Calma! Vou explicar. Somos todos chamados à santidade. Como nos diz a Palavra de Deus em Mateus 5,48: “Sede santos como vosso pai celeste é Santo”. Esse chamado não é apenas para padres e freiras, missionários e pessoas engajadas nas causas da Igreja. Definitivamente não! Somos todos nós, você e eu, seu pai, sua mãe, meus irmãos e primos, a sua sogra (sim ela mesma!), o padrasto, nossos professores, amigos, colegas de aula ou de trabalho. Trata-se de um chamado universal.
Já temos um modelo: Jesus Cristo. Seu testamento, o Evangelho, para nós, é um código de santidade. Temos também os santos que já trilharam esse caminho e podem nos indicar as direções. Eles acendem luzes que nos iluminam e nos ajudam a encontrar o nosso modo de caminhar. Assim como eles, que foram homens e mulheres comuns, que com a ajuda de Deus encontraram uma maneira segura para si (respeitando a identidade pessoal) de seguirem o Cristo de perto e viverem segundo o Evangelho.
Não estou propondo um relativismo quanto à santidade, onde cada um faz do seu jeito e está tudo bem. De forma nenhuma! Minha intenção é abrir a mente e o coração para a individualidade de cada um de nós, e que, mesmo sendo um chamado comum para todos, o modo de ser santo é particular, não é igual para todos.
Podemos ser santos do nosso jeito? Como assim?
Precisa ser uma santidade encarnada na vida e não “enfiada goela abaixo”, onde a repetição de práticas que todo mundo faz me farão santa também. Deus não costuma produzir santos em larga escala, não mesmo. Ele respeita nossa individualidade e nos faz únicos desde toda eternidade, tem conosco um relacionamento pessoal, individual, íntimo e intransferível, e isso me faz acreditar que Ele fará de nós santos do “nosso jeito”, cada um com suas características próprias, possivelmente, porque são exatamente essas características que nos definem como indivíduos que serão a matéria-prima para nossa santificação, nosso temperamento, nosso jeito e gosto, nossas manias e até os transtornos e neuroses etc.
Deus não ignora nada disso. Ele pode, ao contrário, utilizar de cada uma dessas características para fazer-nos santos. Ouso dizer: irá! Assim como disse Santo Agostinho: “Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti”. Ser santo é dom de Deus, mas é também tarefa nossa. A adesão ao projeto de santidade precisa ser pessoal, Deus não impõe nada. E espera que em nossa liberdade O escolhamos! Por isso, ficar tentando ser quem não somos é um desserviço no processo de santificação pessoal.
Como já disse a proposta de santidade de Deus para nós é de uma santidade encarnada na vida, o nosso cotidiano, é o campo onde Ele mesmo, o Semeador (Mt 13,3) semeia as possibilidades, dá-nos as oportunidades, os terrenos. Seja em nossa casa, nosso trabalho, nossa escola ou cursinho, na rua, enfim, onde estivermos, aí haverá uma chance de escolher pela santidade.
Afinal, como se escolhe pela santidade?
Simples, sendo você! Escolhendo pelo bem e por fazer o bem. Escolha fazer bem o seu trabalho, escolha fazer bem a tarefa da escola. Escolha cuidar bem do seu irmão menor, escolha arrumar a sua cama como nunca antes. Escolha deixar tudo organizado no quarto, escolha não deixar nada para depois. Escolha seguir as regras de transito, escolha defender a vida e proteger a natureza. Escolha ser correto, honesto, pagar as contas em dia, trabalhar com dedicação e amor. Como diz a Palavra de Deus em Amós 5,24: “Que a justiça seja abundante como água e a vida honesta, como torrente perene”.
E vá além, escolha sorrir mais do que o comum, abraçar mais, dar bom dia, boa tarde, dizer obrigada, pedir licença. Como já disse, precisa ser do seu jeito. O que para você é mais difícil? Em que você mesmo percebe que precisa e pode melhorar? Ser simpático com as pessoas pela manhã? Então, esforce-se para ser! Acordar mais cedo para rezar ou para não chegar atrasado no colégio ou no trabalho?
