Entenda as vulnerabilidades psicológicas do universo feminino
Falar sobre saúde mental da mulher é escrever sobre um universo que vai além da natureza biológica, do ser mulher em si. Qual mulher nunca se sentiu incapaz, insuficiente ou mesmo comparou-se com outras mulheres, achando-se a pior pessoa do mundo? Falar sobre saúde mental da mulher é lembrar que ela é o resultado da interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais, que se modificam conforme as diferentes fases da vida e suas transições hormonais, emocionais e sociais.

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Desde cedo, a vida da mulher encontra múltiplos papéis e expectativas sociais que envolvem imagem corporal, desempenho nas mais variadas esferas da vida e comportamento, influenciando diretamente sua saúde psíquica.
Desde pequenas, meninas aprendem sobre o mundo e sobre si mesmas através das relações que constroem. E isso pode ser um marco positivo ou negativo nas demais fases da vida. A forma como são cuidadas, o modo como percebem o amor, a segurança e os limites, tudo isso contribui para o desenvolvimento emocional. É nessa fase que se formam as bases da autoestima, da confiança e da forma de lidar com as emoções.
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Por muito tempo, acreditou-se que meninos e meninas vivenciavam o mundo emocional da mesma maneira. Hoje, sabemos que existem diferenças — tanto biológicas quanto sociais. O cérebro feminino, por exemplo, mostra maior atividade em regiões relacionadas à empatia e à comunicação. Já o contexto cultural costuma incentivar as meninas a expressar sentimentos e a cuidar do outro, o que pode ser positivo, mas também gerar uma sobrecarga emocional quando não há equilíbrio entre cuidar e ser cuidada.
Ansiedade e depressão na adolescência
Na adolescência, o desenvolvimento da identidade e da autoimagem é fortemente impactado por transformações hormonais e pela busca de pertencimento. Estudos em Psicologia e Psiquiatria indicam que meninas apresentam maior vulnerabilidade a transtornos de ansiedade e depressão nessa fase, em razão das pressões estéticas, da comparação social e da competitividade entre pares. Intervenções psicoeducativas e práticas de regulação emocional são eficazes para fortalecer a autoestima e prevenir o sofrimento psíquico. As jovens nem sempre conseguem expressar o que sentem ou percebem que têm seus sentimentos validados, ou, pelo menos, ouvidos.
Na fase adulta, as demandas profissionais, familiares e afetivas exigem da mulher um intenso equilíbrio emocional. A sobrecarga de responsabilidades, a maternidade sem rede de apoio e relacionamentos pouco saudáveis podem contribuir para o adoecimento mental. No período perinatal, que inclui gestação e pós-parto, as alterações hormonais e o aumento das responsabilidades emocionais tornam a mulher mais suscetível à depressão e à ansiedade. Grupos de apoio e psicoterapia são fundamentais para promover o vínculo saudável entre mãe e bebê e prevenir o sofrimento emocional.
É importante lembrar que, se a mulher já vive questões emocionais, depressão, ansiedade ou outros tipos de realidade, ela deve buscar um acompanhamento psicológico para este período, sempre relatando este fato em seu acompanhamento pré-natal, que pode identificar expressões da depressão ou de risco de depressão pós-parto.
Com o passar dos anos, a mulher passa por novas transformações hormonais e existenciais. A menopausa, por exemplo, marca o fim do ciclo reprodutivo, mas também um recomeço em muitos aspectos. É um período que pode vir acompanhado de sintomas físicos, como ondas de calor e alterações no sono, mas também de mudanças emocionais, como irritabilidade, tristeza e perda de energia.
Além disso, as mudanças corporais e as transições familiares — como a saída dos filhos ou a aposentadoria — podem afetar a autoestima e o senso de propósito, daquela sensação do “o que eu fiz em minha vida”, é uma reflexão muito presente na vida das mulheres. Compreender o ciclo da vida através da psicoterapia, por exemplo, auxilia na ressignificação da história de vida e na manutenção do bem-estar emocional.
A influência do mundo na saúde da mulher
Em todas as fases, a promoção da saúde mental feminina deve considerar o contexto biopsicossocial — as experiências individuais, o gênero, a rede de apoio e as crenças culturais. Cada um tem uma história e vive de uma forma. O que se vivia em 1950, 1960, 1990 e 2025 passa pela realidade deste tempo, pelas exigências e caraterísticas de uma sociedade deste tempo.
Mas a pergunta é: todas as mulheres podem sofrer com questões emocionais? Sugere-se que a resposta de uma mulher às agressões ambientais é moderada pela sua natureza genética e que transtornos psiquiátricos complexos, provavelmente, não são provocados somente pelos genes.
O que envolve os genes e o meio ambiente é muito válido e pode envolver eventos estressantes da vida e a questão da resiliência. No entanto, o fato de que muitos dos transtornos do humor e ansiedade específicos da mulher tenham início na idade adulta ou tardia, parece indicar que os fatores genéticos desempenham somente um papel pequeno ou parcial.
Vale também reforçar quanto homens e mulheres têm sim diferentes naturezas e, portanto, reagem e funcionam de forma diferente às diversas situações da vida. Atualmente, sabe-se que os cérebros de homens e mulheres apresentam diferenças anatômicas, químicas e funcionais, e que parte dessas distinções se manifesta em diversas regiões cerebrais relacionadas à emoção, cognição, memória e comportamento.
Como delegar tarefas e viver com menos culpa
Muitas mulheres foram ensinadas a colocar as necessidades dos outros em primeiro lugar — da família, dos filhos, do trabalho — e acabam deixando de lado o próprio bem-estar emocional e físico. Esse padrão pode gerar sobrecarga, ansiedade, culpa e até sintomas depressivos. É importante lembrar que cuidar da saúde mental não é sinal de fraqueza, mas de consciência e responsabilidade consigo mesma.
Revisar como estamos vivendo a vida, cuidar dos limites nas relações, atribuir responsabilidades aos demais sem assumir tudo para nós mesmas, permitir-se desacelerar, dizer “não” quando necessário, pedir ajuda e reconectar-se com o que realmente importa. Isso pode incluir buscar acompanhamento psicológico em psicoterapia, praticar o autocuidado, alimentar-se bem e vivenciar relações saudáveis.
E vale mais uma reflexão: como, muitas vezes, nós mulheres somos muito cruéis com outras mulheres nas comparações, opiniões, exigências. Ao olhar redes sociais, noto o quanto, muitas vezes, existe crítica sobre o corpo da outra mulher, as opções, sobre ter mais filhos ou menos filhos, sobre casar ou não casar, sobre trabalhar fora ou trabalhar em casa, sobre como educar filhos.
Enfim, são tantas exigências que daria para fazer uma extensa lista, e reforço: com graus de crueldade imensos. Independentemente da faixa etária, sempre é tempo de retomar e cuidar do bem precioso que temos, que é a vida!