Adotar é reconhecer, no filho gerado por outros, o nosso filho
Sou um homem privilegiado! Uma das experiências mais impressionantes que vivo é a que foi experimentada por São José, manisfestada de maneira surpreendente: a paternidade adotiva. Não somos pais biológicos, entretanto, exercitamos uma paternidade inteira e plena. Adotar é reconhecer, no filho gerado por outros, o nosso filho. Olhar em seus olhos à procura não de uma cor conhecida, um formato herdado, mas o brilho do olhar de quem é amado e reconhecido como único. Adotar é doar seu tempo, doar seu espaço e, acima de tudo, entender o sentido da palavra “família”.
A adoção se inscreve em um contexto de impossibilidades. Uns adotam filhos por não poderem gerá-los. Outros os geram, mas esbarram na impossibilidade de criá-los. Nessas impossibilidades, surgem as oportunidades de amar. O amor é a consequência de uma disposição que se estabelece internamente, independentemente de termos ou não um arsenal de informações a respeito dos filhos. Amamos apesar de não sabermos como eles serão e permanecemos amando-os quando sabemos quem eles são.
Todos somos filhos
A condição universal do homem é ser filho. Não existe pessoa humana que não seja filha. Olhar uma pessoa humana como filho é olhá-la na sua identidade. Independentemente de sua situação, seja desejado, abandonado, necessitado, mas é filho. Assim como nossa filiação em Deus, por meio de Jesus, o Filho Unigênito, é adotiva, somos com Cristo herdeiros naturais de Deus Pai. Toda essa verdade só poderá ser experimentada no amor.
Em minha experiência paterna adotiva, aprendi a viver o “amor sem temor”, aquele que João, o Evangelista, nos lembra em sua primeira Carta: “Não há temor no amor; ao contrário: o perfeito amor lança fora o temor” (I João 4,18).
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Papa Bento XVI, em sua visita à África, em março de 2009, ajuda-nos a refletir e compreender quão grande é a experiência paterna adotiva, exemplificando São José: “Não se trata de um servidor medíocre, porém, de um servidor ‘fiel e sábio’. Esses dois objetivos não são causais: sugerem que a inteligência sem fidelidade e a fidelidade sem sabedoria são qualidades insuficientes. A uma desprovida da outra não permitem assumir plenamente a responsabilidade que Deus confia”.
Lembro-me de tristes e boas recordações com meu pai quando era menino. Experiências de amor… Escolhi aquelas que me fizeram homem honesto e temente a Deus, para hoje ser um pai amoroso, fiel e sábio aos meus filhos.
Júlio Brebal, missionário da Comunidade Canção Nova