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Sou um homem de pouca fé. O que fazer?

O que é a fé? Eu preciso dela? Eu a tenho? Como receber esse dom? Essas perguntas, muitas vezes, podem surgir no nosso interior e nos levar até mesmo a questionarmos a vida. Durante este artigo, iremos buscar respostas que nos ajudarão a crescer e entender esse dom maravilhoso e essencial na vida de todo cristão.

Você já foi perguntado sobre o que é a fé? Ela pode ser entendida de maneira geral como “uma virtude teologal que inclina a nossa inteligência, sob o influxo da vontade e da graça, a dar firme assentimento às verdades reveladas por causa da autoridade de Deus” (TANQUEREY, 2017, p. 593). Como visto, é antes de tudo um ato da inteligência, porque acontece em relação a uma verdade; além disso, necessita da nossa vontade, pois precisamos querer ter fé e crer em alguma verdade, convencendo-nos e, em seguida, assentindo, ou seja, concordando com aquela verdade revelada.

Além disso, a fé que aqui estamos tratando é de cunho sobrenatural, porque podemos até mesmo ter fé e acreditar em pessoas, em acontecimentos ou mesmo em situações. Aqui, no entanto, falamos de um dom sobrenatural, por isso necessita-se da intervenção de Deus por meio da Sua graça, a fim de iluminar a nossa inteligência para que consigamos ordenar a nossa vontade.

Sou um homem de pouca fé. O que fazer?

Foto ilustrativa: ImagineGolf by Getty Images

A fé também pode ser entendida em seu contexto bíblico. O Antigo Testamento nos diz que ela é a condição para a salvação do povo: “Crede em Yahweh vosso Deus e estareis seguros; credes em seus profetas e sereis bem sucedidos” (2Cr 20,20). E ainda: “Se não crerdes, não vos mantereis firmes” (Is 7,9). Percebe-se que, na compreensão do Antigo Testamento, a fé era fundamento para a salvação do povo, mas essa se dava na adesão à Palavra de Deus. Por outro lado, no Novo Testamento, a fé é professar o cristianismo, crer na Palavra proferida por Jesus Cristo e pelos apóstolos, ou seja, a fé neotestamentária é aderir a um testemunho que vem acompanhado de esperança. Por exemplo: “Aquele que crer e for batizado será salvo; o que não crer será condenado” (Mc 16,16).

Eu preciso de fé?

A fé sendo entendida como a nossa adesão a uma verdade revelada e a esta a nossa adesão. Nota-se com isso o papel importantíssimo em nossa santificação. Isso porque, a fé faz-nos entrar em comunhão com o pensamento de Deus, unindo-nos de modo mais intimamente com Ele (TANQUEREY, 2017). Como falado anteriormente, ela é também entendida como necessidade para a salvação, é professada com um testemunho nas palavras de Cristo e com a Doutrina cristã.

O Catecismo da Igreja Católica nos orienta sobre a necessidade da fé, principalmente como lugar primeiro de manifestação dela sendo os lares e o seio de cada família, como nota-se: “É no seio da família que os pais são ‘para os filhos, pela palavra e pelo exemplo, os primeiros mestres da fé. E favorecem a vocação própria a cada qual, especialmente a vocação sagrada’” (§1656). Com essa afirmação, a família é reconhecida e professada no Concílio
Vaticano II, como uma Igreja Doméstica. O Catecismo continua a ressaltar a necessidade da educação na fé: “A educação para a fé, por parte dos pais, deve começar desde a mais tenra infância. Ocorre já quando os membros da família se ajudam a crescer na fé pelo testemunho de uma vida cristã de acordo com o Evangelho” (§2226).

Cada cristão necessita da fé para que o seu processo de santificação aconteça e seja bem sucedido. O Concílio de Trento nos ensina a relação da justificação do homem com a fé e a salvação: “[…] que dizemos ser justificados pela fé, porque ‘a fé é o princípio da salvação humana’, o fundamento e a raiz de toda a justificação, ‘sem a qual é impossível agradar a Deus’ e chegar à comunhão dos seus filhos” (DS 1532). O homem se torna justo pela ação da graça de Deus e por meio da fé. Nisso encontra-se a necessidade desse dom para a salvação, pois nenhum homem entra no céu sem ser justo, ou seja, santo.

Logo, a fé é o elo que nos une a Deus e nos faz comungar de Seu pensamento e da Sua vida. Ela age como uma luz que ilumina a nossa inteligência, concedendo-nos a graça para também discernir as verdades e as coisas divinas. A fé vem para nos fazer aprofundar nas verdades católicas e põe frente aos nossos olhos a eterna recompensa, que é fruto de uma vida de fé (TANQUEREY, 2017). Tudo isso é expressado nos textos bíblicos: “A fé é a garantia dos bens que se esperam, a prova das realidades que não se veem” (Hb 11,1); e ainda: “Penso, com efeito, que os sofrimento do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se e nós” (Rm 8,18).

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Como receber o dom da fé?

A fé como dom de Deus é graça dada. Com isso, são necessários a oração e os esforços pessoais. Todo cristão precisa crescer na fé ou até mesmo iniciar nesta vida. Por isso, o dom é dado a quem pedir, a quem implorar a Deus que o conceda tão maravilhoso dom, como explica o texto: “Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto; pois todo o que pede recebe; o que busca acha e ao que bate se lhe abrirá” (Mt 7,7-8). O maior desejo de Deus é a nossa salvação, sendo assim, Ele é o primeiro interessado em nos conceder as graças necessárias para que alcancemos a visão beatífica, cheguemos ao céu. Logo, precisamos pedir a Deus que nos dê esse dom, que nos faça crescer neste dom. E, com essa certeza, Deus irá nos dar tal dom necessário para a salvação.

Adolphe Tanquerey instrui o cristão de qual deve ser a sua atitude referente ao dom da fé: “Hão de, pois, orar para obterem a graça de conservar esse dom a respeito dos perigos que os cercam; […] Recitarão com humildade e firme convicção os atos de fé, dizendo com os Apóstolos: ‘Aumenta em nós a fé’ (Lc 17,5). Mas à oração, hão de ajuntar o estudo ou a leitura de livros apropriados, que os esclareçam e confirmem na fé” (TANQUEREY, 2017, p. 598). Então, a partir do que esse mestre na vida espiritual nos ensina, o cristão, antes de tudo, precisa pedir, rezar a Deus que Ele conceda e aumente o dom da fé. Mas também é necessário estudar bons livros, buscar leituras que contribuam o fortalecimento da fé. E sem medo de errar, indico a leitura da Bíblia, dos textos sagrados e os livros de espiritualidade, dos santos e doutores da Igreja. Outro conselho importantíssimo é fugir de leituras vãs e, acima de tudo, do pecado mortal.

Enfim, não há cristão de tal modo avançado na vida espiritual que não careça do dom da fé, de pedir ao Senhor que a aumente. Por isso, queridos leitores, diariamente, em nossas orações, entremos no lugar em que com Deus entramos em diálogo e imploremos que aumente em nós esse dom. E já coloquemos a fé que está em nós em ação, com a certeza de que Deus nos dará esse dom tão essencial para a nossa salvação. Que a Virgem Maria, mulher e exemplo de fé, auxilie-nos também no crescimento desse dom.

Referências:

BÍBLIA. Português. Tradução da Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002. 2206p.
CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000.
DENZINGER, Hünermann. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. São Paulo: Paulinas & Loyola, 2007
TANQUEREY, Adolphe. Compêndio de Teologia Ascética e Mística. São Paulo: Cultor de Livros, 2017.