O Reinado de Jesus
Caro internauta, propusemo-nos, em dois breves artigos, apresentar algumas características a respeito da dimensão político-religiosa de Israel no tempo de Jesus. No primeiro artigo, mencionamos a enorme dificuldade de se fazer uma separação do aspecto religioso dos aspectos econômicos, sociais e políticos da vida judaica, uma vez que, toda ela é marcada pela religião.
Falamos, também, da importância do Templo para o povo de Israel e apresentamos o episódio da Cruz. Episódio esse que marcou o início do rompimento entre as dimensões política e religiosa. Neste artigo, vamos nos deter um pouco mais no seguinte acontecimento: a proclamação de Jesus como Rei e algumas implicações importantes oriundas desse fato.
Jesus foi proclamado Rei pelo povo
Todos nós conhecemos aquela emblemática passagem, narrada nos quatro evangelhos canônicos, onde, Jesus, o grande Rei, entra em Jerusalém montado em um jumentinho. Essa passagem, aliás, é lindamente explorada na liturgia do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor.
Neste episódio, Jesus é apresentando como alguém importante. Enquanto Jesus ia passando pela rua, a numerosa multidão, estendia mantos pelo caminho e espalhava ramos das árvores. Tudo isso em meio a cânticos de aclamação que diziam: “Hosana ao Filho Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus” (cf. Mt 21,9). Jesus é proclamado Rei por aquele povo.
Jesus se autoproclamou Rei dos Judeus
Mais adiante, quando Jesus foi levado até o governador Pilatos para ser interrogado, Ele mesmo se declarou Rei. Mas seu reinado não é como os reinados do seu tempo. Jesus mesmo afirmou que o Seu Reino não era deste mundo (cf. Jo 18, 33-37). Aliás, essa “confissão” de Jesus, insere Pilatos numa circunstância bastante curiosa. Ele estava
diante de alguém que se declarava Rei, mas não possuía, nem ao menos, poder militar. Sendo assim, não representaria nenhuma ameaça para os ordenamentos romanos. Que situação inaudita! Pilatos estava diante de uma ocasião sem precedentes, um Rei que não possuía arma e nem exército.
O cardeal Ratzinger faz um lindo comentário a respeito dessa passagem. Segundo ele, o centro da mensagem, contida neste episódio, encontra-se na nova realeza que Jesus representa. Que realeza, afinal, seria essa? Ratzinger responde: a verdade. Ele ainda completa: “a instauração dessa realeza como verdadeira libertação do homem é o que interessa” (RATZINGER, 2011, p. 178).
Leia mais:
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Pilatos optou pela conveniência, não pela Verdade
Pilatos, portanto, depois do interrogatório, percebeu que aquele Jesus não era um revolucionário político e que a sua mensagem e o seu comportamento não constituíam um perigo para a dominação romana. Se Jesus havia transgredido a Torá, isso não lhe interessava.
Por fim, Pilatos decidiu-se pela “interpretação pragmática do direito: mais importante do que a verdade do caso, é a força pacificadora do direito”, diz o teólogo Ratzinger ao analisar esse acontecimento. Ele completa: “Uma absolvição do inocente podia prejudicá-lo não só a ele pessoalmente […] mas podia, também, provocar novos dissabores e desordens que, precisamente nos dias da Páscoa, havia que evitar” (RATZINGER, 2011, p. 183).
Pilatos estava mais preocupado em manter o seu cargo, sua autoridade, sua imagem diante do império Romano, do que reconhecer a Verdade que lhe apresentava.
A inscrição da Cruz de Jesus
Se Jesus era Rei, Ele precisava de um trono e, de fato, o recebeu. Acima do seu trono havia uma inscrição: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus”. Essa inscrição, portanto, confirma inequivocamente o seu reinado. “A cruz é o seu trono […]. Desse lugar […], Ele, a seu modo – um modo que, nem Pilatos nem os membros do Sinédrio puderam compreender -, domina como verdadeiro Rei” (RATZINGER, 2011, p. 193).
A morte de Jesus, de fato, trouxe tranquilidade para Jerusalém e tudo parecia andar bem. Contudo, a paz não pode ser estabelecida contra a verdade que mais tarde se manifestou.
Deus abençoe você e até a próxima!
Referências:
RATZINGER, Joseph. Jesus de Nazaré: Da entrada em Jerusalém até a Ressurreição. Tradução Bruno Bastos Lins. São Paulo: Planeta, 2011.
ROPS, Daniel. A vida quotidiana na Palestina no tempo de Jesus. Tradução Pe. José da Costa Saraiva. Lisboa: Livros do Brasil, [195-?].
SAULNIER, Christiane; ROLLAND, Bernard. A Palestina no Tempo de Jesus. Tradução Pe. Jose Raimundo Vidigal. 5. ed. São Paulo: Paulus, 1983.