A reflexão sobre a morte torna ateus mais susceptíveis à crença, mostra pesquisa da Universidade de Otago, na Nova Zelândia
“Pra que viver? Viver pra quê? Será viver ou padecer? Viver sem Deus não é viver. É padecer”. O trecho em aspas faz parte de uma poesia que escrevi no colegial. Certo professor de filosofia, ateu e anticristão, pediu que escrevêssemos algo sobre a vida. Busquei mil maneiras de escrever sem mencionar algo relacionado à religião para evitar algum tipo de represália, mas concluí que a vida sem Deus é um caminho de frustração. Sem a presença de Deus, nossa existência parece seguir para um fim triste, o da morte. Ao contrário do que muitos pensam, Cristianismo não significa isolamento em si mesmo para um encontro intimista com Deus ou solidão, ser cristão significa abertura para uma vida em comunidade.
Relato sobre um ateu
Em 2009, trabalhei na cobertura da visita do Papa Bento XVI à Jordânia. A convite do reinado jordano, embarquei com mais dois colegas da TV Canção Nova, Nelson Perroni e Renata Vasconcelos, para o trabalho jornalístico. Depois de quase duas semanas intensas ao lado de jornalistas de mundo todo, fui surpreendido por um profissional da maior rede de TV brasileira que se declarava ateu. A minha surpresa foi quando ele disse que estava edificado com nossa cobertura realizada com tanto profissionalismo. “Não imaginava que televisão católica levasse jornalismo a sério”, disparou ele. E completou o desabafo dizendo que cresceu em uma família ateia e nunca se interessou por religião, mas naquela viagem percebeu o quanto lhe fazia falta o contato com o Sagrado ou ao menos um pouco de conhecimento da fé.
Esse algo que o jornalista reconhecia sentir falta, pode ser a busca do sentido narrada pelo psiquiatra austríaco ViktorFrankl. Ele escreveu um livro em que retrata suas memórias psicológicas e reflexões sobre a experiência em Auschwitz. Frankl defende que as pessoas precisam dar significado à vida e não viver em busca de sucesso ou felicidade. A teoria da logoterapia sustenta que o impulso fundamental humano é encontrar “o significado potencial da vida em quaisquer condições”. Ao contrário do filósofo Jean-Paul Sartre que dizia que a “vida é insuportável”, Frankl afirmava que “a vida nunca se torna insuportável por causa das circunstâncias, mas somente por falta de significado e de propósito”.
O que torna um ateu mais susceptível à crença?
A reflexão sobre a morte torna ateus mais susceptíveis à crença. A afirmação é resultado de uma pesquisa da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, realizada em 2012. O estudo publicado no site Sciencedaily mostra que quando as pessoas não religiosas pensam na própria morte, inconscientemente, ficam mais receptivas em relação à fé. Já os religiosos tornam ainda mais crentes diante da dor.
Deus existe?
Na busca por responder se Deus existe, São Tomás de Aquino apresenta cinco vias para se chegar a essa resposta. Em sua obra Suma Teológica, afirma que a própria estrutura do ser humano exige que o conhecimento comece pelos sentidos. Portanto, as cinco vias sugeridas são:
1 – Via do movimento: o mundo está em movimento, porém é movido por um primeiro motor imóvel;
2 – Via da causa eficiente: existência de uma causa primeira para conseguir explicar a cadeia de causas que acontecem no mundo;
3 – Via do contingente e do necessário: defende a existência de um ser necessário na qual dependem todos os seres contingentes;
4 – Via dos graus de perfeição: há um ser máximo no qual todos os seres presentes no mundo participam com Ele em diferentes graus de perfeição;
5 – Via do governo das coisas: existe um arquiteto inteligente que governa, coordena ou dá uma finalidade a todas as coisas no mundo.
Certa vez li, na internet, uma frase atribuída a João Paulo II. A citação dizia mais ou menos assim: “não questiono o porquê dos ateus não acreditarem em Deus, mas me questiono sobre o vazio que essas pessoas vivem”. Atualmente, o Papa Francisco tem motivado os cristãos a viver a cultura do encontro. Esse passo adiante contribui para o cultivo dos laços de valores e solidariedade para com aqueles carentes de fé. Lembrando o colega que conhecemos lá na Jordânia, brota gratidão por ter contribuído com nosso trabalho de informação, mas de maneira especial, a partir do nosso testemunho, ter acrescentado algo na vida daquele cara que se dizia ateu e que passou a perceber que lhe faltava algo.
Nunca mais nos encontramos, mas sempre me recordo dele e dirijo orações para que aquele “vazio” seja preenchido pela presença de Deus. Além disso, torna-se uma motivação a mais para crescer como um profissional consagrado a Deus na Canção Nova.