feiras à tarde; as homilias são cuidadosamente preparadas pelos freis da Custódia da Terra Santa ou algum religioso que eles convidam; nessa ocasião, era um Frei Capuchinho. Essas homilias, pouco a pouco, vamos sendo introduzidos no mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor. A oração da Via-sacra, nas sextas-feiras, pela Via Dolorosa, nos convida a meditar sobre o tão grande amor de Deus por nós.
Algo interessante, de maneira especial, é que começamos, junto com as peregrinações de Quaresma, uma série de vídeos no Instagram @cnterrasanta chamada ‘Seguindo a Paixão’, onde eu pude ir meditando e partilhando as minhas experiências em cada santuário que nos levava a refazer os últimos passos de Jesus.
Uma fé cheia de esperança
Algumas coisas muito diferentes que acontecem aqui: sempre que participarmos da Missa no Calvário, a liturgia será da Paixão de Jesus; sempre que participarmos no Santo Sepulcro, a liturgia será a do Domingo da Ressurreição. Então, mesmo durante a Quaresma, pode-se, de algum modo, celebrar a Páscoa. Isso é muito diferente, mas me leva a entender mais profundamente que toda Missa é o memorial do Mistério pascal de Cristo “não é somente a recordação dos acontecimentos do passado, mas os torna, de certo modo, presentes e atuais.” (CIC 1363).
Eu fui compreendendo e experimentando que a nossa fé deve ser profundamente Pascal, cheia de esperança, livre das amarras do pecado, e que Jesus estava me chamando a viver, “na Páscoa”, não somente na data comemorativa, mas todos os dias, pois o sepulcro vazio me lembra que hoje é Páscoa.
Uma experiência enriquecedora durante a guerra
Por outro lado, viver tudo isso em meio a uma guerra me conduzia a uma experiência de finitude e urgência. Eu preciso estar preparada para morrer a qualquer hora, e aqui isso fica mais claro e evidente. Sempre ouvi do meu pai fundador, Monsenhor Jonas Abib, que a Canção Nova é chamada a preparar um povo bem disposto e apressar a vinda do Senhor; sendo assim, faz-se ainda mais necessário que levemos o Evangelho a toda a criatura; e mostrar a Terra Santa é promover um encontro com Jesus que se encarnou, viveu e morreu aqui nesta Terra, como é chamado o quinto Evangelho.
Curiosidades sobre as celebrações da Semana Santa
Uma curiosidade sobre as celebrações da Semana Santa é que elas são celebradas muito cedo. Todo o Tríduo Pascal acontece ao amanhecer. Na Quinta-feira Santa, Missa dos Santos Óleos e do Lava-pés às 8h da manhã. Sexta-feira, às 7h15, Vigília Pascal; Sábado Santo às 6h30 da manhã. É isso mesmo! Isso acontece por causa do Status Quo, um conjunto de regras que regem a convivência dos cristãos responsáveis pela custódia dos lugares santos. Como o Santo Sepulcro, e para evitar problemas, cada grupo religioso tem o seu horário, e este deve ser rigorosamente respeitado. Sendo assim, a Páscoa chega aqui mais rápido!
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Por causa do Status Quo, a Via-sacra, rezada na Via Dolorosa toda sexta-feira, precisa ser bem rápida, e da primeira para a última estação. Isso leva, no máximo, 45 minutos; e ela acontece no meio das ruas movimentadas e barulhentas da cidade velha. Inicialmente, parece muito estranho, com todo o comércio acontecendo, mas, com um pouco de esforço, a gente consegue fazer uma experiência profunda.
Compartilhar com o mund0 essa grande experiência
Particularmente, fico imaginando Jesus carregando a cruz, ali, no meio das lojas (lembrando que Jesus passou mesmo pelo meio do comércio, nas vias públicas); os vendedores, na sua maioria árabes, vendo aquela cena, e vou intercedendo para que eles, um dia, possam fazer a sua experiência com Jesus.
Confesso que, humanamente falando, eu cheguei à Páscoa bem cansada, pois, como eu disse, trabalhamos bastante para tudo ser reportado adequadamente e em tempo para dezenas de países que retransmitem o nosso conteúdo. As matérias jornalísticas são traduzidas em 10 línguas.
Mas, apesar do cansaço, viver tudo aqui onde Jesus viveu, testemunhar que Ele não está no Sepulcro e poder transmitir essa Boa Notícia para o mundo, renova as forças e a esperança. Agora, já estamos nos preparando para mais uma Semana Santa na Terra Santa.
Você pode acompanhar a nossa missão pelas redes sociais CNTerrasanta ou pelo cmc.video.
Desejo a você uma santa e feliz Páscoa, assumindo que somos chamados a viver como homens e mulheres pascais semeadores de esperança.
Carla Picolotto
Missionária do Núcleo da Comunidade Canção Nova
