Santo Antônio de Sant’Anna Galvão (1739-1822), frade franciscano, inspirado na devoção a Imaculada Conceição, concebeu as pílulas da fé. Um sacramental que acompanha os devotos do primeiro santo brasileiro.
Antes de qualquer outro comentário acerca das pílulas, é válido recordar que Frei Galvão é um santo mariano. Conforme a tradição, quem professava na Ordem dos Frades Menores, fazia o juramento de ser um fiel defensor da proclamação do dogma da Imaculada Conceição:
“Prometo por estes santos evangelhos, até a conclusão que a Virgem Maria Nossa Senhora foi concebida sem pecado original, pelos merecimentos de nosso Senhor Jesus Cristo, seu Santíssimo filho” (antiga fórmula da profissão). A profissão do defensor da Imaculada Conceição se deu no ano de 1761.
Uma grande devoção a Imaculada Conceição
Houve aqueles que testemunharam na academia essa compreensão. Como foi o caso de Duns Scotus (1266-1308) e tantos outros frades. Mas os que, como Frei Galvão, defendiam em atos piedosos. Portanto, está nas pílulas de Frei Galvão não tão somente uma oração piedosa atribuída a Maria. Mas uma compreensão teológica, isto é, a consciência teológica a respeito daquela que em seu seio trouxe o Salvador da humanidade, e foi preservada de toda a mancha de pecado. O dogma da Imaculada antes Conceição tem como seus grandes incentivadores e defensores, os franciscanos. E Frei Galvão usa desse meio sacramental para celebrar este mistério da vida de Maria e ao mesmo tempo manifestar a sua realidade a toda Igreja.
Quero imaginar – e convido ao leitor a fazer o mesmo – Frei Galvão em todas as suas falas e manifestações, exaltando a Imaculada Conceição. Em seus sermões, catequeses, ensinamentos acadêmicos, na escrita, nos ensinamento aos noviços, juntos aos fiéis professando o tamanho privilégio dado a Mãe de Jesus Cristo.
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Outro dado encantador na vida de Frei Galvão e que é importante fazê-lo conhecido é a sua consagração total a Nossa Senhora. Frei Galvão manifestou sua pertença a Maria Imaculada na sua carta de escravidão. Em 1766, assina a cédula de consagração irrevogável a Virgem Santíssima. Assinando com sangue do peito – e quero aqui imaginar do lado esquerdo do peito, lado do coração – seu amor integral a Maria. Invocando sobre si próprio a cólera de Deus, caso deixasse de venerar, louvar e defender a Mãe de Deus e nossa:
“Saibam todos quantos esta carta e cédula virem, como eu, Frei Antônio de Sant´Anna Galvão, me entrego por filho e perpétuo escravo da Virgem Santíssima, minha Senhora, com doação livre, pura e perfeita de minha pessoa, para que de mim disponha conforme sua vontade, gosto e beneplácito, como verdadeira mãe e Senhora minha…”
Surgimentos das pílulas milagrosas
As pílulas da fé estão todas elas envoltas dessas manifestações carismáticas. Mas como ela surge e chega até nossos dias?
“Conta a tradição que, certa ocasião, Frei Galvão foi a Guaratinguetá para pedir recursos para a construção do Mosteiro da Luz. Terminada sua missão, tinha que regressar por causa de compromissos no convento. Nisso, alguns homens vieram pedir que ele fosse até uma fazenda distante rezar por um amigo deles que estava padecendo com uma pedra no rim há dias. O homem estava padecendo de tanta dor. Impossibilitado de ir até lá, Frei Galvão teve uma inspiração: escreveu num pedacinho de papel uma frase do ofício de Nossa Senhora: “Depois do parto, ó Virgem, permaneceste intacta: Mãe de Deus, intercedei por nós”. Frei Galvão embrulhou o papelzinho em forma de pílula e deu aos amigos do doente dizendo que ele tomasse aquilo com fé, rezando o terço de Nossa Senhora. Mais tarde, espalhou-se a notícia da cura daquele doente”.
Outra narrativa diz que, um dia, Frei Galvão foi procurado por um homem aflito: “Sua esposa estava em trabalho de parto há quase um dia e corria risco de morte. O religioso fez três pílulas e deu ao homem com as mesmas recomendações. O homem levou as pílulas para a esposa, que as tomou e conseguiu dar à luz um filho com saúde. Daí em diante, a fama das pílulas de Frei Galvão se espalhou. O povo começou a procurá-las de tal maneira, que ele teve que pedir às irmãs do Recolhimento que produzissem as pílulas. Depois, ele as abençoava e as irmãs distribuíam para o povo. Desde esse tempo, há inúmeros relatos de graças alcançadas através das Pílulas de Frei Galvão”.
O último milagre do santo
Cito o último relato de graça que deu a Frei Galvão as honras do altares. O milagre por intermédio das pílulas se deu no ano de 1999. Uma mãe, Sandra Grossi de Almeida, 37 anos, sofria de uma má-formação do útero, mas conseguiu ter o filho mesmo após dois abortos espontâneos – um deles de gêmeos. Durante a terceira gravidez, ela tomou as pílulas do frei Galvão, pedindo a graça da maternidade. Este foi considerado pelo Tribunal Eclesiástico o segundo milagre atribuído ao frade franciscano.
Estes sacramentais piedosos são motivos da busca de muitos fiéis, do Brasil e do mundo. Abençoadas, as pílulas de Frei Galvão dão acesso às graças de Deus. São sinais de esperança para uma vida marcada pela dor. São manifestações simples, de uma realidade que transcende o chão de nossas vidas. São letras deitadas sobre pequenos papéis, declarando a grandeza e o patrocínio de Maria às vidas de filhos e filhas desvalidos.
Reze a oração a Frei Galvão:
Frei Leandro Costa Santos, OFM
Responsável pela comunicação no Santuário de Frei Galvão
@freicost