Sabe um lugar bom para ser santo? No banheiro. Sabe quando o papel acaba? Troque, para não deixar o seu próximo numa situação enroscada. Dê descarga. No banheiro público, se tiver bagunçado, faça a sua parte, não jogue o papel no chão. Se a descarga estiver com problemas, avise os responsáveis. Na cozinha, é um ótimo lugar para ser santo, lave, seque e guarde o que você usar. Não deixe acumular. Não pense que, depois, “alguém” virá para limpar a sua sujeira. Mantenha as coisas em ordem. Crie regrinhas para ajudá-lo.
Talvez, para você seja mais difícil ter de esperar. Esperar o pai chegar, esperar a carona, o amigo, ou a namorada se arrumar para sair. Proponha-se esperar sem reclamar, e não ficar chateado. Ficar na fila do banco, do correio, da lanchonete. Ou, talvez, você seja como eu, que tem um “temperamento forte”, não tem muita paciência, irrita-se com facilidade, tem um jeito meio grosseiro de falar. Está aí a matéria-prima para a nossa santificação.
Conte com a graça de Deus
Acho que você já entendeu. Agora, é uma questão de adesão a esse projeto. Mas não se engane, não pense que, por serem coisas “comuns”, será fácil mudar de atitude. A mudança de atitude, de negativa para positiva, que gera conversão, é santidade. Na minha opinião, é a parte mais difícil, talvez, essas pequenas mudanças de atitude no nosso dia a dia.
Não se esqueça de contar com a graça de Deus. Busque crescer, cada dia mais, nela, fortaleça suas fraquezas com uma espiritualidade pessoal consistente e profunda, reze, reze mesmo, “com força”, no sentido de empenho, dedicação e, principalmente, fidelidade. Busque estar em estado de graça, confesse, participe dos sacramentos e fuja das ocasiões de pecado, como vemos no trecho a seguir “se alguém ou alguma coisa “for para ti ocasião de queda, arranca-o””(Mc 9,47). Tire da sua vida aquilo que o leva ao pecado.
Também nos exorta Paulo, na Carta aos Romanos capitulo 12, 21: “Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem”. Importante entender que esse bem, aqui, remete-se também ao bem comum, porque não é só fazer o que é bom para mim e o que eu gosto e me dá prazer. Talvez, seja em muitas ocasiões o contrário: fazer o que não se tem vontade, mas é necessário, dar a vez, “perder” a razão (a oportunidade de ter razão).
Veja o que São Paulo diz ainda aos Gálatas 6,9: “Não nos cansemos de fazer o bem. Pois se não desanimarmos, chegará o tempo certo em que faremos a colheita”. Veja, há uma promessa de colheita com uma condição “se não desanimarmos”. Muitos de nós somos vencidos pelo desânimo, pelas demoras, mas essa promessa é clara: “se não desanimarmos”. E São Paulo nem fala sobre concluirmos algo, basta que sigamos investindo no bem.
O caminho para a santidade é uma luta diária
Acho que ficou claro o que entendo como santidade, essa luta diária e constante das pequenas coisas da vida, que nos faz crescer em virtudes e nos torna homens e mulheres segundo o coração de Deus. Assim como o modelo da pequena via de Santa Teresinha, que nos ensina a fazer tudo que está ao nosso alcance, por amor a Deus e à Igreja, no cumprimento heroico do nosso estado de vida e condição. No fim das contas, não é o que fazemos, mas com que amor fazemos cada coisa, pois “tudo é entre ‘mim e Deus’, ‘você e Deus’”, nos ensina Santa Teresa de Calcutá.
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Depois disso, tudo quero rezar. Sim, vamos pedir ao Senhor que derrame sobre nós um “espírito resoluto, decidido”, Espírito que anime e santifique, todos os dias, as nossas novas proposições, pois é preciso decidir-se pela santidade todos os dias, escolhê-la a cada dia. Dá-nos, Senhor, a graça que é própria deste dia. Fazei crescer em nós o desejo pelo bem, pelo que é bom. Que o teu Santo Espírito nos ilumine e dirija nossos passos. Que tenhamos a coragem de fugir das ocasiões de pecado e dizer não às incidias de Satanás. E que saibamos aproveitar cada oportunidade do nosso dia como forma de santificação e louvor a Deus, que nos ama e quer dar o melhor para os Seus amados. Amém!