Este foi o convite que Jesus fez aos Seus discípulos (cf. Mc 4, 35). De tempos em tempos, Ele se atualiza em nossas vidas. Somos chamados a nos colocarmos a caminho, movimentarmo-nos, sairmos de onde nos encontramos e peregrinarmos em direção a uma outra margem. Muito mais que um deslocamento no espaço físico que habitamos, somos convidados a vivenciar transposições interiores em nosso coração, nos nossos pensamentos e na nossa forma de viver. A outra margem não é somente um lugar, é uma nova experiência, é um conhecimento profundo de Cristo e uma maturidade na fé que somos impulsionados a alcançar.
Passar à outra margem, contudo, só é possível a partir da travessia. Compete deixar a multidão e entrar no mar. Deixar a multidão, porque, neste caminho, não dá para seguir com muita gente. É preciso deixar tudo aquilo que lança nosso olhar para fora de nós mesmos e ter a coragem de olhar-se de frente, de entrar no mar.
Você tem coragem de se arriscar à outra margem?
Entrar no mar exige abandono no caminho, aceitação profunda da nossa história, de tudo o que fomos. Nada do que foi vivido se perde. É bem aí onde se encontra nossa verdade, nossa realidade, que o Senhor nos busca e nos convida a fazer a travessia. É entrar no barco da vida, avançar para águas profundas e até mesmo enfrentar a tempestade. Talvez seja por isso que muitos não conheceram a outra margem, permaneceram onde estavam, conformados com o que já haviam conquistado.
Já parou para pensar quantas vezes não saboreamos as surpresas que a “outra margem” nos reserva, porque, presos ao medo da tempestade, não ousamos arriscar enfrentar o alto mar?
Sim, não há travessia sem tempestade, mas é preciso lembrar que ninguém vence a tempestade sozinho, com as próprias forças. É o Senhor quem nos conduz. Ele está no barco. Não é preciso desespero! Na nossa humanidade, vamos sim sentir medo, mas se soubermos quem é o Senhor, se reconhecermos nossas fraquezas e nos confiarmos a Ele, o medo vai perdendo espaço e a fé vai ganhando lugar.
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Alguns querem voltar, mas, quando estamos em alto mar, voltar é tão exigente quanto seguir adiante. Nessa hora, precisamos deixar-nos ser conduzidos pela fé de que Ele está conosco e pela esperança de que a tempestade não é para sempre. A cada agitação das ondas o barco se move um pouco fazendo com que estejamos cada vez mais perto da outra margem.
Deposite sua confiança no Senhor!
E o que nos espera na outra margem se não um coração mais humano, uma vida mais santa, mais plena de quem aprendeu a confiar-se a Deus na tempestade? Então, não paremos agora, sigamos a rota que o Senhor nos tem indicado. Mesmo em meio à tempestade, a rota é segura, porque nossa confiança está n’Aquele que a fez.
Continuemos a passagem alicerçados na fé em Deus e na esperança do homem novo, da mulher nova que nascerá. Dias difíceis fazem parte da travessia. Estar em alto mar comporta vivenciar dias claros e calmos e noites escuras e tempestuosas. O importante é não esquecer quem está no barco, quem nos acompanha. Não estamos sós, quem nos
convidou a fazer esta passagem colocou-Se junto a nós no barco da nossa vida.