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Vida e exercício de caridade de São Vicente de Paulo

São Vicente de Paulo nasceu, aos 24 de abril de 1581, na aldeia de Pouy, nas “Landes”, França. Seu pai se chamava João de Paulo, e sua mãe Bertranda de Moras. Tinham uma pequena propriedade de que tiravam a subsistência para a família, composta de seis filhos. Vicente que era o terceiro filho, trabalhava no campo com o pastoreio dos rebanhos.

Ele se entregou sem reserva ao sacerdócio. Por meio de suas obras, como a Congregação da Missão, a Companhia das Filhas da Caridade, as Conferências de São Vicente de Paulo e a todas as obras de inspiração vicentina podemos ver o quanto a Igreja valoriza o grande trabalho apostólico e caritativo desse gigante da fé, onde ardia a chama da caridade evangélica (cf. Lc 12,49).

Sua vida é fascinante. Depois de ordenado sacerdote, ele passou por uma escravidão em Túnis, e acabou sendo vendido a um senhor que o libertou; em seguida, foi para Paris. Tornou-se capelão da rainha Margarida, aproximando-se da miséria humana, que era grande em Paris. De modo especial, trabalhou no novo Hospital da Caridade. 

Vida e exercício de caridade de São Vicente de Paulo

Conheça a vida de caridade que São Vicente de Paulo levou em prol dos mais pobres e necessitados

Nesta época, o Cardeal de Bérulle, fundador do Oratório na França, enviou-o como pároco a Clichy-la-Garenne, na periferia de Paris. Como educador dos filhos do General das Galeras, em seus castelos e propriedades do interior, ele pôde ver a grande miséria material e espiritual do povo do campo. Isso mudou a sua vida. Pediu ao Cardeal Bérulle e se tornou pároco da pobre Châtillon-des-Dombes. Ali, ele começou sua grande obra de caridade, fazendo a “organização da caridade”. O serviço dos pobres era sua vida, nos primeiros vinte anos de sacerdócio, sempre guiado pelos acontecimentos e pela Providencia Divina, como ele dizia, sem “passar-lhe por cima”. 

O resto do seu tempo era repartido entre o confessionário, o catecismo, a oração e o estudo. Muitas famílias inteiras, que estavam infeccionadas pelo calvinismo, por sua diligência, reconciliaram-se com a Igreja e vários membros delas acabaram abraçando a vida religiosa. 

Para ampliar o trabalho pelos pobres, São Vicente começou a reunir os sacerdotes que desejassem viver, sob a orientação dos bispos, à salvação do pobre povo do campo, por meio da pregação, da catequese e das confissões gerais sem retribuição nenhuma. 

Caridade que contagia

Os seguidores de São Vicente se multiplicaram a ponto de o pobre “Asilo dos Bons Meninos” não poder mais os abrigar. Pela Providência Divina, Adriano Bom, Prior de São Lázaro, ofereceu ao santo a casa e as terras do seu priorado, conhecido pelo nome de São Lázaro, antigo hospital de leprosos e vasta construção onde permaneceram até o fim do século XVIII. Daqui, vem o costume de se chamarem “Lazaristas” os padres congregados de São Vicente. 

Assim surgiu, em 1632, o “Priorado de São Lázaro”, os “lazaristas”, que cresceu rapidamente, implantando-se em cerca de quinze dioceses para missões paroquiais e fundação de “Caridades”. 

São Vicente exigia de seus companheiros “o espírito de Nosso Senhor”, com as cinco virtudes fundamentais: simplicidade, mansidão em relação ao próximo, humildade, mortificação e zelo. Aos que partiam para pregar o Evangelho, ele dizia: “trata-se não de se fazer amar, e sim de fazer amar Jesus Cristo”. A criada Congregação da Missão chegou até a Itália, Irlanda, Polônia, Argélia e Madagáscar. 

Para ter padres bem instruídos, os “lazaristas” começaram a fundar  seminários atendendo os apelos do Concílio de Trento. Em 1628, com as “Conferências das Terças-feiras” para os padres, formaram-se sacerdotes exemplares, como  o bispo Bossuet. 

A Companhia das Filhas da Caridade

São Vicente soube dar dinamismo às numerosas “Caridades”, dando-lhes uma estrutura de unidade e eficiência. Santa Luísa de Marillac, viúva de António Le Gras, iniciada à vida espiritual por São Francisco de Sales,  sob a sua orientação, muito ajudou neste trabalho. Com ela, a 29 de novembro de 1633, nascia a “Companhia das Filhas da Caridade”, recebendo de São Vicente um regulamento original e exigente:

 “Tereis por mosteiros a sala dos doentes. Por cela, um quarto de aluguel; como capela, a igreja paroquial; como claustro, as ruas da cidade; como clausura, a obediência; como grade, o temor de Deus; como véu, a santa modéstia.” “Deveis fazer o que o Filho de Deus fez na Terra; a estes pobres doentes, deveis dar a vida do corpo e a vida da alma”. 

