A Igreja está às portas de uma grande festa. Pentecostes se aproxima, uma das mais belas festas litúrgicas de nosso calendário e com uma particularidade: começa com a descida do Santo Espírito, o plano salvífico de Cristo de modo expansivo pela vida dos apóstolos.
As portas do Cenáculo abertas inauguram o protagonismo da ação evangelizadora por meio não mais de Jesus pessoalmente, mas de Seu Espírito através de todo aquele que diz: “Eis-me aqui. Envia-me” (Is 6,8).
São considerados, a partir de agora, homens, mulheres, jovens e até crianças que assumem o que o Mestre assumiu na sinagoga de Nazaré quando desenrolou o pergaminho de Isaías e proclamou: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu para anunciar o Evangelho” (Lc 4,18ss).
O Espírito Santo agindo em nosso temperamento
Sem dúvida, nossa vida deve ser um ato de servidão ao Senhor. Seja na vida comunitária, familiar ou profissional, nós precisamos deixar a marca do Eterno onde Deus nos plantou e para onde Ele nos enviar.
O artigo que você lê, agora, traz como título uma pergunta, e tal pergunta tem muito a ver com tudo que lhe acontece, na maneira como você age e reage ao que lhe acontece. E tudo isso tem direta ligação com o seu temperamento.
A propósito, você conhece qual é o seu temperamento? Se você não responder essa pergunta, também não conseguirá responder a pergunta que é o título deste artigo.
A minha missão, neste texto, é oferecer a você uma oportunidade de fazer uma “viagem” para dentro de si e, lá, perscrutar, descobrir e tomar providências, tudo sob a inspiração e a Luz do Espírito Santo, nosso Divino Amigo. “Aperte os cintos” e vamos lá!
Temperamento é dom de Deus
Para que seja tirado bom proveito, convém não confundir temperamento com personalidade (muitos confundem!). Por definição, os temperamentos são estruturas minerais da constituição humana, o alicerce que sustenta toda nossa atividade psíquica. O temperamento é fixo, nascemos e morremos com o mesmo temperamento.
Precisamos assumir que nosso temperamento é dom de Deus, ele foi pensado para você e somente Deus, simploriamente exemplificando, possui o “manual de fábrica”. De outro modo, o temperamento é o solo no qual somos plantados, é mineral, ou seja, é possível cuidar do solo e enriquecê-lo, mas não o trocar, entende?
Por outro lado, a personalidade é como uma planta nascida no solo, ela cresce, desenvolve-se, transforma-se, é flexível, passível de evolução. Uma pessoa pode, sob a Luz do Espírito, aliada a um empenhado esforço humano, alterar significativamente sua personalidade.
Hoje, vamos nos concentrar nos temperamentos
Estudos sérios e comprovados da Psicologia atestam quatro tipos de temperamento. São eles: colérico, sanguíneo, melancólico e fleumático. Cada um com suas particularidades e características admiráveis, mas também debilidades.
Para facilitar o entendimento de como são formados os temperamentos humanos, usam-se elementos de ligeira compreensão.
Os temperamentos nascem da conjugação de quatro elementos: quente, frio, seco e úmido; e da combinação de cada dois pares de opostos é que são gerados os quatro temperamentos.
O temperamento colérico é quente e seco; o temperamento sanguíneo é constituído a partir da combinação dos elementos quente e úmido. No temperamento melancólico, conjuga-se os elementos frio e seco; e no Fleumático, frio e úmido.
Temperamentos quentes: colérico e sanguíneo.
Podemos assim dizer que coléricos e sanguíneos possuem um princípio de expansão. Isto é, pessoas desses dois temperamentos tendem a não passar despercebidas em uma roda de conversa, por exemplo, pois com maior facilidade se comunicam e se instalam no ambiente onde estão. A diferença, no entanto, entre o colérico e o sanguíneo é que, respectivamente, um é seco e o outro é úmido.
Quando digo seco, estou me remetendo à resistência, firmeza em marcar posicionamento, isso é nítido nas pessoas de temperamento colérico.
O colérico é, potencialmente, aquele cujas opiniões são sempre dadas com convicção e paixão. E nisso não há mal nenhum se pessoas desse temperamento se deixam controlar pelo Espírito Santo.
O sanguíneo, por sua vez, ainda que tenha, estruturalmente, tendência à boa comunicação, sua particularidade é úmida.
O que isso quer dizer?
Na mesma roda de conversa citada anteriormente como exemplo, o sanguíneo, normalmente, é a pessoa que não deixa o assunto morrer, sempre ligando uma conversa a outra, um integrante da mesa a outro. Embora sinta o impulso de falar, não faz questão de fincar a bandeira da sua opinião. Pessoas desse temperamento envolvem os partícipes na conversa, mas sem uma marcação tão firmada quanto faz o colérico.
Temperamentos frios: Fleumático e Melancólico.
Em contraste com os dois temperamentos mencionados acima, temos os temperamentos frios, que, ao contrário dos quentes que são expansivos, tendem à contração. O termo frio remete exatamente ao recolhimento, comum aos melancólicos e fleumáticos.
