Por que é tão difícil mexer no coração e deixar-se amar por outro alguém?
Provavelmente, você já ouviu falar de um filme com esse tema, ou talvez, como eu, já o tenha assistido diversas vezes. São vários os aspectos do longa-metragem que chamam à atenção, mas me refiro, principalmente, ao poder e à força transformadora que o amor exerce na vida das pessoas, o que, aliás, é bem evidenciado nesse romance vivido por Landon, o rapaz mais popular e desajustado da escola; e por Jamie, uma estudiosa e compenetrada garota, que jamais imaginou sequer conversar com ele [Landon], muito menos apaixonar-se por ele.
O certo é que, para a surpresa dos dois e mais ainda dos colegas, é isso que acontece. Landon, punido por sua má conduta, vê-se obrigado a fazer coisas que não gostaria, como dar aulas às crianças especiais e atuar em uma peça teatral. Jamie, que tinha como filosofia de vida fazer sempre o bem, resolve ajudá-lo, mas com uma condição: que ele não se apaixonasse por ela. A beleza do romance, no entanto, está em perceber que a vida dos jovens ganha um novo sentido quando, corajosamente, assumem a nobre e desafiante missão de amarem e serem amados, indo além dos medos e diferenças. É a isso que quero me deter, pois, até hoje, desconheço uma força mais poderosa e transformadora que o amor.
Foto: Wesley Almeida / cancaonova.com
“O amor é paciente, é benigno; não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha” (I Coríntios 13,4-8a).
As razões do coração
Já que o amor é tudo de bom, por que é tão difícil deixar que ele brote dentro de nós e irradie o mundo? Por que é tão difícil mexer no coração e deixar-se amar por outro alguém? Como compreender que é tão complicado ser frágil, depender dos demais e deixar que conheçam nossas fraquezas, toquem nossas feridas, se amar é justamente nossa principal vocação?
São perguntas que despertam inúmeras respostas, mas, talvez, nenhuma delas cale um coração inquieto. É que a linguagem do amor vai além da razão e até mesmo das experiências. Fala segundo os códigos do coração, e o que não vem de um coração dificilmente chegará a outro.
Talvez, seja por esse motivo que nem sempre as respostas que recebemos nos devolvem a quietude. Concordo com quem diz: “Tens de saber que para o amor não existe manual pronto, deves criar o teu”.
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Nesse filme, ‘Um amor para recordar’, parece-me que Jamie e Landon criaram seu próprio manual e deu certo. O milagre da transformação aconteceu na vida dos dois em pouco tempo. Mas é feliz quem pode testemunhar esse milagre além dos filmes, além das teorias.
É com muita sabedoria que Frei Raniero Cantalamessa afirma: “Devemos dar mais espaço às «razões do coração» se quisermos evitar que a humanidade volte a cair em uma era glacial.” Ainda com outras palavras, continua explicando que, em matéria do coração, a técnica é de bem pouca ajuda, ressaltando: “Empenham-se, desde há muito tempo, em criar um tipo de computador que «pense», e muitos estão convencidos de que vão conseguir chegar lá. Ninguém, até agora, projetou a possibilidade de um computador que «ame», que se comova, que saia ao encontro do homem em um plano afetivo, facilitando-lhe amar, como lhe facilita calcular as distâncias entre as estrelas.”
O amor leva ao sacrifício
Embora seja dada pouca atenção ao assunto, já que vivemos em uma era aparentemente movida pela técnica, sabemos bem que a felicidade ou a infelicidade, na Terra, não dependem tanto de conhecer ou não conhecer, ter ou não ter, mas sim amar ou não amar, ser amado ou não ser amado. E isso é bem certo! É certo também que o amor é exigente, leva à renúncia, ao sacrifício.
Talvez seja por isso que estamos tão ansiosos em aumentar o conhecimento, mas haja tão poucos interessados em aumentar nossa capacidade de amar: “É que o conhecimento traduz-se automaticamente em poder e o amor em serviço”.
Optar pelo sacrifício em plena modernidade parece contraditório, mas é aí que se esconde um segredo essencial na conquista da tão sonhada felicidade. Quem se arrisca a desvendá-lo, certamente é feliz. Os benefícios do amar compensam os sacrifícios que ele implica.
Então, ame, diz o poeta. “Ama e dá asas a tua alma, para que ela voe livre e te leve às alturas desta nobre vocação! Desprende-te de quem te retém por prisioneiro, mas não recuses receber um gesto de amor”.
Cultivemos o amor, que seja para recordá-lo ou tê-lo para vida inteira. Amemos, corajosamente, para fazer este mundo melhor!