Cada um por si?

Na crise, temos a oportunidade de sermos aliados

No calor da provação, podemos encontrar grandes aliados

Onde existem pessoas há também divergências. É natural! Simplesmente, porque não somos iguais. Conforme ocorrem os fatos do cotidiano, as disparidades entre os seres humanos vão sendo estampadas. Entretanto, infelizmente, algumas vezes, essas diferenças ficam à mostra por força de desentendimentos. “É impossível que não haja escândalos” (Lc 17,1).

Administrar tensões entre pessoas não é fácil, nem mesmo em condições favoráveis; contudo, os conflitos de opinião, de temperamentos, os ideais opostos, entre outros, tornam-se ainda mais pontos frequentes de intolerância quando se atravessa uma crise.

Foto ilustrativa: Jorge Ribeiro / cancaonova.com

Política da boa vizinhança

Nas situações confortáveis, os ânimos entre pessoas em desacordo podem ser mais suportáveis, afinal, existem outras condições propiciadas pelo meio ambiente que são compensatórias. Pratica-se a política da boa vizinhança. O indivíduo adapta-se a algo que acha ruim no outro e faz a opção de conviver com isso para manter um benefício que seja comum a ambos. É viver algo do tipo “manual de sobrevivência, política da boa vizinhança”. As pessoas não se envolvem na vida das demais, para não necessitarem entrar nos pontos conflitantes. Sabem que os possuem, mas assim, evitam atritos, “fingindo” que está tudo bem.

Por outro lado, na dificuldade, a compensação não existe ou é escassa, então, a tendência dos seres humanos é de voltarem-se uns contra os outros. Passa a valer o pensamento “cada um por si” e “salve-se quem puder”. A guerra é declarada, a competição instalada. Dessa forma, apontam-se os erros uns dos outros, todos buscam uma forma de esquivar-se da responsabilidade daquilo que não deu certo e tentam mostrar que o culpado pelo desacerto é aquele que se tornou seu opositor.

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Interessante notar que a crise vem quase sempre de um fator externo, que influencia negativamente o núcleo da instituição onde estamos – casamento, empresa, associação ou comunidade – e que deixamos atingir o âmago da identidade nas pessoas envolvidas.

Algumas vezes, nem precisamos estar em pé de guerra com alguém para colocarmos as garras de fora. Basta que a situação confortável fique ameaçada para mudarmos de atitude com o próximo.

Até mesmo na amizade ou em bons relacionamentos em que não prevalece essa má impressão de um para o outro, quando passamos por uma crise, ferimos as pessoas e primeiro tentamos salvar a nós mesmos. O amor acaba quando somos “desinstalados” e provados com a justificativa de “amigos, amigos, negócios à parte”.

O que fazer na crise?

É justamente na crise que a concórdia e a parceria precisam funcionar. Essa é a hora de as diferenças serem somadas e colocadas a proveito do conjunto. Qualquer que seja a instituição ou dificuldade em que nos encontrarmos com o outro, é pelo trabalho e pela soma dos esforços das pessoas envolvidas que obteremos a solução.

Se os desafetos forem deixados em segundo plano e mesmo contra a vontade, num primeiro momento, os seres humanos moverem-se com o propósito de fazer dar certo, a força propulsora de qualquer empreendimento estará focada e concentrada num objetivo. Então, as chances de tudo sair bem e atravessarem a crise aumentarão, e muito!

Além do que, nessa associação de esforços, as qualidades dos conflitantes serão percebidas por eles mesmos, mais facilmente. Talvez, um ponto que nunca se tenha visto em alguém fique, a partir daí, evidente.

É no calor da provação que podemos encontrar um grande aliado e as potencialidades são reveladas. Da diferença que temos com alguém, podemos descobrir uma riqueza que nos completa.

Deus o abençoe!