O melancólico é o temperamento que conjuga a temperatura fria com o elemento seco. Assim como o colérico, o melancólico tende à resistência, no entanto, sem a característica expansiva.
A pessoa desse temperamento é, potencialmente, introspectiva e recolhe memórias e emoções de forma bastante aguda e profunda. Para auxiliar na compreensão, usemos novamente o exemplo da roda de conversa: o melancólico é aquele que presta bastante atenção e guarda todas as opiniões dadas, mas só dará a sua opinião se estiver completamente convicto, após ter avaliado todas as variáveis possíveis.
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E o Fleumático?
O fleumático é marcado por sua introspecção, sua memória afetiva não aprofunda como a do melancólico, da mesma forma, seu envolvimento não é expansivo como o do sanguíneo. O fleumático tende a ser naturalmente uma pessoa bem-humorada, e isso é um elemento facilitador para que assim se adapte bem aos diferentes ambientes.
Vale ressaltar que, mesmo sendo um temperamento frio, não guardará as opiniões dos envolvidos com a meticulosidade do melancólico, e ainda, diferentemente do sanguíneo, não sentirá o impulso avassalador de se expressar verbalmente. O fleumático, não raramente, é o mais silencioso da conversa, aliás, silêncio e observância não são desafios aos fleumáticos, pois eles tendem justamente à não-reatividade.
Temperamento não é impedimento para uma vida virtuosa
Caro irmão leitor, você precisa deixar Deus revelar os segredos espirituais de seu temperamento. Creio que esse breve resumo sobre os temperamentos já sirvam para lhe motivar em dar o pontapé inicial no seu autoconhecimento.
Isso é tão fundamental que Santa Teresa de Ávila, sanguínea, ensinou: “É desatino pensar que havemos de entrar no céu sem primeiro entrarmos em nós mesmos”.
A proposta é ter o temperamento controlado, transformado pelo Espírito Santo; curioso é entender que o Espírito que habita em nós (cf. 1Cor 6,19) precisa de nossa concessão para pôr em equilíbrio nossa existência. Não é só habitar, mas também controlar!
Conhecer seu temperamento e deixar que o Espírito Santo o controle facilita o entendimento sobre os possíveis atritos que pessoas de diferentes temperamentos dominantes podem evitar.
Os doze apóstolos eram totalmente diferentes entre si e foram para a Igreja o que precisavam ser. Com você dá-se a mesma dinâmica, pois temperamento não é impedimento para uma vida virtuosa.
O nosso temperamento controlado pelo Espírito é via para manifestar a glória de Deus. Um homem com o temperamento controlado pelo Espírito Santo mostra que Deus é capaz de modificar até o mais íntimo de uma alma.
Observe alguns aspectos importantes nos quatro temperamentos, aspectos esses que denomino: vício dominante e virtude necessária.
Colérico
Vício dominante: orgulho
Virtude necessária: humildade e mansidão
Sanguíneo
Vício dominante: inconstância
Virtude necessária: vida interior, paciência e perseverança
Melancólico
Vício dominante: pessimismo e baixa estima
Virtude necessária: esperança e fortaleza
Fleumático
Vício dominante: acídia
Virtude necessária: constância e determinação
Não se deixe dominar pelas más tendências do seu temperamento!
Os temperamentos são como lentes pelas quais enxergamos o mundo, através deles experimentamos de forma diferente as emoções. O autoconhecimento é importante para a manutenção de uma vida interior rica, florida e agraciada, mas é importante não se deixar dominar pelas más tendências do temperamento ou se envaidecer pelas suas qualidades.
Os temperamentos não são sentenças e não devem ser tratados como tal. Deus, em Sua soberana sabedoria, quis que fôssemos plantados neste solo do qual não podemos fugir.
O temperamento é, portanto, um solo selvagem que terá pontos fortes e deficiências, poderá dar bons frutos se soubermos usar os recursos providenciados pela Graça de Deus, cultivar as virtudes de forma persistente e ter coragem de retirar as ervas daninhas, que são nossos defeitos dominantes, pois se não forem desenraizadas, podem comprometer toda a saúde do jardim, que é a sua alma.
Sempre haverá uma virtude no céu que sirva como remédio para alguma deficiência de nosso temperamento.
Veja quantos santos podem inspirar seu caminho rumo à santidade!
Encerro esse artigo no desejo de que você tenha feito essa “viagem” textual da maneira mais confortável e esclarecedora possível. Creio que leram este artigo: coléricos como o Apóstolo Paulo; sanguíneos como padre Pio de Pietrelcina; melancólicos como Santa Teresinha do Menino Jesus; e fleumáticos como São Tomás de Aquino.
Não somos reféns de nosso temperamento, apesar de eles serem estabelecidos dentro de nós. Com o auxílio da graça, nenhum temperamento é empecilho para quem quer ser santo. E quem faz os santos? O Espírito Santo, que têm o poder de controlar os temperamentos.