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Deixar de sentir-se amado: a quarta insegurança de muitos casais

Dom Bosco dizia que não basta amar os jovens, é preciso manifestar-lhes nosso amor. Isso vale também para o casamento. Muitos casais deixam o seu relacionamento conjugal cair na monotonia, no silêncio vazio onde já não acontece o diálogo, onde não há mais interesse de contar as coisas ao outro; às vezes, no desrespeito mútuo, na falta de atenção devida, na falta de harmonia sexual. Tudo isso pode gerar em um deles a sensação e a insegurança de não ser amado. Isso ameaça o casamento e a família.

Já ouvi algumas pessoas casadas dizerem que “não amam mais o outro”, e buscam um novo relacionamento. A sabedoria popular diz que “só se troca um amor por outro maior”. Por que isso acontece?

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Como banir a insegurança do relacionamento?

A razão básica é que essa pessoa não está satisfeita em seu relacionamento conjugal, e isso tem muitas causas; muitas vezes, aparece outra pessoa em sua vida, que lhe oferece mais carinho, mais atenção e até mesmo mais atração física.

A sensação de não ser amado surge quando o casal “deixa morrer a planta do amor”. Se você não colocar água, todos os dias, numa planta, ela acaba morrendo; não basta colocar um balde de água uma vez por mês. A displicência com o outro na vida de casados vai matando o amor. Se um já não é mais para o outro “alguém que o ajuda a crescer”, a ser feliz, que lhe dá carinho e atenção, então, começa a haver uma distância entre eles. Se cada um não se sente responsável pelo crescimento humano e espiritual do outro, o amor conjugal morre. Se as brigas se tornam constantes e não há uma reconciliação real entre eles, o amor vai esfriando.

Por que essa sensação surge?

A insegurança de não ser amado pode acontecer por muitos motivos que geram a desunião do casal, entre eles as mentiras, falsidades, fingimentos, palavras ofensivas, comparações com a vida e as atitudes dos outros casais, desentendimentos com a família do cônjuge, inveja e ciúme do outro, desentendimento no uso do dinheiro, reclamações, negativismo, apego exagerado aos pais, mau humor, birra; enfim, tudo o que azeda o relacionamento. Tudo isso mata a planta do amor.

Se não existe mais o desejo de agradar o outro, de sacrificar-se por ele, a frieza começa a tomar conta da vida conjugal. A preocupação de satisfazer o outro, sem cair no exagero, é claro, é o que mantém a comunhão de vidas e o amor vivo. Por isso, os psicólogos terapeutas conjugais recomendam “todo dia dizer uma palavra carinhosa ao outro”, nunca gritar com o cônjuge e sempre trocar a discussão pelo diálogo paciente e amoroso.

A sensação de que o amor deles está morrendo é a falta do verdadeiro amor conjugal, que significa “dar a vida pelo outro”. Michel Quoist dizia que “amar é dar-se”, e isso é o oposto do egoísmo. São Paulo recomendou aos maridos: “amar as esposas como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,25). A falta desse amor, disposto a dar a vida pelo outro, que diz não para si mesmo para dizer sim ao outro, é que faz o amor conjugal definhar e criar a sensação de não ser amado.

Regar o amor conjugal todos os dias

Quando nos casamos, recebemos o outro das mãos de Deus e da família, como um presente ímpar, singular, sem igual, e que deve, portanto, ser cuidado com o máximo de atenção e para sempre. Se não houver esse propósito, essa fidelidade ao juramento do altar, o amor deles pode começar a perecer. O difícil não é conquistar uma nova mulher ou um novo homem; o difícil e necessário é saber conquistar o mesmo homem ou a mesma mulher todos os dias.

O casal humano é chamado a crescer por meio da “fidelidade” diária à promessa feita no altar: “Amando-te e respeitando-te todos os dias de minha vida”.

O amor exige que eu despose o outro, conscientemente, com todos os seus defeitos e qualidades, e o faça crescer a meu lado, com minha dedicação. Só o amor constrói. Amar não é querer alguém construído, mas construir alguém querido.

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Se os cônjuges não entenderem que amar não é uma decisão de apenas um momento ou de um período da vida, mas uma decisão que deve ser renovada a cada momento, a vida toda, para durar sempre, o amor deles não sobrevive.

É preciso estar sempre consciente que amar um homem ou uma mulher será sempre amar um ser imperfeito, pecador, fraco e sujeito às intempéries da vida. Mas se houver amor de verdade, é possível ajudar o outro a vencer suas dificuldades e ser alguém novo por causa do seu amor. A beleza do amor está exatamente em superar todas essas dores e fazer o outro melhor; do contrário, ele não seria o que é. Como um ninho, a felicidade do casal que se ama é construída pedacinho por pedacinho, por meio de esforços mútuos.

Se o casal não tem a maturidade suficiente para entender o sentido do matrimônio e da paternidade, que é uma missão a cumprir, fazendo o outro crescer, gerar os filhos e educá-los, então, acaba desistindo dessa grande missão e achando que não é mais amado, que tem de escolher outra pessoa.

Amar não é gostar

O amor está em crise, porque seu sentido foi esvaziado. Amar não é gostar, não é prazer, mas sim se dar para fazer o outro crescer. Sem maturidade espiritual e sem uma fé sólida, perseverante, com clareza de convicções religiosas, opção clara por Deus e autêntico amor ao cônjuge e aos filhos, o casal não mantém vivo o seu amor.

O mundo oferece muitos prazeres fáceis, mas se não houver amor verdadeiro, o casamento pode esvaziar-se e o sentimento de não ser amado surgir. Ser maduro é ser responsável, é saber enfrentar os desafios e as tarefas da vida sem reclamar nem culpar os outros. Muitas são as expressões de falta de maturidade que prejudicam o amor do casal.

Pela busca constante da oração e dos sacramentos, numa vida de vigilância sobre si mesmo, cada um pode manter o amor vivo. Não podemos esquecer que “Deus é amor” (1 Jo 4,8); é n’Ele que o casal tem de alimentar seu amor se não quiser que ele morra. Jesus disse: “Sem mim, nada podeis fazer”.


Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino