O método de Deus é contrário ao dos homens
Jesus nasceu em Belém. “Tu, Belém de Éfrata, pequenina entre as aldeias de
Judá, de ti é que sairá para mim aquele que há de ser o governante de Israel. Sua origem é antiga, de épocas remotas. Por isso Deus os abandonará até o momento em que der à luz aquela que deve dar à luz. Então o resto de seus irmãos voltará para os filhos de Israel. Ele se levantará para apascentar com a força do Senhor, com o esplendor do nome do Senhor seu Deus. E estarão bem seguros, porque agora ele é grande até os limites do país, e ele próprio será a paz” (Mq 5, 1-14).
Quem já foi a Belém de Judá ou a outros lugares como Nazaré, onde viveu Jesus, sabe que aqueles lugares eram muito pequenos, desconhecidos pelo mundo. E Deus quis fazer-se carne naquela terra. Depois de tantas histórias e enfeites, pelos séculos afora, não é fácil imaginar a pequenez daqueles lugares, um “nada”.
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Naquele momento, existia apenas uma criança numa gruta, nada mais impotente
do que isso, como era impotente João Batista, último dos profetas, um homem vestido
em farrapos e cinto de corda, que alguns anos depois anunciou a presença do Messias
misericordioso, Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Cf. Jo 1,29.36). Muito
antes, era um nada, um pastor das estepes da Ásia, Abraão, de onde tudo começou.
Ninguém teria apostado que a história mudaria desse modo, mas Deus sabia! Seu método
é diferente!
Corramos depressa para dezembro de 2015. A incerteza avança em todas as
partes, começando de nossa terra, pela violência que se espalha, alcançando nosso país
em crise, a corrupção que envergonha a todos nós, para chegar a este mundo ferido,
onde se pergunta a respeito dos melhores modos para reagir a ataques, migração
forçada, uma verdadeira “guerra mundial em pedaços”, da qual fala o Papa Francisco, e
uma humanidade sedenta de paz e misericórdia!
Parece que não vale nada olhar para uma criança, mas foi assim que Deus
começou a mudar o mundo. O Papa nos leva a olhar para a impotência do Presépio, a
aparente fraqueza do Evangelho, a pequenez onipotente do Altar da Eucaristia. Deus se
esvaziou, e neste aparente sinal de fraqueza que é Cristo, o Rosto da Misericórdia, está a
onipotência d’Ele. O Senhor muda tudo quando seu filho se faz homem, e quer mudar o
mundo com as pessoas que ele, aos poucos, assume junto de si, pela história afora.
Qual é o método de Deus?
Este é o método de Deus, capaz de mudar o mundo, passando pela única estrada
possível, o coração humano. Qualquer conquista de espaços, poder ou influência se
revela estéril. Deus quer tocar, com a sua misericórdia, o coração das pessoas, o nosso
coração. Nada mais! E nós queremos celebrar o Natal, neste ano que é especial, um Ano
Santo da Misericórdia, um Jubileu. As trombetas da Igreja saem pelas ruas proclamando
que é tempo de perdão e reconciliação, tempo de obras de misericórdia. “Talvez,
demasiado tempo, tenhamo-nos esquecido de apontar e viver o caminho da misericórdia.
Por um lado, a tentação de pretender sempre, e só a justiça fez esquecer que este é
apenas o primeiro passo, necessário e indispensável, mas a Igreja precisa ir mais além,
a fim de alcançar uma meta mais alta e significativa. Por outro lado, é triste ver como a
experiência do perdão na nossa cultura vai rareando cada vez mais. Em certos
momentos, até a própria palavra parece desaparecer. Todavia, sem o testemunho do
perdão, resta apenas uma vida infecunda e estéril, como se se vivesse num deserto
desolador. Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do
perdão. É o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos
nossos irmãos. O perdão é uma força que ressuscita para nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro com esperança” (Misericordiae vultus, 10). Pedir perdão, oferecer
perdão, dar o perdão, este é o método de Deus.
