Antes de responder à pergunta do título, é preciso definir os termos. O que é o Magnificat? O que é a Eucaristia? O Magnificat é o texto bíblico mais longo colocado na boca de Maria. Aqui, não se fala de Maria, mas é ela que fala: fala de Deus e das maravilhas que Ele realizou nela, no mundo e no seu povo.
Com a expressão Magnificat, versão latina de uma palavra grega que tinha o mesmo significado, é celebrada a grandeza de Deus, que com o anúncio do anjo revela sua onipotência, superando as expectativas e as esperanças do povo da aliança e, inclusive, os mais nobres desejos da alma humana (Lucas 1,46-56).
Frente ao Senhor, potente e misericordioso, Maria manifesta o sentimento de sua pequenez: “Minha alma proclama a grandeza (magnificat) do Senhor; alegra meu espírito em Deus, meu salvador, porque olhou para a humilhação de sua escrava” (Lucas 1,46-48).
Magnificat e a Eucaristia referem-se a uma atitude de agradecimento a Deus
Quanto à palavra Eucaristia, o Catecismo da Igreja Católica (n. 1328) oferece uma breve definição, observando que a riqueza inesgotável do Sacramento Eucarístico é manifestada mediante os vários nomes que se dão a ele, cada um evocando algum dos seus aspectos. O texto menciona os verbos gregos eucharistein (Lucas 22,19; 1 Co11,24) e eulogein (Mateus; Marcos 14,22), que guardam relação com as bênçãos judaicas nas quais se louvava e agradecia a Deus pelas Suas obras: a criação, a redenção e a santificação.
Os dois termos ‘Magnificat’ e “Eucaristia’, pois, referem-se a uma atitude de agradecimento a Deus pelos seus benefícios. A esta altura, porém, é muito interessante analisar a reflexão do Papa S. João Paulo II que mostra uma profunda ligação entre os dois termos.
De fato, no dia 17 de abril do ano de 2003, S. João Paulo II publicou uma encíclica sobre a Eucaristia. Este documento começa com a seguinte frase: “A Igreja vive da Eucaristia”. Daí, o título do texto na língua latina Ecclesia de Eucharistia. O sexto e último capítulo dessa encíclica tem o seguinte título: “Na Escola de Maria, Mulher Eucarística”. Afirma que Maria pode guiar-nos para o Santíssimo Sacramento porque tem uma profunda ligação com ele. À primeira vista, o Evangelho nada diz a tal respeito, pois a narração da instituição, na noite de Quinta-feira Santa, não fala de Maria. Mas Ela estava presente no meio dos Apóstolos, quando, “unidos pelo mesmo sentimento, se entregavam assiduamente à oração” (Atos 1,14) na primeira comunidade que se reuniu depois da Ascensão à espera do Pentecostes. E não podia certamente deixar de estar presente nas celebrações eucarísticas, no meio dos fiéis da primeira geração cristã, que eram assíduos à “fração do pão” (Atos 2, 42), a primeira expressão que foi utilizada para falar da ‘Eucaristia’. Para além da sua participação no banquete eucarístico, pode-se delinear a relação de Maria com a Eucaristia indiretamente a partir da sua atitude interior. Maria é mulher eucarística na totalidade da sua vida.
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Se a Eucaristia é um mistério de fé que nos obriga ao mais puro abandono à palavra de Deus, ninguém melhor do que Maria pode servir-nos de apoio e guia nesta atitude de abandono.
Maria praticou a sua fé eucarística
De certo modo, Maria praticou a sua fé eucarística ainda antes de ser instituída a Eucaristia, quando ofereceu o seu ventre virginal para a encarnação do Verbo de Deus. Existe, pois, uma profunda analogia entre o fiat pronunciado por Maria, em resposta às palavras do Anjo, e o amém que cada fiel pronuncia quando recebe o corpo do Senhor.
Ao longo de toda a sua existência ao lado de Cristo, e não apenas no Calvário, Maria viveu a dimensão sacrificial da Eucaristia. Ela, pois, ouviu o velho Simeão anunciar que aquele Menino teria sido ‘sinal de contradição’ e que uma ’espada’ havia de trespassar também a alma d’Ela (Lucas 2, 34-35). Maria, então, vive uma espécie de ‘Eucaristia antecipada’, dir-se-ia uma ‘comunhão espiritual’» de desejo e oferta, que terá o seu cumprimento na união com o Filho durante a Paixão.
Entrar na escola de Maria
E na Eucaristia, ‘memorial’ do Calvário, está presente tudo o que Cristo realizou na sua paixão e morte. Por isso, não pode faltar o que Cristo fez para com sua Mãe em nosso favor. De fato, entrega-Lhe o discípulo predileto e, nele, entrega cada um de nós: ‘Eis aí o teu filho’. E de igual modo diz a cada um de nós também: ‘Eis aí a tua mãe’ (João 19, 26-27).
Viver o memorial da morte de Cristo na Eucaristia significa também levar conosco, a exemplo de João, Aquela que sempre de novo nos é dada como Mãe. Significa ao mesmo tempo assumir o compromisso de nos conformarmos com Cristo, entrando na escola da Mãe e aceitando a sua companhia.