Os dons são os talentos que Deus coloca e desperta em cada pessoa
Vivemos em tempos de concorrência e de competição, e nos habituamos a buscar o maior rendimento possível de tudo aquilo que fazemos, inclusive, na correria, para passar na frente dos outros. Parece tudo tão normal, até porque, entramos cada dia mais nas leis do mercado, que regem relações entre pessoas, organizações comerciais e países. Acostumamo-nos a conferir as estatísticas, conferimos a tabela dos campeonatos esportivos, queremos que vença o nosso time, sonhamos com o maior lucro dos investimentos bancários. Tudo tão normal que perdemos de vista um elemento importante de nossa vida, e este é dado pela fé que professamos. Trata-se da gratuidade, sinal do amor pessoal com que Deus nos prodigaliza e cuida de nós.
A vida! Ninguém pôde encomendar seus traços físicos, nem o temperamento que lhe foi concedido, as eventuais características recebidas por herança, ligadas à família que temos. Da parte de Deus, através de qualquer circunstância com que fomos gerados, este é o presente fundamental e fundante de todo o resto de nossa existência. Acolher a vida como nos foi dada, aceitar a própria existência, é condição de equilíbrio pessoal e de convivência com as outras pessoas.
As pessoas são diferentes uma das outras
As diferenças! Encanta-me conversar com os pais e mães, quando descobrem muito cedo que os primeiros meses de seus filhos mostram que não são cópias dos mesmos pais, mas possuem temperamento próprio e uma personalidade destinada a se consolidar no correr dos anos, tudo a ser contemplado, admirado e respeitado. A Igreja e tantos batalhadores, têm razão pelo valor atribuído à vida humana, desde a sua concepção, pois Deus foi tão criativo que ninguém é igualzinho, além da dignidade que é própria de todos. Admirar a diversidade entre as pessoas, valorizar a polarização magnífica entre homem e mulher, como Deus pensou e criou, trata-se de um magnífico mistério a ser descoberto durante a vida toda.
Os dedos da mão não são iguais! Afirmação tantas vezes repetida, ainda na família, proporciona a admiração pelas características dos filhos e filhas. Gerar uma criança é a participação no ato criador de Deus, e cada filho ou filha tem um lugar próprio. As comparações costumam ser desastrosas, pois levam a traumas e complexos graves no desenvolvimento da personalidade.
Na Igreja, chamamos de vocação o olhar específico de Deus, com o qual convida as pessoas a contribuírem na implantação de seu Reino. No grande concerto da vida de Igreja, há lugar para todos e existem dons próprios concedidos pelo Senhor, a serem postos a serviço. Não falar de vocação na família, significa privar de um direito humano e cristão fundamental aos filhos que foram dados!
O que são os dons de Deus?
Nestes dias finais do Ano Litúrgico, a Igreja nos oferece a conhecida Parábola dos Talentos (Mt 25,14-30), que faz parte de um discurso de Jesus a respeito da Nova Lei. Antes, a Parábola das Dez Virgens insistiu na proximidade do Reino de Deus, que pode chegar a qualquer momento (Mt 25,1-13). Depois, a Parábola do Juízo Final ensina a tomar posse do Reino no acolhimento aos pequeninos. Na Parábola dos Talentos, aprendemos que o Reino de Deus cresce quando usamos os dons recebidos para servir. Talento é tudo aquilo que faz crescer a comunidade e revela a presença de Deus. O “dinheiro” do Patrão, que é o Pai dos Céus, são os bens do Reino de Deus, o dom gratuito que fazemos de nós mesmos aos outros.
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O que eu sei fazer? Entram aqui todos os talentos e capacidades que nos foram concedidos. Nem todos sabem fazer tudo, mas todos sabem fazer alguma coisa para edificar o bem. Tudo o que é guardado ciosamente se estraga, segundo o ensinamento do Senhor: “Não ajunteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e os ladrões assaltam e roubam. Ao contrário, ajuntai para vós tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, nem os ladrões assaltam e roubam. Pois onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6,19-21). Profissão, capacidade artística ou artesanal, capacidade de ouvir, criatividade, tudo conta nos valores do Reino de Deus.
E o que dizer dos dons que nos possibilitam servir à Comunidade de Igreja? São Paulo nos faz entender: “Vós todos sois o corpo de Cristo e, individualmente, sois membros desse corpo. Assim, na Igreja, Deus estabeleceu, primeiro, os apóstolos; segundo, os profetas; terceiro, os que ensinam; depois, dons diversos: milagres, cura, beneficência, administração, diversidade de línguas. Acaso todos são apóstolos? Todos são profetas? Todos ensinam? Todos fazem milagres? Todos têm dons de cura? Todos falam em línguas? Todos as interpretam? Aspirai aos dons mais elevados. E vou ainda mostrar-vos um caminho incomparavelmente superior”. (1 Cor 12,27-31)
O vinculo que une todos os dons recebidos, o caminho excelente, é o do amor de caridade. “O amor é paciente, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não leva em conta o mal sofrido; não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo. O amor jamais acabará (1 Cor 13,4-7). É o caminho para a vida de família, de comunidade e de Igreja, além de ser fermento inigualável para mudar as relações na sociedade, superando o ciúme, a inveja e a competição desleal, que tanto atraso provocam em nosso mundo e na Igreja. Os melhores dons recebidos se tornem ainda melhores quando oferecidos e doados!