O nome de Deus e a fé são a mesma coisa?
Chegamos ao segundo mandamento da lei de Deus em nossa série de textos sobre o Sacramento da Confissão: “Não tomarás Seu Santo Nome em vão!”. Nele se encerra um mistério profundamente belo, e eu estava ansioso para chegar o dia de poder partilhá-lo com você. Vamos lá! Deus fez muitas e incontáveis obras maravilhosas. A primeira delas, com certeza, foi a criação do universo. Tudo o que existe está seguro em Suas mãos, porém, houve uma outra criação de Deus ainda mais bela que a criação de tudo: a encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Lembre-se: foi por isso que mudamos a honra a Deus, que era no sábado, para domingo, o dia da Ressurreição. Passamos a gravitar em torno de Cristo, e não mais dos sinais antigos. Essa mudança começou pelo povo, e alguns anos depois a Igreja a oficializou.
Não tomarás o Nome de Deus em vão!
De que vale o nome de uma coisa ou alguém? O modo usual de as pessoas aprenderem as coisas é começando pelo nome. Ao ver um objeto, e não sabendo o que é, logo vem a pergunta: “o que é isso?”. Ao definir o que é, já é possível começar a entendê-lo.
No tempo de Jesus, ao contrário de hoje, pelo nome já havia indicações mais precisas de quem era a pessoa. Por exemplo: Pedro significando pedra. Hoje em dia, isso se perdeu, os nomes são mais arbitrários.
Com as coisas, o nome já começa a revelar o que ela é, mesmo que não haja um conhecimento completo. Foi pensando assim que Adão deu nome aos animais, conforme a narrativa do Gênesis. Ele compreendia o que era, e assim lhe punha um nome próprio.
Na oração do Pai-Nosso, encontramos sete pedidos que, assim como nos mandamentos, vão do mais importante ao menos importante. Abaixo de “Pai nosso que estais no céu” já está o primeiro pedido, logo, o mais importante: “santificado seja o Teu Nome”. Jesus, ao ter completado Sua missão como Filho de Deus fisicamente entre nós, em Sua oração diz: “Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste” (Jo 17,6). Em outra passagem temos: “E tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei, para que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo 14,13).
E a presença da fé?
Há algo que parece começar a se tornar claro por essas passagens, é que o nome de Deus e a fé são a mesma coisa. Quando Hugo de S. Vitor (sec. XII) interpreta o Pai-Nosso, ele diz que o Nome de Deus é a fé.
Já tratamos bastante sobre a fé nas semanas anteriores, mas podemos ir ainda mais longe. A fé, durante a nossa vida neste mundo, faz as vezes da visão beatífica, pois, na vida eterna, veremos Deus e não será preciso mais a fé. Mas, neste mundo, a fé é o nosso modo de ver Deus. Ela é o modo que temos para conhecer Deus, é o Nome d’Ele.
Quando cremos, estamos em contato físico com Deus, mas para isso é preciso que Ele nos ajude. Nós não somos capazes de produzir a fé. Toda e qualquer manifestação de fé em nós é ajudada pela mão de Deus por meio de Sua humanidade encarnada e ressuscitada.
“Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem” (Mt 7,11). A primeira manifestação do Espírito Santo é justamente na fé.
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É fundamental pedir a Deus a graça da fé todos os dias. Pedindo com fé, ainda que seja pequena, Deus nos dá mais. Sendo assim, subimos de uma fé menor para uma fé maior.
A nossa mente começa a se abrir aos mistérios de Deus, porque Ele mesmo vai como que nos iluminando e convidando a percebê-lo. Pedir o dom da fé é absolutamente indispensável!
Salomão pediu Sabedoria para Deus (II Crônicas 1) em vez de riquezas ou a morte de seus inimigos, pois a sabedoria é a manifestação mais elevada da fé. Por isso Deus se alegra com seu pedido e lhe concede prontamente.
O desenvolvimento da fé se dá à medida que a recebemos. Ela mesma nos convida a procurar adquirir as virtudes cardeais. Ela nos ajuda com as virtudes infusas. Vamos crescendo numa vida cada vez mais cristã, afastando-nos dos pecados, amando mais a Deus.
Necessário também meditar sempre nas Sagradas Escrituras, pois ela existe para alimentar a nossa fé. “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4,4). Precisamos ter contato com a Palavra de Deus, dos escritos dos Santos Padres, para procurar, por meio da meditação, o sentido mais íntimo e profundo dos ensinamentos ali colocados. O Senhor nos envia a Sua graça para fazer esse contato, pois estamos buscando a verdade. São Tomás nos ensina que a Bíblia é composta da letra impressa para a revelação externa de Deus, assim como na perfeição da natureza. Porém, quando meditamos nos seus ensinamentos e histórias, passamos a ter a revelação interna. Ali encontramos as verdade de fé que nos iluminam a crer melhor. Também os ensinamentos dos santos são um convite para alimentar a nossa fé.
“E Jesus dizia aos judeus que nele creram: permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos. Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,31-32).
Essa palavra que liberta é a revelação interna. Para recebê-la, é preciso antes acreditar, ter fé. Meditando com frequência, procurando as verdades que a Sagrada Escritura nos tem para revelar, crescendo na vida de oração e na fuga dos pecados, significa que estamos conhecendo cada vez mais Deus. Essa palavra interior é o próprio Cristo e é o Nome de Deus.
O terceiro mandamento está pedindo que rezemos; o segundo já nos pede para que nos acostumemos a permanecer no Nome de Deus. Isso é ter intimidade com Ele. Não é possível, nessa vida, termos uma intimidade com Deus maior que aquela que conseguimos por meio do conhecimento gradativo do Seu Nome, que é a fé. Maior que isso só o céu.
Ainda não acabou. Semana que vem vamos adentrar um pouquinho mais no mistério do segundo mandamento.