A Palavra do Senhor, hoje anunciada, envolve-nos no mistério celebrado e no
turbilhão maravilhoso da misericórdia. O oráculo do Profeta Isaías é proclamado numa
situação dramática. A pessoas sem esperança o profeta anuncia: “O povo que andava na
escuridão viu uma grande luz” (Is 9,1). Voltando-se para Deus, afirma confiante: “Fizeste
crescer a alegria e aumentaste a felicidade” (Is 9,2). O que nos permite, ontem e hoje,
passar da escuridão à luz e da tristeza para a alegria? O profeta diz que o jugo acabará,
mas anuncia a chegada daquele que é “Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da
Paz” (Is 9,5). E ele é um menino! Como é possível? “O amor zeloso do Senhor dos
exércitos há de realizar estas coisas” (Is 9,6). Ele e só ele pode dar vida a uma sociedade
em que reine a justiça, a paz e a alegria, e que dá a todos a coragem para viver. Esse é o
método de Deus!
São Paulo, explicando o sentido da vinda de Jesus entre nós, vem com palavras
cheias de esperança: “A graça de Deus se manifestou, trazendo salvação para todos os
homens” (Tt 2,11). O Salvador, que nos foi dado, não é só uma criança nascida numa
manjedoura, mas o sorriso Misericordioso de Deus para todos, porque ele não perde a
esperança em nenhum ser humano. Ele veio para nos ensinar o caminho do bem, “a
abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo com equilíbrio,
justiça e piedade” (Tt 2,12). “Ele se entregou por nós” (Tt 2,14), falando-nos do Pai,
chamando-nos amigos e morrendo na Cruz por nós, para nos libertar de todo tipo de
escravidão e reconduzir ao Pai à humanidade reconciliada. Esse é o método de Deus!
E a Boa Nova nos foi proclamada no Evangelho. Ouvimos com alegria, mais uma
vez, a narrativa do acontecimento do Natal. Presto minha homenagem a tantas crianças
que hoje, tendo crescido em sua compreensão das Escrituras, acolhem com fé o anúncio
do nascimento de Jesus. E o Evangelho logo nos conduz a acompanhar a notícia
evangelizadora levada aos pastores, primeiras testemunhas do acontecimento da
salvação. Acompanhando-os e participando de sua alegria, nós os vemos correndo até a
gruta de Belém, para depois anunciar aos outros o acontecido. O que encontraram? A
alegria anunciada, a pobreza da aventura humana de Jesus, um “recém-nascido
envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2,12). Poucos pastores,
representantes de gente pobre e humilde, reconhecem o Messias. Este é o sinal divino e
extraordinário do início de um tempo novo. Este é o método de Deus!
Quando receberam o anúncio dos anjos, os pastores pronunciaram palavras que
se tornaram um convite: “Vamos a Belém, para ver o que aconteceu, segundo o Senhor
nos comunicou” (Lc 2,15). Um outro lugar, Belém do Pará e não Belém de Judá, também
em torno de uma manjedoura, Forte do Presépio, tornou-se espaço onde Deus quis
nascer e quer nascer de novo. Com todas as nossas dificuldades, desafios e problemas,
vamos de novo a Belém para ver o que aconteceu. Vamos à Belém de nossas raízes
cristãs católicas. Busquemos a Belém de nossa primeira comunhão, das festas religiosas,
Belém do Círio, Belém do povo calejado pelo calor, rostos molhados de chuva e suor,
olhares de água barrenta e florestas verdejantes. Esta é a nossa terra e aqui Deus quis
plantar Sua habitação. Vamos a Belém com o coração pulsante de misericórdia com todos
os homens e mulheres que clamam pela vinda de Jesus. Acolhamos o método de Deus
agir, o jeito de Jesus pequeno e menino. Presépio, Bíblia e Altar são as nossas armas!
Quatrocentos anos de fundação de uma cidade nascida no Presépio. O dever de
oferecer a Belém um jeito diferente de viver é agora assumido por nós. Com a graça
especial do Natal, iniciaremos o ano do Quarto Centenário aqui, na Casa do Pão, na
Eucaristia celebrada. Estamos para concluir o Ano Eucarístico, com o qual nossa
Arquidiocese se preparou para o Congresso que se aproxima. De fato, o ponto alto dos
quatrocentos anos será transformar Belém, Casa do Pão, na Capital Eucarística do
Brasil, durante o XVII Congresso Eucarístico Nacional, de 15 a 21 de agosto de 2016.
Eucaristia e misericórdia são as duas grandes riquezas a serem oferecidas, o método de
Deus para mudar o mundo