✝️ Jubileu Missionário

Passado e presente na evangelização do Brasil - II

As bases de uma nova missão

Do trabalho exaustivo dos missionários, sozinho e a pé: as sementes vão sendo lançadas. Depois das muitas tensões entre portugueses e indígenas em São Vicente (1530-1563), e da luta para expulsar os franceses na baía da Guanabara (1555-1567), os jesuítas precisaram recomeçar. O trabalho humanitário que transferiu os Temiminós – povo tupi que habitou a Ilha do Governador, Niterói – para o Espírito Santo (1561) lança as bases de uma nova forma de realizar a missão.

Créditos: Domínio Público.

Nesta nova fase, agrupam-se inúmeras nações de indígenas trazidos dos sertões, sob a autoridade de líderes tribais, com terras repartidas e com o acompanhamento dos jesuítas. Muitas vezes, estavam no mesmo território nações que eram no passado inimigas, demandando uma grande organização interna que superasse essas dificuldades.

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A vinha, no tempo certo, dará seus frutos

De fato, “a vinha não era estéril”, porque, no tempo certo, ela dará seus frutos. A experiência portuguesa foi em tudo escola para aquilo que os jesuítas espanhóis aplicariam nas reduções no Paraguai. A Companhia operará várias mudanças no perfil de missionário, reconhecendo que esses valentes varões oferecem ao carisma algo que o identifica.

Como disse o Padre Manuel da Nóbrega (1517-1570), os melhores indígenas para a conversão são os guaranis. Por isso, quando o Senhor transplantou sua vinha para o sul, já sabiam os missionários como organizar os indígenas, aprimorar suas habilidades artísticas e valorizar seu espírito combativo e sensível para as artes.

Nasce uma diversidade de ofícios e habilidades

A complexidade que o trabalho missionário alcançou não se reduziu às competências dos missionários no falar a língua indígena e ensinar a doutrina. Nos colégios, nas oficinas e ervais nascerá uma diversidade de ofícios e habilidades que exigirá um novo tipo de missionário.

Para colaborar com esta nova demanda, começam a enviar às Américas arquitetos, músicos, astrônomos, dramaturgos, médicos e artesãos. A diversidade de ofícios e saberes exigidos pelos guaranis só se aproxima hoje àquilo que chamamos de escolas de ofício.

A proposta cristã: um Deus apaixonado, que se dá na cruz para salvar

A forma original como os jesuítas conjugaram o imaginário indígena e a novidade do Evangelho abriu espaço para uma fé genuína. O espírito guerreiro dos guaranis encontrou, na fé cristã, os elementos existenciais que faziam vencer a disjunção, os medos do passado e a tensão do espírito jaguar. A proposta cristã, firmada na figura de um Deus apaixonado, que se dá na cruz para salvar, tornou-se a base daquilo que se chamou por “Evangelho Feliz”.

A melhor imagem dessa verdade para as populações locais era ver as crianças indígenas brincando, cantando, dançando e correndo livres.

Vínculos de pertencimento

A Boa Nova do Evangelho foi traduzida em gesto, signo e palavra, não se limitando a ser mera repetição dos esquemas ou opções culturais da igreja colonial. Os valores que dignificavam a vida humana e que construíam uma sociedade firmada na partilha foram identificados com o programa aplicado nas reduções. A distribuição de cargos, responsabilidades e competências não era sinônimo de exclusão social, pois as raízes comunitárias sempre foram mais fortes.

Esses vínculos de pertencimento reforçavam a forma como os jesuítas se reconheciam como membros integrantes do novo tecido social.

A experiência transformadora dos Exercícios Espirituais

Muito dessa criatividade encontra seu lugar na experiência transformadora dos Exercícios Espirituais. Os exercícios não são apenas um método de oração, mas, sim, uma pedagogia que conforma sua visão de mundo e seu modo de proceder como missionário. Ser enviado em missão, buscar os melhores meios e práticas com foco nos resultados, dar atenção aos processos e delimitar seus itinerários pedagógicos são alguns elementos mais marcantes.

O espírito combativo dos povos originais ganhava, no teatro, um novo palco, fazendo as populações locais se engajarem na luta transcendental entre os santos e anjos.

Pe. Felipe de Assunção Soriano, S.J.