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Assim, milhares de mulheres consumaram a vida na caridade aos mendigos, aos prisioneiros, marginais, excepcionais, analfabetos e crianças abandonadas. Com os ricos, procurava torná-los generosos para com os pobres. Ele soube mostrar que a beleza do verdadeiro feminismo está na ternura e na misericórdia que sempre necessitará a humanidade.

Não fazia distinções

São Vicente não jogava os ricos contra os pobres, ao contrário, aproximava o rico do pobre, queria trazê-los a uma estima e amizade recíprocas, mostrando que o pobre e o rico têm igual necessidade um do outro. Para isso, criou a “Confraria de Caridade” para aproximar os pobres dos ricos. Com a ajuda de senhoras piedosas, angariava e dava os socorros aos pobres doentes da localidade.

Com uma dedicação sem limites, visitava-os, levava-lhes alimento, remédios, consolações e exortações em nome d’Aquele que também foi condenado por amor dos pecadores

“Quando os pintores querem representar a caridade, diz o primeiro biógrafo de São Vicente, pintam-na, geralmente, com crianças nos braços. Assim deveriam pintar Vicente de Paulo.”

Em suas caridades, São Vicente não só mandava enterrar os mortos cujos cadáveres ficavam, às vezes, sem sepultura, dias e mais dias, nas cidades e pelos campos despovoados, mas também suscitava, em toda parte, “companhias aéreas” que não são outra coisa senão sociedade de limpeza pública, para purificar o ar e o solo das imundices que os infeccionavam.

Reconhecimento de São Francisco de Sales

Em 1619, São Francisco de Sales veio a Paris. Logo que os dois santos se encontraram, São Vicente ficou encantado pela expressão de pureza angélica de São Francisco e que, depois de o ter visto, declarou que lhe parecia ter visto o Filho de Deus conversando com os homens. Por sua vez, São Francisco de Sales publicou que não tinha encontrado sacerdote tão caridoso, tão prudente e dotado de tamanho talento para dirigir as almas, no caminho da mais alta perfeição, como Vicente de Paulo. 

Quando faziam ver ao servo de Deus que a comunidade gemia sob o peso de tantos gastos, respondia, sorrindo, que a Providência havia de prover as suas necessidades, e que eles deviam julgar-se felizes por serem instrumentos de Deus para operar tão grandes frutos de misericórdia

Um dia, o Abade Saint Cyran sustentou, diante de Vicente, um dos erros de Calvino, condenado pelo Concílio de Trento. O santo disse: “Como quer que acredite antes num doutor particular, como é o senhor, sujeito ao erro, do que em toda a Igreja, que é a coluna da verdade?”. Ao que Saint Cyran replicou: “O senhor é um ignorante que não merece estar à frente de sua comunidade”. “O Senhor tem razão, disse Vicente, sou realmente um ignorante, mais ignorante do que julgais”.

Suas inúmeras obras

São Vicente criou muitas obras: a Capelania da Corte, para o magistério dos pobres; a Fundação das Senhoras de Caridade, para os  hospitais, asilos para os velhos e refúgios para as mulheres decaídas. Trabalhou na reforma do clero, promoveu retiros eclesiásticos, fundação dos seminários, missões aos camponeses, cuidou dos leprosos, dos loucos, dos refugiados de guerra, dos mendigos, dos condenados etc.

 Ele dizia que “quanto mais humilde for alguém tanto mais caridoso será para com o próximo”. “Se nos livrarmos do amor próprio um quarto de hora antes de morrer, podemos dar graças a Deus. “O demônio não sabe se defender diante da humildade, porque ele é soberbo”.

São Vicente sofreu de muitas enfermidades, mas nunca reclamava. Ele dizia:

”Peço-vos a graça de conhecer o precioso tesouro, que está encoberto nas enfermidades. Essas purificam a alma e servem de meio eficaz para adquirir as virtudes àqueles que não as têm, e abrem ao enfermo bem largo caminho para praticar a fé, a esperança, a conformidade com a divina vontade e todas as demais virtudes. Devemos, pois, persuadir que elas não são males para fugir-se, senão meios proporcionados para santificar nossas almas; e querer lançá-los fora, quando Deus no-los manda, não é outra coisa senão apartarmo-nos do nosso bem”.

Na segunda-feira, 27 de setembro de 1660, às 4h30 da manhã, Deus o chamou a si no momento em que seus filhos espirituais, reunidos na igreja, começavam a oração. Morreu aos 84 anos de idade e 60 de sacerdócio. 

Fonte: Padre Guilherme Vaessen. São Vicente de Paulo. Vida Breviada. 2. ed. 1958. Editora Mensageiro. Salvador. Bahia.

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Felipe Aquino

Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino