Humanidade de Jesus

Ano litúrgico: o ano B dedicado ao evangelho de São Marcos

Caro leitor, no artigo anterior, que pode ser acessado aqui, vimos que existem três ciclos de anos litúrgicos que vão imprimindo contornos próprios na liturgia de cada ano, são eles o Ano A, o Ano B e o Ano C. No Ano A temos a predominância da leitura do Evangelho de São Mateus; no Ano B, do Evangelho de São Marcos e no Ano C do de São Lucas. Neste segundo artigo, apresentaremos de maneira mais específica as particularidades do Ano B que corresponde ao ciclo litúrgico que teve início na última semana do mês de novembro de 2020 e se encerrará em novembro de 2021.

Vimos também que as leituras da liturgia dominical do Ano B enfocam o Evangelho de São Marcos. Apenas a título de curiosidade, o Evangelho de Marcos, ao que tudo indica, foi redigido anonimamente por algum membro da comunidade, ou seja, o seu autor é desconhecido. Somente no final do século I, a tradição atribuiu a Marcos a composição da obra. Esse Marcos corresponderia ao tal João Marcos, primo (ou sobrinho) de Barnabé, aquele mesmo que aparece diversas vezes no livro dos Atos dos Apóstolos.

Ano litúrgico: o ano B dedicado aos evangelhos de São Marcos

Foto Ilustrativa: by Getty Images /coldsnowstorm

A Igreja local em que foi escrito este Evangelho estava enormemente aberta à missão, ou seja, ela se encontrava comprometida com o anúncio e com os ensinamentos de Jesus aos pagãos. Considera-se, pois, que tais missões apostólicas possuíam caráter itinerante de modo que aqueles cristãos se colocavam no caminho e realizavam sua missão sempre de dois em dois. Além disso, o local de pouso desses homens eram mais comumente as casas dos outros cristãos ao longo do percurso. Assim, a evangelização era difundida por toda a parte, de casa em casa.

São Marcos o evangelista do ano B

Durante muitos séculos, as leituras nas Missas dominicais eram retiradas, na maioria das vezes, do Evangelho de Mateus. Após a renovação litúrgica feita pelo Concílio Vaticano II, houve uma importante reestruturação na escolha dos Evangelhos que seriam proclamados aos domingos. Dessa forma, o Evangelho de Marcos tornou-se o “Evangelho do ciclo B” lido, geralmente, de janeiro a novembro a cada três anos, por exemplo, 2021, 2024, 2027, 2030 etc.

Para nos aprofundarmos um pouco mais, os temas desenvolvidos na narrativa do Evangelho de Marcos não apenas tinham grande apelo para a comunidade cristã de sua época, mas possuem, ainda hoje, enorme importância para a comunidade cristã dos nossos tempos. Assim, torna-se salutar para todos os cristãos a meditação de alguns temas presentes neste Evangelho, por exemplo, a humanidade de Jesus, a confiança como o centro do discipulado e a atitude de serviço que cada cristão deve se colocar. Com isso, a experiência litúrgica do Evangelho de Marcos pode ser bastante formativa, especialmente no que diz respeito ao tão necessário chamamento diário ao serviço do reino, marca do cristão.

Com relação à humanidade de Jesus, Marcos é aquele que soube a narrar de maneira mais cristalina. Em seu Evangelho, encontramos um Jesus que se entristecia, se indignava e até mesmo se irritava (cf. Mc 3,5). Assim, Jesus é apresentado como um ser humano verdadeiro a ponto de ficar, muitas vezes, desanimado por não conseguir fazer com que os discípulos compreendessem sua missão. Além disso, esse Jesus, embora fosse Deus, era bastante acessível porque experimentou como os demais seres humanos desapontamentos, alegrias e tristezas.

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Você deposita sua confiança em Deus como São Marcos?

Se acompanharmos bem atentamente o desenvolvimento desse evangelho na liturgia da Palavra deste ano de 2021, perceberemos que a confiança em Deus é o sinal mais verdadeiro daquele que é discípulo de Jesus Cristo. Cabe aqui, uma pergunta: “até que ponto somos capazes de depositar a nossa confiança em Deus?”. Este evangelho nos exorta que esta confiança em Jesus precisa ser radical e irrestrita, independentemente daquilo que possamos estar vivenciando.

Por fim, o terceiro apelo que pode ser percebido no Evangelho de Marcos relaciona-se à atitude de serviço. O cristão é aquele que se coloca como o “escravo de todos”. Atualmente, no mundo em que vivemos, esta atitude de humildade é completamente incompreensível tendo em vista a tão disseminada ideia de que o servo, o criado não passa de um subalterno insignificante. Contrapondo este pensamento secular, Jesus se apresenta como aquele que serve os outros em vez de ser servido. Não é a toa que encontramos a seguinte passagem nesse Evangelho: “[…] aquele que dentre vós quiser ser grande, seja o vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos.” (cf. Mc 10, 43-44).

Nestes dois breves artigos, tivemos a oportunidade de conhecer de maneira geral os Ciclos Litúrgicos e, mais detalhadamente, algumas características do Ano B. Contudo, seria impossível abarcar todo o seu conteúdo, sua importância e beleza em tão poucas linhas. Sendo assim, quero te convidar a vivenciar com muita atenção e fervor tudo aquilo que a Santa Liturgia nos oferecer como alimentos neste ano. Certamente, seremos nutridos e fortificados por eles para podermos levar a cabo a missão a qual Deus nos confiou.

Deus abençoe você e até a próxima!

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