Segunda-feira Santa

Maria, a incorrigível

Maria, a incorrigível, é sempre a mesma. Sempre que há trabalho a ser feito, algo a produzir, ela está sempre desperdiçando seu tempo. Ela já havia feito isso, quando fez Marta ficar furiosa, porque, enquanto servia a Jesus, Maria estava se “fazendo discípula”. Isso era coisa específica dos homens e não das mulheres: sentar-se aos pés de Mestre para ouvir Sua Palavra.

Sensibilidade

Agora, estamos de volta à estaca zero. Lá está Jesus, Lázaro também está sentado à mesa com Aquele que o ressuscitou dentre os mortos e, enquanto Marta serve à mesa, o que Maria faz? Maria começa a lavar os pés de Jesus com óleo perfumado e muito precioso. Isto é, na verdade, muito pior do que da última vez. Aqui, Maria não só perde tempo, mas até mesmo desperdiça coisas preciosas, pois nada faz ela desperdiçar uma fortuna.

Tal gesto ofende imediatamente a sensibilidade de um homem como Judas. Calculista, que não pode dar a si mesmo a paz diante de empreendimentos, como o de seu inconclusivo Mestre Jesus, que não produzem resultados concretos e satisfatórios. É precisamente, por isso, que Judas vai trair Jesus. Porque ele também faz coisas inúteis, em vez de realizar os sonhos de poder de seus discípulos.

Créditos gettyImagens _Studio-Annika

Maria e Judas

Maria e Judas: dois personagens que a liturgia coloca diante de nossos olhos no início desta Semana Santa. Uma mulher que faz um gesto impensado, um desperdício; um homem calculista que logo trairá seu Mestre e Senhor. Nestas duas figuras, é como se a liturgia estivesse nos dizendo: como você quer entrar nesta Semana Santa e Grande?

Como Maria ou como Judas? Com a atitude do homem calculista que quer resultados, talvez para explorar para seu próprio proveito, ou com a da mulher capaz de ouvir, verdadeira discípula do Senhor, que responde com um gesto de gratuidade àquele que livremente dá sua vida por nós?

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Perfume e gratuidade

Não é por acaso que o Evangelista nos diz, de forma surpreendente, que o gesto de Maria, isto é, lavar os pés de Jesus, enche de perfume a sala em que eles estavam. Trata-se de um gesto gratuito, um gesto litúrgico. Um gesto que se dá para todos. Até Judas pode respirar aquele perfume, mesmo que não consiga reconhecer seu valor. Ninguém é excluído de um gesto de gratuidade.

A unção de Betânia é um verdadeiro prólogo da Semana Santa porque, nesse gesto da Maria, a incorrigível, se revela o significado dos dias que se avizinham: seu gesto tem a fragrância da Páscoa. São dias em que se manifesta a gratuidade com que Deus nos amou em Cristo Jesus. Este é o significado dos dias santos que temos diante de nós: a vida de Jesus, como tempo que Deus desperdiçou para nós.

Cheirar o perfume

Este é o evento que pode encher nossa vida de fragrância. Mas para saber acolher o dom de Deus, para saber cheirar o perfume que dele se espalha e encher a sala em que nos encontramos, devemos ter a atitude de Maria, um coração capaz de captar o significado frágil e silencioso de um gesto gratuito. Afinal de contas, este é o segredo da vida como tal. Pois que acontecimento verdadeiramente importante em nossa vida não é uma experiência de gratuidade?

Maria, a incorrigível

A liturgia de hoje nos convida, portanto, a entrar na escola de Maria, a incorrigível, e deixar para trás a atitude fria e calculista de Judas. Caso contrário, arriscamo-nos a ser “traidores” da vocação para a qual fomos chamados em Cristo Jesus, a de difundir o perfume da Páscoa para nós mesmos e para os outros com nossas vidas.

Peçamos ao Senhor que cada gesto de gratuidade, nessa Semana Santa, possa exalar em nossas casas aquele “Perfume de Amor”, único modo de viver com frutos e de modo fecundo esses dias tão santos!

Deus é Bom!

Leituras:
Is 42,1-7
Sl 26(27),1.2.3.13-14 (R. 1a)
Jo 12,1-11

Cristiano Sousa OSB Cam – Mosteiro de Fonte Avellana , Itália