A Quaresma, com início na Quarta-feira de Cinzas, é um tempo litúrgico muito importante para a nossa caminhada cristã. Ajuda as pessoas e as comunidades eclesiais a se prepararem dignamente para a celebração da Páscoa do Senhor.
O período quaresmal é tempo sobremaneira apropriado à conversão de vida e à renovação interior. Aliás, não há Quaresma sem conversão. Converter-se é separar-se do mal e voltar-se para o bem. É mudar radicalmente de vida e de critérios. A conversão radical insere-se no coração da vida. Exige gestos concretos de amor e de misericórdia, de partilha fraterna e de justiça. Podemos dizer que o cristão é um convertido em estado de conversão, pois a conversão dura enquanto perdurar nosso peregrinar neste mundo.
Converter-se é procurar viver todos os dias a “vida nova”, da qual Cristo nos revestiu, transformando-nos n’Ele, para fazer um só corpo com Ele e com os irmãos. Há em nós atitudes que devem morrer. Converter-nos, a cada dia, exige morrer aos poucos, sepultar-nos com Cristo para ressuscitarmos com Ele.
O amor de Deus chama-nos à conversão, a renunciar a tudo o que d’Ele nos afasta. O que mais nos afasta de Deus é o pecado. Pecar é estar no lugar errado, longe da amizade e da graça de Deus. A conversão quaresmal significa, portanto, crescer na prática das virtudes cristãs. Somos sempre catecúmenos em formação permanente, progredindo no conhecimento e no amor de Cristo.
Ao longo da Quaresma, somos convidados para contemplar o Mistério da Cruz, entrando em comunhão com os sofrimentos de Cristo, tornando-nos semelhantes a Ele na Sua Morte, para alcançarmos a Ressurreição dentre os mortos (cf. Fl 3, 10-11). Isso exige uma transformação profunda pela ação do Espírito Santo, orientando nossa vida segundo a vontade de Deus, libertando-nos de todo egoísmo, superando o instinto de dominação sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo (cf. Bento XVI, Mensagem da Quaresma 2011).
O período quaresmal é ainda tempo favorável para reconhecermos a nossa fragilidade, abeirando-nos do trono da graça, mediante uma purificadora confissão de nossos pecados (cf. Hb 4, 16). Na Igreja “existem a água e as lágrimas: a água do Batismo e as lágrimas da penitência” (Santo Ambrósio). Vale a pena derramar essas lágrimas com uma boa confissão sacramental.
Jesus convida à conversão. Este apelo é parte essencial do anúncio do Reino de Deus: “Convertei-vos e crede na Boa-Nova” (Mc, 1, 15).
O itinerário quaresmal é um convite à prática de exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna e às obras de caridade (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1438). É igualmente um tempo forte de escuta mais intensa da Palavra de Deus e de oração mais assídua.
Quanto mais fervorosa for a prática dos exercícios quaresmais, tanto maiores e mais abundantes serão os frutos que colheremos e hauriremos do mistério de nossa redenção.
Também a vivência da Campanha da Fraternidade ajuda a fazermos uma boa preparação para a Páscoa. A CNBB propõe para este ano o tema “Fraternidade e a Vida no Planeta”, e como Lema: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8, 22).
Maria Santíssima, Mãe do Redentor, guie-nos neste itinerário quaresmal, caminho de conversão ao encontro pessoal com Cristo ressuscitado. Com o coração voltado para Cristo, vencedor da morte e do pecado, vivamos intensamente o período santo e santificador da Quaresma.
Dom Nelson Westrupp, SCJ