Da mesma boca sai bênção e maldição
Os pecados da língua são fáceis de cometer. Na carta de Tiago, o capítulo três é dedicado ao domínio da língua, que pode trazer muitas bênçãos e também grandes prejuízos. Assim diz a carta: “Com ela bendizemos o Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos as pessoas, feitas à imagem de Deus. Da mesma boca sai bênção e maldição! Ora, meus irmãos, não convém que seja assim.” (Tg 3, 9-10). De fato, não podemos nos iludir e crer que, desejando o mal ao próximo, em palavras e pensamentos, possamos agradar a Deus de outras formas.
Amaldiçoar é desejar ao outro qualquer mal. E quantas vezes não nos deixamos cair nesse pecado! Desejamos que o outro se arrependa, que “tenha o que merece”, mas não pelo julgamento divino, e sim pelo nosso. Quantos pecados gravíssimos cometemos ao desejar – com más intenções – que “Deus vai lhe dar o que merece”? O primeiro é contra um mandamento: não tomar o santo nome em vão. Ainda com o mesmo ato de amaldiçoar, julgamos, condenamos e deixamos de amar o próximo. Vamos entender.
O uso em vão do nome de Deus inclui os pecados do perjúrio (Mt 5,33) e do falso testemunho (Dt 5,20), além do que pode ser chamado de “uso mágico” do nome divino, traduzido para o grego como “em vão”. Isso significa usar o nome de Deus para causar consequências na vida do próximo, ou seja, querer que algo de ruim lhe aconteça, proferindo o nome de Deus. Da mesma forma, Jesus ensinou de forma clara: “Não julgueis, e não sereis julgados” (Mt 7,1). Ora, se julgamos que o mal deve acontecer com o próximo pelas mãos de Deus, que punição caberia a nós mesmos?
Jesus nos ensinou uma lição
Devemos estar atentos, “pois com o mesmo julgamento com que julgardes os outros sereis julgados; e a mesma medida que usardes para os outros servirá para vós” (Mt 7,2). Parece-nos difícil não condenar aqueles que nos fazem mal, não desejar punição àqueles que nos perseguem, aos egoístas, aos hipócritas e violentos.
Mas é essa a difícil lição que Jesus Cristo nos ensinou: “Ora, a vós que me escutais, eu digo: amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam. Falai bem dos que falam mal de vós e orai por aqueles que vos caluniam” (Lc 6,27-28). Essas palavras podem ser consideradas o fundamento da doutrina de Jesus em relação ao amor e à misericórdia que os cristãos devem prestar aos demais. Ao longo de sua vida terrena, e principalmente na cruz, mais do que anunciar, Jesus foi exemplo dessa lição.
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Na carta aos Coríntios, a lição é reforçada: “Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis” (Rm 12,14). Portanto, irmãos, desejar o mal ao próximo, com palavras e pensamentos, é amaldiçoar. Quando o fazemos, pecamos contra os mandamentos e deixamos de observar as lições de amor e misericórdia que o Cristo nos ensinou. Antes de tudo, saibamos conter nossos julgamentos e condenações e, assim, nos livramos de tantos pecados.
A carta de Tiago resume a virtude nesses dizeres: “Aquele que não peca no uso da língua é um homem perfeito” (Tg 3,2). “Homem perfeito” não significa que não pode cometer outros pecados, mas aquele que tem o domínio sobre a própria língua, tem o domínio de si mesmo e poderá resistir frente às tentações. Oremos para nos mantermos no caminho da salvação. Que assim seja!
Referências:
BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB, 18 ed. Editora Canção Nova.