Hoje é possível ser santo
Nos últimos anos, a vida e a espiritualidade de Carlo Acutis têm suscitado um grande interesse em várias partes do mundo. Ele é realmente visto como um santo dos nossos dias e, por isso, tem uma mensagem de certo modo profética: também hoje é possível ser santo.

Beato Carlo Acutis /Foto: carloacutis.com
No entanto, em Carlo, o que popularmente se espera da santidade não encontramos: ele não é alguém separado do mundo, distante e abstraído da realidade. Muito pelo contrário: o vemos como um adolescente normal, igual aos outros, vestido de calças jeans, jogando videogame, com gosto e talento para a informática, no meio dos amigos, como aquela fotografia no final de uma partida de futebol em que ele foi goleiro. É um jovem em tudo normal, mas precisamente nessa normalidade ele soube viver uma vida sobrenatural.
Virtude heroica
Ficamos assustados porque, muitas vezes, temos uma ideia errada do que significa a santidade. Quando nos processos de beatificação e de canonização ouvimos falar em «virtude heroica», com facilidade podemos achar que isso é algo que não se destina a todos os cristãos, a todos aqueles que são chamados a uma «vida média» no quotidiano mais ou menos turbulento da sociedade em que vivemos. No entanto, falar em virtude heroica não significa falar no «Super-homem cristão». Como escreveu Joseph Ratzinger em 2002: «Virtude heroica não significa que o santo faz uma espécie de “ginástica”, de santidade, algo que as pessoas normais não conseguem fazer». Antes pelo contrário, e continua mais à frente: «Virtude heroica propriamente não significa que alguém fez grandes coisas sozinho, mas que, na sua vida, aparecem realidades que ele não fez, porque foi transparente e disponível para a obra de Deus. Ou, por outras palavras, ser santo não é mais do que falar com Deus como um amigo fala com outro amigo. Eis a santidade».
Carlo nasceu no dia 2 de maio de 1991 e faleceu no dia 12 de outubro de 2006, apenas com 15 anos de idade. Neste percurso, vemos como Deus o guiou, tantas vezes de forma silenciosa e misteriosa. Por exemplo, quando tudo indicava que poderia não ter uma educação cristã profunda, os pais contrataram uma babá católica de origem polonesa, que desde cedo ensinou àquela criança quem era Jesus e que devia rezar muito. Desde cedo, Carlo sentiu-se chamado a procurar Deus, o que o levou a aprofundar a fé e a viver com a presença de Deus mais constante. Corajoso, não tinha medo de testemunhar a fé nos mais variados ambientes, quer fosse com amigos dos pais, quer fosse na escola.
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Carlo nos desafia a não fugir ao desafio da santidade!
Em tudo isto, vemos o que é o extraordinário da vida de Carlo: se por um lado foi um jovem totalmente normal, ao mesmo tempo foi profundamente extraordinário. Melhor: soube fazer de modo extraordinário aquilo que é mais habitual e corriqueiro. Por exemplo, quando ia de bicicleta de casa para a escola, podia simplesmente fazer esse percurso. Contudo, usava essa oportunidade como forma de ir cumprimentar e falar com os porteiros dos vários condomínios, muitos deles migrantes, e assim mostrar amizade, simpatia e proximidade. Também conseguiu ajudar na conversão de algumas pessoas.
Outra coisa que é normal num jovem é receber a mesada, confiada pelos pais. Como outros adolescentes, Carlo esperava receber esse valor para administrar, contudo, não para comprar chocolates ou um jogo de videogame, mas para ir comprar um saco de dormir para um morador de rua ou dar o dinheiro a alguma instituição que dava comida aos pobres de Milão. Também nisto, Carlo soube transfigurar algo que era normal em algo sobrenatural.
Finalmente, até a morte, Carlo soube transformar em algo sobrenatural. «Estou contente por morrer, porque na minha vida não estraguei nem um instante em coisas que não agradassem a Deus»: esta frase é o grande testamento que Carlo deixou a todos nós, para que também na nossa vida possa sempre resplandecer a vida divina. Como modelo de santidade, este jovem milanês indica que o caminho de santidade não é um caminho que nos faz fugir dos outros, mas um caminho que nos leva a abraçar as múltiplas realidades e a encontrar os caminhos sempre novos que Deus abre diante de nós. Cada um é chamado a ser santo na sua realidade própria: com os talentos e características pessoais, com cada história pessoal e familiar, nesta época histórica concreta. Carlo nos desafia a não fugir ao desafio da santidade!
Padre Ricardo Figueiredo
Presbítero do Patriarcado de Lisboa. Doutorado em Teologia sistemática. Vigário Paroquial (coadjutor): Algés e da Cruz Quebrada-Dafundo. Diretor do Departamento de Comunicação do Patriarcado de Lisboa. Autor de diversos livros, como: Não Eu, mas Deus – Biografia espiritual de Carlo Acutis