Antes de falar do Ano Litúrgico, precisamos conhecer um pouco melhor a importância da Liturgia.
O Catecismo da Igreja ensina que: “pela liturgia, Cristo, nosso Redentor e sumo Sacerdote, continua em sua Igreja, com ela e por ela, a obra de nossa Redenção” (n.1069).
Isto significa que, por meio da Liturgia, Jesus continua a nos salvar; de modo especial em cada Missa, onde se atualiza a Sua santa Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão ao Céu; para que nela “torne-se presente a nossa Redenção”. Afirma a Constituição do Vaticano II Sacrosantum Concilium:
“Com razão, portanto, a Liturgia é tida como o exercício do múnus sacerdotal de Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal, realizada a santificação do homem, e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, cabeça e membros. Disto se segue que toda a celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote e de seu corpo que é a Igreja, é ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo título e grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja” (SC,7).
Tempos litúrgicos são divididos em 3 ciclos
O Ano litúrgico da Igreja, de doze meses, é dividido em tempos litúrgicos, onde se celebram os mistérios da vida de Cristo, assim como os Santos. O Ano Litúrgico tem três ciclos, anos A, B e C, que se repetem. Cada ano tem uma sequência de leituras próprias. Em 2022 foi o ciclo C. Em 2023 será o ciclo A.
A Igreja estabeleceu, para o Rito Romano, uma sequência de leituras bíblicas que se repetem a cada três anos, nos Domingos e nas Solenidades. No ano A, leem-se as leituras do Evangelho de São Mateus; no ano B, o de São Marcos; e no ano C, o de São Lucas. Já o Evangelho de São João é reservado para as ocasiões especiais, principalmente as grandes Festas e Solenidades.
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No Ano Litúrgico, temos também Solenidades, Festas, Memórias e Férias
Jesus Cristo ressuscitou no domingo. Daí a importância deste dia primordial em todo o Ano Litúrgico da Igreja. Um dia litúrgico começa à meia-noite e termina na meia-noite do dia seguinte, exceto nos domingos e Solenidades, que começam na tarde anterior. No Ano Litúrgico, temos também Solenidades, Festas, Memórias e Férias.
A celebração litúrgica mais solene é a Solenidade, por exemplo: Imaculada Conceição de Nossa Senhora (8 de dezembro), Natal (25 de dezembro), Festa da Sagrada Família (26 de dezembro), Maria, Mãe de Deus (1º de janeiro), Epifania do Senhor (2 de janeiro), São José (19 de março). Corpus Christi, Santíssima Trindade, Sagrado Coração de Jesus, Cristo Rei, Assunção de Nossa Senhora (15 de agosto), São Pedro e São Paulo (29 de junho). Algumas datas são móveis, e algumas a Igreja no Brasil celebra no domingo seguinte.
Festas: é a segunda categoria litúrgica: Apresentação do Senhor, a Transfiguração, a Exaltação da Santa Cruz (14 de setembro), a Visitação de Nossa Senhora (31 de maio), os Santos Arcanjos (29 de setembro). Nesses dias de alegria, rezamos o Glória, mas não o Credo; são lidas apenas duas leituras.
Memórias: são algumas celebrações da Santíssima Virgem Maria e dos demais Santos, os Anjos da Guarda (2 de outubro), os fiéis defuntos (2 de novembro). Algumas memórias são obrigatórias, outras são livres. Não se reza o Glória nem o Credo.
Férias: são os dias durante a semana, de segunda-feira a sábado; elas, têm apenas duas leituras e o salmo responsorial, nelas não se diz o Glória nem o Credo. Já Santo Agostinho (+ 430) nos dá testemunho que na África já existiam as missas diárias.
Você sabia que temos 15 Solenidades e 25 Festas litúrgicas?
São 15 Solenidades e 25 Festas, com leituras obrigatórias; 64 memórias obrigatórias e 96 memórias facultativas, com leituras opcionais. O Calendário apresenta também 44 leituras referentes à Ressurreição de Jesus Cristo, além de diversas leituras para os Santos, Doutores da Igreja, Mártires, Virgens, Pastores e Nossa Senhora.
A organização das leituras próprias para cada ano dá ao católico a possibilidade de estudar toda a Bíblia, em suas partes mais importantes, tanto do Antigo como do Novo Testamento, desde que participe de todas as Missas diárias ou estude a Liturgia Diária nesse período de três anos.
