Comunhão profunda com Deus
Santa Catarina de Sena (1347-1380), mística e doutora da Igreja, também Padroeira da Europa, é uma das figuras mais importantes da espiritualidade cristã. Oriunda de Sena na Itália, Catarina vive e é levantada por Deus em um período turbulento da Igreja e do mundo. Sua expressiva presença nesta época se dá, primeiro, pela sua comunhão profunda com Deus, muito visível em sua oração fervorosa e fé inabalável. E, não menos importante, dentre suas inúmeras virtudes, destacam-se sua grande sabedoria e o seu amor fiel à Igreja.

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Desde a sua juventude, Catarina foi cercada de experiências místicas, inclusive extraordinárias, como: visões de Nosso Senhor e da Virgem Santíssima. Unida à Paixão de Jesus, teve a experiência dos estigmas. Diante dos jejuns, foi sustentada durante longo tempo somente pela Eucaristia. Como sinal de sua pertença e entrega total à obra de Deus, consagra a sua virgindade e passa a cuidar dos pobres e enfermos.
Amor operante pela Igreja em uma época desafiadora
Sua época (séc. XIV) é marcada por diversos desafios: o exílio do papado em Avignon na França, a corrupção moral de muitos clérigos, disputas de poder dentro e fora da Igreja. A voz e os escritos de Catarina de Sena surgem, justamente, nesse período como uma luz e direção que exorta e recorda o grande valor da busca pela santidade aos fiéis, inclusive aos altos prelados e governantes de seu tempo.
Seu amor pela Igreja foi operante, reconhecia as feridas do Corpo Místico de Cristo, mas não se afastava dele. Tinha a Igreja como a “Doce Esposa de Cristo”. Um dos fatos categóricos de seu apostolado e de seu ímpeto foi o esforço para que o Santo Padre retornasse a Roma. Ela, então, escreve várias cartas ao Papa Gregório XI, exortando com espírito filial, para que o Sumo Pontífice retornasse à Sé Apostólica em Roma, pois isso favoreceria a unidade visível e espiritual da Igreja.
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Igualmente, atuante em diversos conflitos eclesiais e políticos, pôde cooperar como mediadora da paz. Por meio de suas cartas, auxiliou e iluminou os líderes em suas decisões e consagrados em suas missões. “Catarina dirigia-se com o mesmo vigor aos eclesiásticos de qualquer nível, para pedir a mais severa coerência na própria vida e no seu ministério pastoral.
O bom combate por meio da oração, verdade e fidelidade
De certo modo, impressiona o tom livre, vigoroso e perspicaz com o qual ela repreende padres, bispos e cardeais. Tratava-se de erradicar, dizia ela, do jardim da Igreja, as plantas murchas, substituindo-as com “plantas novas”, frescas e perfumadas”. Dessa maneira, pôde contribuir com a renovação espiritual da Igreja, e dizia que a beleza da Esposa de Cristo se desenvolve “não com guerras, mas com a paz, a tranquilidade, com orações humildes e contínuas, com o suor e as lágrimas dos servos de Deus”. Essa renovação “tratava-se, portanto, de uma reforma interior, e depois exterior, mas sempre em comunhão com os legítimos representantes de Cristo e obediência filial aos mesmos”.
Reconhecida, oficialmente, como Doutora da Igreja, em 1970, por São Paulo VI e proclamada Padroeira da Europa, em 1999, por São João Paulo II, essa grande santa continua a servir como fonte de inspiração para aqueles que, diante dos desafios enfrentados na Igreja, optam por não se afastar nem por criticar de forma destrutiva, mas combatem o bom combate por meio da oração, da verdade e da fidelidade. Sua trajetória nos ensina que amar a Igreja é, antes de tudo, amar Cristo, que é a Cabeça do Corpo, e colaborar com Ele na grandiosa obra da redenção. E quando Deus nos chamar um dia, que tenhamos a mesma graça e paz de dizer como ela: “Tenho certeza, caríssimos, que dei a vida pela Santa Igreja”.
Santa Catarina de Sena, rogai por nós!
Referências:
JOÃO PAULO II. Spes Aedificandi, 7.
CATARINA DE SENA. Diálogo, XV e LXXXVI.
PAULO VI. Homilia na Proclamção de Catarina de Sena como doutora da Igreja em 4.10.1970.
Beato Raimundo de Cápua. Vida de Santa Catarina de Sena, III, c. IV.
Pe. Thiago da Silva Nascimento
Arquidiocese do Rio de Janeiro
Mestre em Teologia pela Pontificia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Mestrando em Direito Canônico pela Pontificia Università della Santa Croce em Roma