Você já teve a sensação de estar parado em seu caminho de santidade ou no seu processo de conversão? Se sim, a sua dificuldade pode ser sanada com a ajuda de um diretor espiritual. É fundamental que cresçamos na vida espiritual e no relacionamento com Deus. Dentro da realidade espiritual, sabemos que quando se fala de itinerário espiritual, o cristão, ao parar de crescer, ele nunca permanece no mesmo ponto no qual parou, mas ele regride, porque na vida espiritual, ou se cresce ou se regride.
É Deus mesmo o maior interessado no seu crescimento espiritual, na sua maturidade na fé e, acima de qualquer coisa, na sua salvação. Contudo, sabemos que esse processo não é fácil, pelo contrário, está cheio de dificuldades que podem nos tirar do rumo certo, faze-nos desanimar e até mesmo desistir. Por isso, a Igreja orienta que cada cristão, sempre que possível, mantenha uma relação próxima com alguém mais experiente na vida de fé e que este possa ajudá-lo quando necessário.
Para que entendamos a importância do amadurecimento na vida de fé, é no evangelho de São Mateus que podemos encontrar uma ordem de Deus para nós: “Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). Esta é a meta de todo cristão: sermos a imagem de Deus. Imagem essa que fora maculada pelo pecado e, por isso, tantas dificuldades se apresentam em nosso relacionamento com Deus e, por consequência, com os irmãos.
O que é a direção espiritual?
Vejamos o que é a direção espiritual para que compreendamos a sua necessidade em nossa vida: “A direção espiritual é, sobretudo, um auxílio para o discernimento no caminho da santidade ou perfeição”1. Assim, a direção espiritual deve ajudar a discernir os sinais da vontade de Deus. Essa ajuda pode ser dada por um cristão (diretor) a outro (dirigido), com isso, o dirigido pode ter uma maior atenção à comunicação pessoal de Deus com ele, assim, o dirigido pode responder a Deus numa comunicação íntima e, acima de tudo, a viver as consequências dessa resposta2.
A direção espiritual fundamenta-se também em não sentir-se autossuficiente e, com isso, ter a necessidade de recorrer a alguém. Alguns preferem chamar a direção espiritual de “acompanhamento espiritual”, essa expressão não só serve como sinônimo da direção, como também é complemento para o seu significado. “Fala-se de ‘direção’ porque trata-se de um dirigir no sentido de guiar, acompanhar, orientar pelo caminho da vida cristã, ensinando a corresponder livremente à graça de Deus”3. Esse acompanhamento não quer significar que o diretor retire a liberdade do dirigido, e sim o posto, ele deseja criar um juízo próprio, pessoas maduras, de convicções firmes e docilidade às moções do Espírito.
O que não é direção espiritual?
É importante entender também sobre o que não é a direção espiritual. O aconselhamento pastoral e a direção espiritual são realidades distintas, pois o aconselhamento é esporádico, que traz o desejo por uma sugestão. E que tem suas motivações das mais diversas, quando acabam essas motivações, acaba também os aconselhamentos. A direção espiritual não é fazer pessoas dependentes e sem critério próprio. Também não é feito de ordens e coação, mas é composta de indicações que o diretor espiritual leva o dirigido a perceber. Essa direção é composta por conselhos, sinalizações que respeitam a liberdade e a iniciativa pessoal de cada um4.
É salutar ressaltar que a direção espiritual e o sacramento da reconciliação não são as mesmas coisas. Esse sacramento serve para absolver os pecados, já a direção não perdoa pecados. Também é importante dizer que direção feita esporadicamente não é propriamente direção espiritual. A direção exige frequência e constância. A direção não se trata unicamente de um vomitar de sofrimentos. Embora também possa ser feito, mas que não se resume nisso. A direção também não é exclusivamente um momento para tirar dúvidas doutrinais, mesmo podendo também acontecer. Por fim, e não menos importante, ela não é apenas uma conversa entre amigos.
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A vida espiritual é feita de imprevistos, pois não é possível prever a duração e as dificuldades que surgem no caminhar do dirigido, por isso, para cada momento a ser enfrentado, deve-se procurar o diretor espiritual. E como é sabido por quem dirige outra pessoa, a direção espiritual é uma arte. Contudo, quanto mais treinado e experimentado for o artista, melhor será o seu resultado. Para tal, é necessário buscar um diretor espiritual com algumas qualidades que são primordiais.
Antes de tudo, o diretor precisa ser alguém já experimentado, com mais tempo de caminhada do que o dirigido. Alguém que compreende a ação de Deus em si e no outro. Por isso, é importante que aquele que deseja ajudar o outro viva intensamente a sua própria experiência e, vivendo-a, compreenda sua própria vida para que possa ajudar a outros. Outra característica do diretor é que ele deve ter um certo conhecimento de espiritualidade, pois o caminho será o da direção das almas e isso só se faz com uma íntima espiritualidade.
Segue ainda a necessidade do diretor espiritual ter um fino discernimento. Ele precisa estar atento ao encontro entre a graça e a natureza naqueles que dirige. O diretor, portanto, deve ser capaz de dar conhecimentos básicos e equilibrados que envolvam aspectos essenciais da vida interior, psicológicos, teológicos, morais e espirituais. Mas, acima de tudo, carece ter a certeza de que o Espírito de Deus conhece todos os caminhos, é Ele quem faz a obra com a ajuda do diretor e do dirigido. Por fim, o desejo de santidade deve ser claro no diretor, pois é a proposta que será feita ao dirigido.
Quais atitudes o dirigido deve ter?
O dirigido deve colaborar e dar o seu melhor, ser consciente de que carece dessa ajuda, a sinceridade é importantíssima no crescimento espiritual. A docilidade em seguir as orientações, a perseverança na luta diária, pois será assim que crescerá nas virtudes. Aqui uma fala de Josemaria Escrivá: “Abriste sinceramente o coração ao teu diretor, falando na presença de Deus… E foi maravilhoso verificar como tu sozinho ias encontrando respostas adequadas às tuas tentativas de evasão. Amemos a direção espiritual.”5
Alguns aspectos práticos são importantes para um bom resultado na direção espiritual. O primeiro deles é a frequência. O encontro não deve passar de um mês, pois assim não corre o risco de esquecer ou de deixar de resolver alguma adversidade que tenha surgido. O segundo aspecto é a duração. O tempo de cada atendimento é relativo, contanto que seja aproximadamente entre trinta minutos e no máximo uma hora. E o terceiro é o local. Um local honesto e no mínimo discreto pode ser usado. Sempre deve-se ter diante dos olhos a mãe das virtudes que é a prudência para evitar constrangimentos futuros6.
Como podemos observar, o tema da direção espiritual e da relação do dirigido com o diretor é vasto e poderíamos levar artigos e mais artigos descrevendo seus vários assuntos. Contudo, acredito que o que tentei escrever aqui será de extrema importância para a sua caminhada espiritual.
Referências:
1 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. O sacerdote ministro da misericórdia: subsídio para confessores e diretores espirituais. Vaticano: LEV, 2011, 77.
2 Cf. SANTOS, Manoel Augusto. Curso sobre direção espiritual: elementos para aconselhamento pastoral e acompanhamento espiritual. 2 ed. São Paulo: Cultor de Livros, 2019.
3 Ibid., p. 28.
4 Cf. Ibid., p. 24.
5 Josemaria Escrivá, sulco, 152.
6 SANTOS, 2019.