A vida da padroeira da televisão
Celebrada pela Igreja em 11 de agosto, dia da sua morte, em 1253, Santa Clara é reconhecida como padroeira da televisão. Sua história traz lições profundas para os meios de comunicação católicos hoje.
Contemporânea de São Francisco de Assis e inspirada por seu amor a Jesus e à vida de pobreza, Clara decidiu abandonar seu lar abastado para seguir a Cristo, rejeitando inclusive uma proposta de casamento. Aos 18 anos, em um Domingo de Ramos, fugiu de casa e dirigiu-se à Porciúncula, a fim de servir a Deus, como Francisco. Seu gesto radical atraiu dezenas de outras, entre elas sua mãe e irmãs. A elas, o santo de Assis deu o nome de “Pobres Damas”.

Créditos: Domínio Público
Clara fundou a Ordem das Clarissas, ramo feminino da família franciscana. Forte e determinada, foi a primeira mulher a escrever uma Regra, aprovada por Gregório IX e ratificada por Inocêncio IV. Dois anos após sua morte, foi canonizada pelo Papa Alexandre IV em 1255.
O que conectou Santa Clara com a Televisão?
Entre os inúmeros milagres da vida Clara, destaca-se um ocorrido numa noite de Natal. Impedida de participar da celebração por causa de sua debilidade física, Clara orou intensamente e conseguiu assistir à Santa Missa, projetada milagrosamente na parede de sua cela, no exato momento em que ocorria na Porciúncula. Por esse motivo, o Papa Pio XII a declarou padroeira da televisão.
O que o milagre de Santa Clara revela às TVs católicas?
No Brasil, desde que começou a operar, na segunda metade do século XX, a TV tem moldado a cultura, o comportamento e até mesmo o modo de pensar das pessoas — tanto de forma positiva quanto negativa. Contudo, os meios de comunicação, por si mesmos, não são bons nem maus, pois tudo depende do uso que fazemos deles.
O milagre ocorrido com Santa Clara, no século XIII, pode ser interpretado também como uma profecia que se concretizaria, aproximadamente, 700 anos depois. O fato nos leva a considerar que a televisão possui, de certo modo, uma vocação religiosa — um potencial para transmitir a fé, permitindo que experiências vividas em um determinado espaço possam ser, ainda que de forma distinta, compartilhadas por pessoas de outros lugares, como ocorreu com Clara.
Como missionária da Comunidade Canção Nova há mais de 25 anos, ouvi incontáveis testemunhos de pessoas que foram tocadas por Deus ao assistir a um programa ou transmissão da TV Canção Nova.
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O olhar da Igreja sobre as televisões católicas
Na carta apostólica em que proclama Santa Clara como padroeira da televisão, o Papa Pio XII, afirma:
“E a Igreja, que nunca se mostrou contrária ao progresso da civilização e da tecnologia, incentiva essa nova ajuda [a da televisão] trazida à cultura e à vida cotidiana, e até mesmo a utiliza de bom grado para o ensino da verdade e a expansão da religião. Entre essas invenções tão úteis, a televisão tem seu lugar (…) Que Clara, portanto, proteja esta técnica e dê ao translúcido aparelho o poder de fazer brilhar a verdade e a virtude, sustentáculos necessários da sociedade.”
Pio XII também reconhece os riscos que a televisão pode trazer, justificando, assim, a escolha de Santa Clara como sua patrona: “Este maravilhoso instrumento pode ser fonte de bens muito grandes, mas também de profundas desgraças, devido à singular atração que exerce sobre os espíritos no interior do lar familiar.”
Desafios atuais para as televisões de inspiração católica
Diante do que a Igreja espera deste meio de comunicação, exposto nestas citações de Pio XII, percebemos que, entre os desafios atuais das emissoras de inspiração católica estão:
Clareza no objetivo
Uma das principais missões que se espera da televisão católica é a propagação da experiência de fé e do trabalho dos cristãos no mundo, servindo também à cultura e à vida cotidiana das pessoas. É essencial ter objetivos claros, que devem estar refletidos na grade de programação, nos temas abordados, nos formatos utilizados e também na linguagem.
Determinação
Assim como Santa Clara foi firme em suas escolhas, os que dirigem uma televisão católica, propondo-se servir á fé, não devem se deixar levar pela lógica dos grandes conglomerados de comunicação. Precisam assumir a responsabilidade de comunicar a partir da perspectiva do Evangelho de Cristo. É fundamental avaliar, constantemente, se os conteúdos estão alinhados com a instituição que representam, ou se estão cedendo às pressões externas.
Sustentabilidade financeira coerente
Manter o funcionamento de uma emissora exige altos recursos. Para isso, é necessário recorrer a anunciantes e parcerias. No entanto, para as televisões católicas, é importante discernir se tudo o que se apresenta como oportunidade comercial está ou não de acordo com sua missão. Como afirmou Pio XII, essas emissoras têm a responsabilidade de “fazer brilhar a verdade e a virtude”. Sendo assim, a coerência deve estar presente até mesmo nas decisões comerciais. Santa Clara não hesitou em priorizar o Reino de Deus (cf. Mt 6,33).