Depois de termos ciência da definição de pecado, resta-nos, agora, aprofundarmo-nos no que alguns santos chamam de pecados capitais. Diz o Catecismo que “o pecado arrasta ao pecado, gera o vício pela repetição dos mesmos atos; sendo que os vícios podem se classificar segundo as virtudes a que se opõem ou relacionando-os com os pecados capitais que a experiência cristã distinguiu, na sequência de São João Cassiano e São Gregório Magno. Chamam-se capitais, porque são geradores de outros pecados e outros vícios. São eles: soberba, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça”.
A soberba levou os anjos maus a se rebelarem contra Deus
Como visto, são sete os pecados capitais. Se a cada ano vencermos um desses pecados, com a graça de Deus, após sete anos seremos santos. Missão árdua, mas não impossível. Ser santo é nosso compromisso como batizados. Não ser santo é deixar de ser aquilo para o qual fomos criados: a eternidade. Se o pecado é esse obstáculo que nos impede de realizar nossa vocação, devemos fazer de tudo, auxiliado pela a graça de Deus, para vencê-lo.
Um dia, ouvi um provérbio chinês que dizia: “não é a erva daninha que mata a planta, mas a preguiça do agricultor”. Portanto, meus irmãos, arranquemos as ervas daninhas impregnadas em nossa alma, de modo que ela não nos destrua. Se não a arrancarmos, estaremos fadados à morte.
Antídoto contra a soberba
O primeiro e mais tenebroso pecado capital, segundo os padres da Igreja, é a soberba. Foi ela que levou os anjos maus a se rebelarem contra Deus. O Senhor, sabendo dessa doença, deu-nos o antídoto para combatê-la, isto é, a humildade. A “soberba consiste em a pessoa sentir-se como se fosse a ‘ fonte’ dos seus próprios bens materiais e espirituais. Acha-se cheia de si mesma, pensa tristemente, que é a própria autora daquilo que tem ou que faz de bom, e se esquece de que tudo vem de Deus e é dom do alto”. Descreve-nos São Tiago: “Toda dádiva boa e todo dom perfeito vêm de cima: descem do Pai das luzes.”(Tg 1,17).
Segundo Santa Catarina de Sena, o soberbo “rouba a glória de Deus”, pois quer para si as homenagens e os aplausos que pertencem só a Deus. Todo soberbo é orgulhoso e vaidoso. Sente-se sempre superior aos demais e faz de tudo para chamar a atenção sobre si mesmo. Quer, a todo custo, ser admirado e homenageado pelos demais. A pessoa soberba é amante dos elogios vazios e das bajulações.
A “soberba deixa a pessoa também cheia de presunção, isto é, pensa que sabe tudo, acha que domina qualquer assunto, mesmo aqueles dos quais, muitas vezes, não tem o menor conhecimento. Não deixa jamais de dar o seu palpite. Podemos dizer que a soberba é a ‘cultura do ego’”.
Diz São Paulo na Carta ao Coríntios: “Temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém de Deus e não de nós.” (2Cor 4,7). A soberba é o oposto da humildade. O humilde reconhece que tudo provém de Deus, ele é só um vaso de barro que carrega um valioso tesouro, que é a graça divina. Como bem nos ensinou São Paulo, Deus nos fez frágeis assim, para nunca nos esquecermos de Sua grandeza e de nossa pequenez.
O remédio para a soberba
Para vencermos a soberba, só existe um remédio, a humildade. São Vicente de Paula ensinava a seus filhos espirituais que o “demônio não pode nada contra a humildade, uma vez que sendo ele soberbo, não sabe se defender contra ela”. O humilde tem clareza de que todas as graças vem de Deus e para Ele deve ser toda a glória. O salmista, ao rezar, exclamava: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso Nome dai glória.” (SI 113,9).
Pelo menos em três livros bíblicos esta frase aparece: Provérbios 3,34; Tiago 4,6 e em 1 Pedro 5,5: “Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes.” O verbo usado pelo salmista é “resistir”. Em outras palavras, podemos dizer que a oração do soberbo nunca é ouvida por Deus. O humilde, pelo contrário, Deus ouve constantemente. Não por acaso, Santo Afonso de Ligório disse: “Quanto mais uma pessoa se acha indigna de graças, mais Deus a enriquece delas.”
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Humildes de verdade
Santa Teresa diz: “Por meio da humildade o Senhor se deixa render a tudo quanto dele queremos”. A oração do cristão deve ter sempre essas três características: fervor, humildade e perseverança. Os santos são mestres em nos ensinar a sermos humildes, pois eles trilharam este mesmo caminho. Santa Teresinha do Menino Jesus um dia falou: “eu quero o último lugar (…) sei que ninguém vai brigar comigo por causa dele”. Não é fácil fazermos isso, porém precisamos dar o primeiro passo.
A “humildade se prova na hora da humilhação. Se nos perturbamos com uma palavra de crítica, com uma injúria ou com algum desprezo, isto é mostra de que ainda não morremos para nós e para o mundo, é que ainda não somos humildes. O humilde é manso; o soberbo é agressivo. O orgulhoso é sempre raivoso e vingativo, pois se julga “o bom” e merecedor de toda honra”.
Podemos fazer alguns testes para ver se somos humildes de verdade. “Quando os outros pedem e recebem, mas nós pedimos e a nós é negado; quando os outros são elogiados, mas nós esquecidos; quando os outros são chamados para trabalhos importantes, mas nós não somos achados bons para tal; conforme for a nossa reação nesses momentos, podemos medir o grau da nossa soberba ou humildade”.
Enfim, a humildade é a grande força daquele que quer a santidade. Santa Teresa disse: “Quem possui as virtudes da humildade e do desapego bem pode lutar contra todo o inferno junto e o mundo inteiro com suas seduções”. São João da Cruz disse: “Visões, revelações, sentimentos celestes e tudo quanto se pode imaginar de mais elevado, não valem tanto quanto o menor ato de humildade”. Portanto, se quisermos vencer a soberba, é indispensável a virtude da humildade.