Faça da distração uma oração apresentada a Deus
Ensinaram-nos a considerarmos as distrações como as maiores dificuldades da nossa vida de oração. Nos disseram para vê-las como “marimbondos” que não nos deixam tranquilos quando queremos estar a sós com Aquele que amamos; um empecilho no diálogo, no amor e na vida. Ser distraído foi considerado como algo desrespeitoso naquilo que estamos fazendo. Diante dessa dificuldade comum em todos nós, devemos sem dúvida, redimensionar a nossa atitude frente às distrações na vida de oração.
É preciso tomar consciência de que não somos distraídos somente na oração, mas em todas as atividades. Quantas vezes estamos diante da TV, mas o nosso coração, fantasia e pensamento estão tão distantes que perguntamos a alguém: “De que esse programa está falando?”. Quem de nós nunca esteve distraído no trânsito a ponto de entrar numa rua errada? Podemos ainda citar: quantas vezes, durante o estudo, leu-se cinco páginas e nada reteve na memória porque estava distraído.
O que é a distração?
A distração, portanto, faz parte da nossa humanidade. Ninguém consegue pensar horas a fio no mesmo assunto e argumento. O ser humano é volúvel, tem necessidade de voar a tantos lugares, pensar em muitas coisas ao mesmo tempo. Como a abelha vai de flor em flor e, sem parar em nenhuma, suga o néctar para a sua vida pessoal e comunitária.
Ser distraído pode ser considerado não como um mal, mas como uma forte intuição do amor. Às vezes, pode ser o Espírito Santo querendo recordar-nos algo importante. Quem sabe você está rezando e, de imediato, vem-lhe o pensamento de que se esqueceu de desligar o gás da cozinha. “Santa distração!”. Que leva você a correr e evitar o perigo. Ou ainda, rezando se “distrai” pensando nos pais, nos trabalhos, nas dificuldades, na falta de amor, nas pessoas, então, esse é o momento para você colocar tudo no coração de Deus e transformar essas distrações em motivações orantes para sua vida.
O que fazer diante da distração?
Diante das distrações, temos duas opções: assumir a nossa situação e o que nos vem à mente, ao coração, e fazer de tudo isso oração a ser apresentada a Deus (que é o melhor caminho) ou “chamar de volta” a nossa memória, a nossa atenção ao que estamos meditando. Esse constante esforço é agradável ao Senhor, porque manifesta o nosso amor e a nossa decisão de estarmos atentos à voz do Espírito.
É bom não perder tempo com as distrações, não se deixar atrair por elas, mas saber administrá-las com paciência e alegria. Quanto menos importância lhes damos, menos elas nos perseguem. Esta sabedoria é própria dos santos e de quem quer ser santo. “Pensar”, nos adverte Teresa de Ávila, “o que estamos dizendo e a quem o estamos dizendo. Não seria justo falar com uma pessoa pensando em outras coisas ou com o olhar distante, como quem está cansado da presença do amigo“.
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As distrações podem nos levar à oração
Quando percebemos que estamos “voando por aí”, devemos aprender a voltar “ao assunto” e não permitir que alguém nos distraia do amor que devemos doar ao Amado, que vivamos a frase que diz: “Eu dormia, mas meu coração velava”.
“(…) O intelecto não se fixa em nada, parece frenético, de tal maneira está descontrolado. Quem assim está, verá, devido ao sofrimento que lhe sobrevém, que não é culpado por isso. Não deve afligir-se, porque é pior, nem se cansar em querer trazer à razão a quem não tem, isto é, seu próprio intelecto; reze como puder (…). De nossa parte, o que podemos fazer é procurar ficar a sós e, queira Deus, que isso baste. Para assim, entendermos com quem estamos e a resposta que o Senhor dá aos nossos pedidos. Pensais que Ele está calado? Mesmo que não O ouçamos, Ele nos fala ao coração, quando de coração Lhe pedimos” (Santa Teresa).
Frei Patrício Sciadini, OCD