Mesmo quem só participa das Missas nos domingos, ao longo dos três anos do Ciclo Litúrgico, pode meditar os principais textos bíblicos que alimentam a fé e renovam no coração a certeza da Salvação.
Cada Ano Litúrgico começa com o tempo do Advento, quatros semanas antes do Natal, e termina com a Solenidade de Cristo Rei, no último domingo do Ano Litúrgico, no mês civil de novembro.
São três anos Litúrgicos A, B e C
A Igreja quer que as leituras bíblicas da liturgia dominical voltem a ser lidas novamente após três anos. Seguindo este Ciclo dos três anos Litúrgicos A, B e C, consegue-se ter uma grande visão de toda a Bíblia. Assim, nas celebrações dominicais são proclamados textos que falam do anúncio do Messias, da Encarnação do Verbo, da Sua vida pública (missão), do anúncio do Reino, dos sinais que Jesus realizou, do chamado dos discípulos, etc., até culminar com sua morte e Ressurreição e assim se chegar à esperança da construção do Reino de Deus: a Parusia, com a solenidade de Cristo Rei do Universo.
O Ano Civil começa em 1º de Janeiro e termina em 31 de Dezembro. Já o Ano Litúrgico começa no 1º Domingo do Advento (cerca de quatro semanas antes do Natal) e termina no sábado anterior a ele. O Ano Litúrgico da Igreja tem também leituras bíblicas apropriadas para as celebrações de cada Santo em particular. O Ano Litúrgico de 2023, Ciclo A, vai apresentar nas Missas diárias o Evangelho de São Mateus. Então, é importante saber alguma coisa sobre São Mateus e sobre o Evangelho que ele escreveu.
É o primeiro Evangelho que foi escrito, em Israel, e em aramaico, por volta do ano 50. Serviu de modelo para os Evangelhos de São Marcos e São Lucas. O texto de Mateus foi traduzido para o grego, tendo em vista que o mundo romano da época falava o grego. O texto aramaico de Mateus se perdeu. Já no ano 130, o Bispo Pápias, de Hierápolis, na Frígia, fala deste texto: “Mateus, por sua parte, pôs em ordem os dizeres na língua hebraica, e cada um depois os traduziu como pode” (Eusébio, História da Igreja III, 39,16).
Também Santo Irineu (†200), que foi discípulo de S. Policarpo, que por sua vez foi discípulo de S. João evangelista, fala do Evangelho de Mateus, no século II: “Mateus compôs o Evangelho para os hebreus na sua língua, enquanto Pedro e Paulo em Roma pregavam o Evangelho e fundavam a Igreja” (Adversus Haereses II, 1,1).
São Mateus era o único dos Apóstolos habituado à arte de escrever
São Mateus era o único dos Apóstolos habituado à arte de escrever, a calcular e a narrar os fatos, pois era publicano, cobrador de impostos para os romanos, então, tinha certa cultura. Compreende-se que os próprios Apóstolos o tenham escolhido para esta tarefa. O objetivo da narração foi mostrar aos judeus que Jesus era o Messias anunciado pelos profetas, desde Moisés (1200 a.C.), por isso, cita muitas vezes o Antigo Testamento e as profecias sobre o Messias. Como disse Ernest Renan, o Evangelho de Mateus tornou-se “o livro mais importante da história universal”.
O Evangelho de São Mateus tem seis grandes partes: 1 – A Infância de Jesus (caps. 1 e 2); 2 – Começo da missão de Jesus (3-4); 3 – o Sermão da Montanha; 4 – Ministério de Jesus na Galileia (8 a 18), no cap. 13 Mateus narra sete Parábolas do Reino de Deus; 5 – Ministério de Jesus na Judeia (19 a 25); 6 – Paixão e Ressurreição de Jesus (26 a 28). É o Evangelho mais longo de todos, bem escrito e detalhado.
Portanto, o Ano A é uma oportunidade de se conhecer e meditar bem este Evangelho, escrito por alguém que conviveu com Jesus e que mostra detalhes muito importantes de Sua vida e de Seu ensinamento. É um convite para que participemos assiduamente da Santa Missa neste ano.
Vivendo bem a Liturgia, temos a oportunidade de crescer na fé, na espiritualidade, no amor à Igreja e aos irmãos.